04 setembro, 2013

Futurologia Pretérita

Querido diário:
Hoje, na página dos artigos assinados de Zero Hora (p.14), tem "Um Elefante na Sala", de Darcy Francisco Carvalho dos Santos. Já li outras coisas dele, um fiscalista, identificado como "economista". Não quero diminuir o valor das proposições ex anta da ciência econômica com aquelas aspas. Nem, talvez, o saber do articulista. Inclusive por não ter ficado satisfeito com meu próprio entendimento do que ele quer dizer no artigo. Em geral, posso adiantar, ele está furioso com o crescimento da população idosa, que gerará, a seu ver, severos problemas:

No Brasil, não se fez nada para alterar a previdência no tocante à idade mínima para aposentadoria. Pelo contrário, fala-se em acabar com o fator previdenciário, que dificulta a precocidade das aposentadorias. Andamos com os olhos na nuca.

Epa, eu nem estava esperando ofensas, inofensivo que sou. Mas, antes desta diatribe, ele diz algo que me levou a pensar na qualidade de certas previsões feitas por economistas (inclusive myself, por que negar?). Diz o articulista:

[...] a redução do número de pessoas em idade ativa [...] terá reflexo significativo na produção e consequentemente na arrecadação de impostos com que serão pagos seus benefícios. 

Fiquei pensando: será que ele nunca pensou que a produtividade pode crescer tanto que ofuscará, sob o ponto de vista do aumento da produção, a redução do número de trabalhadores. Claro que não podemos jurar que haverá enormes ganhos de produtividade nos próximos 17 anos. Mas eu juro, de qualquer jeito. É impossível pensar num capitalismo mundial integrado sem elevados ganhos de produtividade inexoráveis ano após ano.

Mas o articulista não parece desconhecer isto:

Com a população ativa decrescendo, o crescimento econômico dependerá do aumento da produtividade, para o que é preciso melhorar a educação e aumentar os investimentos em infraestrutura. Mas tudo isto encontra a barreira na difícil situação das finanças estaduais.

Eu fico pensando: de que mesmo é que o articulista está falando? Dos problemas das finanças estaduais ou da divisão internacional do trabalho, do dumping social que pode avassalar todos os países ou de uma sociedade mais luzidia, em que haverá maior equidade distributiva e ninguém ficará requerendo que os velhos durem menos, a fim de não prejudicarem as contas da previdência social. É o tipo da coisa que, pensar no futuro com excesso de dependência ao passado, leva a visões completamente desfocadas do presente progressista.

DdAB
Imagem: aqui.

2 comentários:

Bípede_Pensante disse...

É, Profe: como eu sempre entendi(talvez equivocadamente) que o significado de "anacronismo" fosse o erro de se julgar o passado com os olhos do presente, pensei que o título deste post também poderia ser "Anacronismo às avessas".

Adorei.

Bjs,
Brena.

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

Obrigado, B.P.: não faltará oportunidade para eu flagrar um desses anacronismo às avessas. Tem gente que acha que a tendência da produtividade do trabalho é diminuir ao longo dos séculos. Parece que bebem!
DdAB