17 novembro, 2009

Theatro São Pedhro e a Ladroagem

Querido Blog:
No sábado passado, li mais uma interessante coluna de Cláudio Moreno no Caderno Cultura de Zero Hora. Fiquei viajando sobre a incorporação na língua vernácula de palavras originalmente em outra língua vernácula, um troço assim. Por exemplo, ele falava que a palavra "mousse", do francês, está incorporada, ainda não se sabendo em definitivo se o falante escolherá atribuir-lhe o gênero masculino ou feminino. Eu mesmo já comi uma musse espetacular e outro musse de cair o queixo.

Outro dia, na revista dos professores da PUCRS, li um artigo de uma professora defendendo o uso de estrangeirismos, se é que todos usam... Ela não queixava-se, mas eu o faço, do deputado (desocupado?) Aldo Ribeiro, do PCdoB, que odeia os estrangeirismos. Ela disse, de um possível diálogo, sobre o paradeiro de Beltrano, um presumido namorado:
-Fulana, como está o Beltrano?
-Deletei.
Não é charmoso? Não, talvez, para o próprio objeto direto da conversa.

O deputado Aldo diria: "Mandei-o para a Sibéria", pois seguem sendo albanistas e stalinistas, um troço assim.

No mesmo sábado, voltei a queixar-me da desfaçatez dessa negadinha que fica mudando as regras ortográficas. Meu ouvinte tornou-se falante: "Me too", em visível provocação aos que odeiam anglicismos, galicismos, mas não o estalinismo... E hoje, preocupado em comprar ingressos para um festival de dança no Teatro São Pedro, vi que mal escrevi: o nome do bichinho é "Pedro", mas o prenome do santo é "Theatro". Então pensei: que dirá o Sr. Google Images sobre "são pedhro". Nada disse. Apenas "pedhro", quase nada, mas há blogs. Creio poder tratar-se de um termo em língua estrangeira, um estrangeirismo made in Índia ou alhures. Agora, entre nós, alhures é casca! Logo, decidi começar a chamar o concorrido teatro de "Teathro São Pedhro", como sugere o título desta postagem, pois roubaram-lhe a ele, a nós, à Baía de São Salvador, e a tudo o mais os milhares de livros que já foram para o opróbio porque o Sr. Evanildo Bechara e seus sequazes gostam de enviar a mão no bolso do povo.

De minha parte, fiquei viajando com este "delete" e "deletar", primeira conjugação. De modo análogo, supus que Moreno esteja implicando que a tendência geral, evidentemente vasada de exceções, é incorporarmos os substantivos encaçapando-os no gênero masculino. E a viagem 2 foi pensar que "to access" está incorporado como "acessar", mas um dia escrevi: "assessar", rimando com "assessorar", por contraste ao outro dia em que escrevi "acessar", rimando com "aceder". E "vasado" é "vazado"? Nunca lembro.

Ainda assim, o povo gosta de estrangeirismos e os utiliza como bem quer. A efígie de hoje lembra um chimango:

Nâo é passo de bicho estrangeiro
De girafa ou canguru
O chimango é brasileiro
Brasileiro prá chuchu.

Ou não é?
DdAB

2 comentários:

Anônimo disse...

Não sou membro da Academia, mas acredito que se esquecem do real objetivo da língua, comunicar. Se há conexão entre quem fala e quem ouve a língua cumpriu seu propósito.

Na verdade o medo do estrangeirismo é o complexo de ver mais uma vez os povos do velho mundo dominando a nossa cultura.

Mas não acredito que isso fará diferença, se o povo (maioria) utiliza, quem são os estudiosos para dizer que está errado?

Abraços

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

certo, Daniel: eles são apenas uns chatos. também apoio tua crítica à mania de endeusar os europeus. ouvi muita gente dizendo que falamos o "brasileiro", mas parece que nos sentimos superiores se dissermos que falamos o "português", uma língua européia.
DdAB