Esta foto (http://www.portoimagem.com/), editada por meus maravilhosos conhecimentos de Paint, PhotoShop, Shopping Photographs e por aí vai, dá a seus observadores a sensação de um dejà vu australiano. Pois não é: trata-se mesmo de uma provinciana iniciativa de sabe-se-lá-que-grileiros-porto-alegrenses. Sabem lá alguém, claro.
De minha parte, tenho algumas lições a tirar desta iniciativa. Como em qualquer outro segmento tridimensional do mundo que nos cerca, a rivalidade na ocupação é a realidade inarredável. Minha leitora saberá que "rivalidade" (ou não) é um atributo de bens como o bife ou o fio dental. Isto quer dize que, se alguém come determinado bife, rivalizou com meu próprio consumo, que não poderá ocorrer, pelo menos não o daquele bife específico. Haverá (ou não) outros bifes que encherão meus dentes, também requerendo um fiapinho exclusivo de fio dental. Contra-exemplo: a segurança pública. O fato de eu consumir estes edificantes serviços públicos não reduz sua disponibilidade para terceiros. Ou seja, se há um aparato que garante a seguranpa pública, então tu e eu estaremos infensos a assaltos (e não me refiro aos da Profa. Yeda Rorato Crusius), mas aos que deveriam ser evitados pela governadora, pelo prefeito, por tudo que é santo, que ninguém assume responsabilidade alguma neste país, o que faz dele, país, uma desgraça de cima a baixo. Nem bispos há em quantidade ofertada razoável para receberem o número adequado de queixas: queixem-se aos bispos, dizem os políticos. E os bispos: queixem-se aos cardeias, estes encomendam o Papa e este, claro, manda para o Obama, que os EUA terão mais pontais do que o Vaticano.
Minha leitora também saberá que estou dizendo que, se a burguesia apropria-se de um trecho de praia, da mesma forma que algum mendigo apropria-se de um quarto-e-sala-debaixo-de-ponte, a rivalidade é -dentro de critérios razoáveis de comparação- a mesma. Em outras palavras, se o espaço que edificará o Pontal (para alegria de alguns apaniguados e mesmo de outros inocentes úteis) for apropriado por A será fisicamente impossível que B também dele se aproprie. Se meu barco estiver antecipado na foto, teu barco não estará no lugar do meu. Se a entrada de mendigos for proibida, isto estará abrindo espaços para não-mendigos. E, claro, se a entrada de não-mendigos for proibida, isto estará permitindo transformarmos todo aquele espaço no Centro Municipal de Reciclagem Humana.
Mas -digo isto apenas com caráter contingente- o que está errado é que os Profs. Yeda e Fogaça não proibam a existência de mendigos. O coronel-chefe da Brigada Militar, um nicho de partidos políticos, logo partícipe do binômio ladroagem-incompetência, diria: ok, pau neles, pena de morte, expulsão para grotões os mais distanciados possível de Porto Alegre. Claro que eu temo discordar do "chefe", pois minha idéia de extermínio de mendigos é um tanto diferente. Se o problema basicamente da mendicância é a busca de uns $$$, diria que acaba a vadiagem se os subornarmos com $$$, para eles incorporarem-se a uma atividade que lhes possibilite existência digna.
Na verdade, meu ponto de vista é:
a) primeiro a existência digna
b) depois atividade que "agregue valor" para a sociedade. [Gostaste desta do "agregar valor" ao mendigo e este à sociedade?].
O que penso e que duvido que os detratores das edificações a serem feitas, em prejuízo dos pobres, dos mendigos e mesmo de muitos ricos, pelas razões tridimensionais que mencionei (um corpo ocupa um e apenas um lugar no espaço euclidiano convencional), é que não devemos estar discutindo o problema da alocação do espaço específico do Pontal Aprivatado. Ao contrário, devemos concentrar-nos no drama do mendigo, invejoso das benesses usufruídas pelo Dr. Fogaça e sua corte, pela Dra. Yeda e sua corte e pelos demais milhares de sinecuristas que infestam as costas do grande camarão Brasil e suas digníssimas e engomadíssimas famílias. Entre eles, claro, o desembargador Marco Aurélio Leal, essa peça de raro tirocínio para as atividades de, como disse um ladrão amigo um dia destes, rent-seeking.
Ficou clara minha posição? Totalmente favorável à transformação daquele eito mal-enjambrado (como diria a cadela Baleia) em uma réplica de Sydney. Não tenho dúvida de que, uma vez Sydney, sempre Sydney, o que começará com um corridão na alcatéia de rapazes (e garotas) encastelados nas costas do Brasil. E teremos os mendigos transformados em desembargadores. E o Dr. Marco Aurélio transformado no que deveria ser: um louco amansado por anos e anos de tratamento e medicação adequados.
beijos
DdAB
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