17 janeiro, 2012

Mesa, Cama e Fogão

querido blog:
andei estudando uns manuscritos encontrados ao pé do dinossauro, ou o que o valha, descoberto por estas paragens em 2008. naturalmente, não eram manuscritos registrados com a caligrafia do bicharoco, se bem entendo, mas do repórter, ainda assim, transcritas ao jornal que leio diariamente, com exação, digamos, secundária.

pois bem, que encontrei? talvez confunda com o que terei lido à época, mas garanto ter visto apenas ontem, do livro "Nove Novena", de Osman Lins: uns garranchos dos quais poderíamos buscar a tradução como "mesa, cama e fogão". pensei: então aqueles animais tinham hábitos humanos, como nem todas as famílias que abrigam meninos de rua contemporâneos.

.a. mesa: comem no colo, comem no chão, comem nas balaustradas das pontes sobre o fétido (prefeito?) Arroio Dilúvio, comem lixo, comem doce, rapadura, produtos nestlé, garoto, e outros, comem o lixo lançado pelos automóveis de gente de bom coração que lhes dá as sobras do que circula dentro do automóvel (sobra, no sentido de restinhos e também no sentido de que não lhes faltaria um pila, que fosse, para completar o orçamento doméstico).

.b. a cama: o chão, às vezes estrelado por um papelão de material de embalagem dos mais diversos produtos classificados na Nomemclatura Brasileira de Mercadorias

.c. fogão: às vezes fazem fogo debaixo da ponte. este costuma desempenhar mais as funções de aquecedor de corpo humano (no inverno) do que de comida (quatro estações).

come-se mal, dorme-se mal, esquenta-se mal. a família feliz da idade da pedra tem endereço bem longe deste sei-lá-quê-bicho que comeu a bondade e a generosidade dos políticos que por aqui gorgeiam (e que, portanto, não gorgeiam como lá).

DdAB
obviamente a imagem é de conhecimento comum.

2 comentários:

Tania Giesta disse...

Duilio: lendo tua postagem de hoje fiz a seguinte reflexão: por pior que seja a carencia de "Mesa, Cama e Fogão,sempre haverá um jeito de tentar sana-la...o impossível mesmo é a carencia de afeto, o desamor, a violência fisica e moral que muitos seres humanos vivenciam no seu dia a dia.No meu fazer pedagogico deparo-me com uma realidade deprimente e injusta mas, ainda nao perdi a confiança nos meus semelhantes, tento promover esperança para que adquiram o conhecimento e a autoconfiança so assim terao independencia e consequentemente se sentirão felizes ...
Abraços

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

oi, Tânia:
cheguei ao e-mail para colocar um adento, que entra agora. eu ia dizer que o Baney, a Wilma, o Fred etc. viviam muito melhor do que uma boa parte de brasileiros e mundialistas contemporâneos. se me revolto é porque aderi ao motto: "quanto maior a utopia, maior é a exigência".
DdAB