07 novembro, 2008

Água mole...




Querido Blog (e sua raiz quadrada):
Imagem de hoje disponível em:
http://www.um.pro.br/avalovara

Cara, bicho, gente: um espanto este site de um/a professor/a que ainda não identifiquei, digo o nome, não o site, you know...

Minha postagem de hoje enquadra-se em 32 roteadores. Destaca-se o core econômico, mas há derivativos pela história da arte, pois parece-me que clepsidras, caleidoscópios, ampulhetas, livros que contêm todos os demais livros (George Lewis Borroughs, con su Aleph, seres imaginários but avalovara) e, naturalmente, avalovara ou outras e infinitas variações sobre o todo e suas porciúnculas são apenas manifestações de nossa pequenez ou grandeza, chi lo sa?

Então vamos à postagem do economês. A referência original encontra-se em:
www.portfolio.com/interactive-features/2007/12/cdo.

Todos sabemos que “avalovara” é uma ave formada por aves. Se uma despenca -penso eu-, nasce-lhe uma penca que, naturalmente, converge ao Uno. Ou seja, na versão “hard” não há avalovaras -nem mesmo avalovarinhas, senão apenas uma e apenas uma avalovarona.


Parece que eu já vira esse... esse (como é o nome daquilo?). Gráfico? Não lhe dei muita atenção, pois o economês é o tradicional e a crise americana me parecia distante. Claro que o conteúdo explica muito mais do que a crise, creio. A própria crise terá pilhas de explicações, muitas divergentes. A minha explicação é extremamente monetária, como vou falar rapidamente e depois complementarei com considerações sobre o "modelo hidráulico" que lá apresento.

Explicação extremamente monetária:
Primeiro: por que acho que especificamente esta crise é financeira, mas não propriamente monetária. Primeirinho: o dinheiro não existe, no sentido de expressar uma correspondência perfeita entre estoque de moeda (termo em economês para designar o que entendemos por dinheiro mesmo: $$$, cédulas na carteira, saldo no banco, sacos de soja usados como dinheiro, e por aí vai, ou seja, tudo o que é aceito por um agente pagador e outro receptor como dinheiro então é dinheiro mesmo). Segundinho: existe uma equação básica dos cursos de introdução à economia chamada de "equação quantitativa da moeda", que informa simplesmente que o dinheiro que circula na economia corresponde ("é idêntico", diriam os matemáticos) à riqueza gerada em cada unidade de tempo (um dia, um mês, um ano).

Segundo: uma crise monetária ocorre quando existe descompasso entre o estoque de moeda (as nossas cédulas da carteira e nosso saldo bancário, mais uns títulos do governo federal que andamos comprando com o dinheirinho do décimo terceiro salário adiantado em julho e que queremos despender apenas em fevereiro...) e a produção de bens e serviços em um período. Ou seja, no funcionamento normal do sistema, o estoque de moeda cresce "mano-a-mano" (diremos em nosso show de tangos) com a geração de riqueza (ou seja, os bens e serviços de que acabo de falar). Quando o governo emite discricionariamente:
a) ou algum agente entesoura este dinheiro adicional
b) ou haverá "excesso de liquidez" na economia e, com ele, um descompasso entre o dinheiro na mão (e contas de bancos) das pessoas e os tais bens e serviços.
Este descompasso do item b) vai fazer com que a sociedade entenda que "há mais dinheiro do que bens disponíveis". E o recompasso (?) será alcançado com a elevação dos preços das mercadorias mais sensíveis ao que chamarei de "excesso de demanda".

Por seu turno, o mercado de títulos (alguns dos quais objeto de gasto de nosso décimo terceiro de julho...) tem apenas um grau limitado de correspondência com os bens e serviços gerados no período. Essencialmente, o que se reflete no mercado de títulos é o valor do estoque do capital comercial da economia (isto é, não estamos medindo o valor das estradas ou pontes, mas apenas prédios, carros e marcas, à la coca-cola). Vou fazer duas analogias, agora.

Primeira analogia: se a equação quantitativa da moeda é MV = PQ (M-moeda; V-quantas vezes ela circula por unidade de tempo, sua velocidade, P-nível de preços e Q-produto interno bruto), podemos pensar que no mercado financeiro também haverá uma identidade entre pT = iK (p-preços dos títulos, T-volume de títulos, i-preço do capital e K-estoque de capital).
Segunda analogia: de modo análogo à relação entre o descompasso entre o estoque de moeda (em circulação) e a produção de bens e serviços do período -que estoura nos preços na equação MV=PQ-, haverá um descompasso entre o preço dos títulos na equação pT=iK. O que acontece no mercado financeiro é que, volta e meia, este p (preço dos títulos, especificamente, as ações das empresas transacionadas na bolsa de valores) estoura, vai para as nuvens. E depois, se o preço do estoque de capital não estoura, o equilíbrio desta equação contábil vai verificar-se com a redução dos preços dos títulos novamente. Isto ocorreu visivelmente nas crises de 1987 e 1997.

E também é a previsão que faço para a crise de 2008: uns 15 trilhões de dólares desaparecendo do planeta. Como eles nunca existiram mesmo, seu desaparecimento não terá conseqüências muito sérias sobre as variáveis reais. Entre 1929 e 1933, o PIB americano caiu quase 30% (i.e., 29,5%), entre 1944 e 1947, outros 25%. Depois disto, nunca mais houve quedas expressivas (só em 1982 e 1991) . Pode haver, claro, mas duvido! Como vês, nas grandes crises financeiras do Japão (1987) e dos Tigres (1977), o nem falei de queda no PIB americano.

Modelo hidráulico:
Uns chamam aquele "gráfico" de "modelo hidráulico", pois ele retrata nossa intuição de como corre a água entre vasos comunicantes (não sem bem quem inventou isto; talvez até tenha a ver com Paul Samuelson, prêmio nobel de economia. Ou, se transformarmos a água em sangue, teremos o que os economistas fisiocratas (Monsieur François Quesnay sendo médico). A este os economistas chamam de "fluxo circular da renda", a idéia sendo que a renda circula na sociedade como o sangue irriga o corpo humano. Esta analogia é boa. O que não é tão lá bom (tive que recorrer a Labão, para não falar em "lá tão bom", o que evocaria o "latão bão" exclamado pelo menino de rua mineiro, ao deparar-se com a lata de lixo do "Bar e Restaurante Pampulha") é o que muita gente tem feito nas análises da crise financeira americana contemporânea, pensando que a pura queda nos preços das ações nas bolsas -ela própria- é a queda no PIB.

Ou seja, misturando a explicação hidráulica com as equações acima (MV=PQ e pT=iK), eu diria que podemos conceber movimentos em pT, sem que haja qualquer movimento em PQ. Obviamente, o observador interessado há de preocupar-se com a relação entre o estoque de moeda e a renda (algo como M/Q) e também com a nova equação pT=iK. Sempre soubemos que Q/iK dá a taxa de lucro, mas o que agora temos a oportunidade de ver é que a relação Q/pT também pode levar-nos ao nadir ou ao zênite, dependendo de nossa posição inicial e suas (das posições) de contorno. Se este parágrafo não é economês, então minha avó é (ou foi) bicicleta.

Minha previsão para a presente crise é que haverá elevação de P (e já houve monumentais quedas em p, mas eles subirão um pouquinho para compensar a elevação que vai ocorrer em i), elevação no desemprego (não só nos próximos meses, mas principalmente daqui a dois ou três anos) e oscilações não muito gritantes em Q. Se nada disto acontecer e me cobrares daqui aos dois ou três anos de que falo, prometo rasgar outro xerox colorido de meu diploma de doutor!
bye now

DdAB
Em 20 de junho de 2019, coloquei esta imagem. É Hobbes com o homem feito de homens.
Leviathan by Thomas Hobbes.jpg

E, em 18 de junho de 2020, quinta-feira, passei por aqui e lembrei do livro de Osman Lins, "Avalovara" (aqui e eu em duas ou três postagems), uma ave composta por aves. E fui à Wikipedia, pois não tenho até agora certeza de que foi mesmo nosso colega economista Lins que criou o conceito. E aí achei na Wikipedia:
Ergodic literature is a term coined by Espen J. Aarseth in his book Cybertext—Perspectives on Ergodic Literature. The term is derived from the Greek words ergon, meaning "work", and hodos, meaning "path".[1] It is associated with the concept of cybertext and describes a cybertextual process that includes a semiotic sequence that the concepts of "reading" do not account for.em que o Osman é citado nominalmente.
abcz

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