23 setembro, 2013

"Veja", um Clarão de Esquerda


Querido diário:
Por causa da "Veja São Paulo", como estou vendo coisas de Sumpolo, comprei o exemplar de 18/set/2013, possivelmente já superado pelo n.2340, possivelmente já nas bancas. E que nunca lerei, que não sou de ferro! Mas por que este preconceito contra a pérola da Editora Abril? Eu, que a vi nascer e pensei que fôssemos salvar o Brasil na base da notícia isenta? Eu? Já fiz cada uma...

Pois talvez aqueles sonhos iniciados em 1968 mostraram-se primeiro infundados e agora revigorados, pois vejo-a na esquerda, simpatizante do programa Bolsa Família e cobrando avanços em sua concepção e manutenção (p.108-111). A reportagem chama-se "Sem porta de saída", de Fernanda Allegretti e faz um balanço dos 10 anos da implantação do programa. Vemos números e declarações espantosamente otimistas, levando-nos a crer que o Brasil está praticamente salvo, ou estará:

Em uma década o número [de beneficiários] saltou de 3,6 milhões de famílias para 13,8 milhões. Ao todo, são hoje subsidiados 50 milhões de brasileiros, um quarto da população do país. Nesse período apenas 1,7 milhão de famílias deixaram de receber o auxílio. Os números superlativos fazem do Bolsa Família o maior programa de transferência de renda condicionada do mundo.

Se são mesmo 50 milhões de brasileiros e 1,7 milhão de famílias que dispensaram o programa, estamos tratando de quase 14% dos envolvidos, também um número superlativo. Precisamos criar, com urgência, o Programa Renda Básica, a fim de reincorporá-los! Este ponto de vista, na realidade, é bem mais meu do que da articulista ou de sua revista, pelo que suponho. Penso que, implantado o Renda Básica, tomara que continue assim pelo resto da vida.

Fernanda Allegretti conclui seu maravilhoso artigo de inegável indicação das virtudes do programa, ainda que com 'apartes' mal-humorados aqui e ali. Por exemplo, na p. fala, em itálico:

ADEUS AO TRABALHO Lucinete Nobre mora em Jundo do Maranhão, o município com a maior proporção de habitantes assistidos pelo Bolsa Família. Ela deixou de trabalhar na roça e sustenta a família com os 216 reais que recebe por mês: 'Tomara que continue assim pelo resto da vida'.

Há quem ache muita desfaçatez, com ironia, uma criatura pobre querer pensar em um modelo dinâmico em que sua própria vida seguiria 'pelo resto da vida'. Afinal, quem pensa ela que é? Não é a posição da jornalista Fernanda Allegretti:

Extinguir o Bolsa Família e abandonar as famílias miseráveis à própria sorte obviamente não é a solução. E nenhum governante lúcido ousaria fazê-lo. Mas, dez anos depois, convém buscar um caminho capaz de tirar as pessoas com capacidade produtiva do círculo vicioso da esmola.

Confesso que cheguei perto das lágrimas, ao ver análise tão lúcida sobre o combate à pobreza encetado há anos no Brasil e tão associado com o chamado lulismo. E pensei num caminho capaz de melhorar a situação dos pobres, desses 50 milhões de habitantes e talvez até abarcar ainda outros 50 milhões:

.a. aumentar o valor da bolsa
.b. ir substuindo-a pela Renda Básica Universal, criada pela Lei n. 10.835 de 2/jan/2004, de sorte que as pessoas sejam incentivadas a, além de receber o benefício, trabalhar onde bem entendem, inclusive como a sra. Lucinete Nobre, que poderia dar uns enxadaços lá na lavoura operada pelo marido (com a atual legislação, se ela o fizer, perde o direito e cai naqueles 14% que abandonam o programa. Seria louca?).
.c. e ainda fazer o serviço municipal, convocando os recebedores da renda básica para prestarem serviços comunitários, como jardinagem de ruas e estradas, cuidar de velhos e crianças, e tudo.

DdAB
Imagens daqui. E ontem, aqui em Sumpolo, preparando-me para jantar fora, gastando meu dinheirinho, vi -em posição absolutamente pública- um homem jovem fumando (vi a chama) num cachimbo que (não cheirei, não sou tolo) possivelmente era recheado por crack. Por isto é que me chamam de radical: a única forma de salvar o Brasil é criar salas de consumo com distribuição gratuita da droga para este tipo de 'gente'.

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