31 dezembro, 2020
Um Final de Ano para Lembrar
28 dezembro, 2020
Natais de Paz e Amor entre 1946 e 1967 (e pau na cabeça dos despossuídos)
Seguindo minha trajetória rumo à profissionalização, no primeiro semestre de 1968, cursei, entre outras, a disciplina de "Instituições de Direito" do curso de graduação em economia da UFRGS. Claro que os professores (um bando de cabotinos) rezavam pela constituição da república produzida pelo congresso nacional. Já naquele tempo, o congresso fora descaracterizado por montes de cassações e declarado editor de um projeto feito por juristas de respeito, respeito dos militares, esbirros da ditadura. E a constituição de 1967 era tão liberal, para gosto dos mandantes que em menos de dois anos foi substituída por outra, um tanto mais, digamos, circunspecta. E, naquele tempo, jornalistas-humoristas amados pelos brasileiros de minha geração criaram um jornalzinho chamado "O Pasquim" que, usando o nome tradicional da república "Estados Unidos do Brazil" (ou melhor, Brasil, que o nome já fora trocado durante a ditadura civil), passou a chamar a república de Brasil dos Estados Unidos. Os militares odiaram e na tal constituição de 1967 mudaram o nome para República Federativa do Brasil, nome que sobrevive, como sabemos, até hoje.
No segundo semestre daquele ano de 1968, dia 14 de dezembro (um sábado), estava eu sentado no murinho da Av. João Pessoa, 52, acompanhado de alguns colegas diletos. Eles aguardavam a abertura do Restaurante Universitário, do outro lado da rua, para o almoço. Foi então que alguém falou que os militares estavam baixando com data da véspera o Ato Institucional número cinco, talvez o mais truculento daquela fieira.
Mas a prova de que o mar já não estava mais para peixe vem mesmo da constituição de 1967, que removeu o artigo 145 da constituição de 1946:
Art. 145. A ordem econômica deve ser organizada conforme os princípios da justiça social, conciliando a liberdade de iniciativa com a valorização do trabalho humano.
Parágrafo único. A todos é assegurado trabalho que possibilite existência digna. O trabalho é obrigação social. [o grifo é meu]
E nem vou falar no artigo seguinte, que dá papel de relevo ao governo como condutor da política econômica. Quero focar mesmo é nesse traço de assegurar à população trabalho que possibilite existência digna. Claro que nossos governos, nossos governantes, nunca pensaram nisto. Aquela constituição de 1967 contempla a palavra "emprego" dez vezes. Nenhuma tem o significado de garantir emprego a tod@s. Em compensação, a lei 10.835/2004 garante a todos uma renda básica da cidadania, um rendimento incondicional, que nem depende de emprego e que garanta existência digna. 2004? Segundo governo Lula. E garantiu? Não garantiu nada e até hoje ninguém fala deste projeto, nem com aquela "renda Brasil" que o governo Bolsonaro chegou a acenar.
E por quê meus dedos jamais vão cansar-se de digitar loas (loas, eu disse "loas", porca pipa?) ao igualitarismo? Por que é apenas na sociedade igualitária que o emprego é importante. Aliás, a causação roda pelo contrário: numa sociedade em que há emprego para todos, o igualitarismo é uma consequência natural. Dando empregos, a sociedade (o artigo 145/1946, na verdade) terá o governo como empregador de última instância. E, para oferecer empregos decentes, o governo deverá assumir um caráter social-democrático, produzindo ou provendo bens públicos (como a segurança e o saneamento) e bens de mérito (como a educação e a saúde). E, ao fazê-lo, por exemplo, na educação, estará criando empregos para professores, bibliotecários, dentistas, cozinheiros, motoristas, pedreiros, uma enorme cadeia de profissões que irão depender do gasto em educação. E mais em saneamento, pedreiros, engenheiros, cozinheiros, etc. Produzindo segurança pública, teremos investigadores, detetives e juízes decentes. Estes mandarão os filhos ao curso de clarinete. O professor de clarinete mandará o filho à Disneilândia. E assim por diante.
DdAB
P.S. A imagem é de um par de trabalhadores. Aliás, Rachel não é trabalhadora, pois não é humana. E o próprio "caçador de androides", dizem, também seria um androide. E será que eles teriam direito a um emprego que lhes possibilitasse existência digna?
17 dezembro, 2020
Segunda Piada e mais uma Extra
Postagem dedicada a Carlos, Eduardo e Flávio
(você sabe o sobrenome comum)
16 dezembro, 2020
Zorro, Tonto e a Desigualdade
Se não cansei de falar, meus/minhas leitor@s certamente já cansaram de ler que me declaro especialista em introdução à filosofia. O que raramente falo é que também me declaro especialista em histórias em quadrinhos dos anos 1955-1963. Gato Félix, Luluzinha, Pinduca, Fantasma, Mandrake e, naturalmente, Zorro, além de muitos outros. Mas não foi daquele tempo que li a reprodução de um diálogo entre este (capital) e o índio Tonto (trabalho).
Hoje mesmo, querendo saber a origem do diálogo que vou publicar em instantes, no momento citado de memória, andei brincando de olhar a internet, nada achando de interessante. Fui então à -como chama minha colega Brena Fernandez- Britannica Paraguaya e achei explicações divertidas que joguei no P.S. lá sob minha assinatura. E -olha daqui, busca dali- confirmei que "Zorro" é mesmo a palavra em espanhol para "raposa". E nosso herói representando, a meu ver, o capital, é assim chamado, pois -da mesma forma que certas raposas- usa uma máscara que não o impede de ver, falar ou respirar e... saquear galinheiros.
Interessa-nos então saber que "Tonto" não é tonto, mas um rapaz de elevada consciência de classe, sabendo com inteligência a hora de cooperar com os opressores e a hora de distanciar-se deles. Chamá-lo de "wild one", que traduzo por "bravio", como aponta o P.S. não é ofensa: Tonto não é tonto, é bravio!
Segue-se logicamente que o diálogo a que me refiro rola nestes termos:
Desagradabilíssimas circunstâncias levaram Zorro e Tonto a ficar cercados por índios inimigos e ferozes, habituados a fazer espetinhos de carne humana para comer com farofa e jogar os restos (dos espetinhos) para a cachorrada. Então, Zorro, coçando a cabeça com um garfo, já sem munição, sem querer desanimar o amigo Tonto, confidencia-lhe:
-Tonto, amigo de vida inteira, nós estamos cercados pelos índios dos espetinhos.
Tonto olha para o capitalista, em seguida, olha para os sitiantes que, confirma, são os irmãos explorados e filosofa em voz alta:
-Nós, quem, cara-pálida?
Desnecessário dizer que a piada acabou e eu, com este triste (?) finale, acabo a postagem. Antes, porém, deixo claro que aquela frase da figura é divertida, mas inexata. Assim como a origem cultural diferencia Zorro e Tonto, ou seja, nós e eles, naqueles "eles", moram os mais malvados capitalistas, os mais desabotinados ladrões de merendas e, mais modernos, ladrões de vacinas, EPIs, etc.
DdAB
P.S. Olha a Wikipedia sobre "Tonto":
Tonto is a fictional character; he is the Native American (either Comanche or Potawatomi) companion of the Lone Ranger [o nosso Zorro], a popular American Western character created by George W. Trendle and Fran Striker. Tonto has appeared in radio and television series and other presentations of the characters' adventures righting wrongs in 19th century western United States.07 dezembro, 2020
O Voto Facultativo
Anos atrás, uns 35, pelo menos, despretenciosamente, ao empinar umas biritas com os amigos num bar das redondezas, falei que achava óbvio que o voto obrigatório no Brasil era um atentado à imperfeita democracia que por estas bandas grassava. Qual não foi minha surpresa ao ver a reação de dois ou três pinguços, dizendo que, ao contrário, o voto obrigatório é que fazia a democracia brasileira ser ativa: todos, pobres e ricos, são obrigados a votar. Eu apenas argumentei que o voto facultativo é ainda mais parte da democracia brasileira, pois também neste caso: todos não são obrigados a votar. A conversa evoluiu para mais um pedido da cangebrina e uns croquetezinhos que faziam a fama do boteco.
Em compensação, hoje o jornal divulga que "o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),o ministro Luis Roberto Barroso, admite que o voto facultativo no Brasil tem se tornado facultativo."
Segue o velhinho:
-Acho que o voto hoje no Brasil é praticamente facultativo porque as consequências de não votar são pequenas. Por isso, um comparecimento de mais de 70% durante a pandemia merece ser celebrado. Acho que a gente começa a fazer uma transição. O modelo ideal é o voto facultativo, e em algum lugar do futuro não muito distante ele deve ser - comentou o ministro.
Até aí parece a coisa mais óbvia do mundo. Mas nem tanto:
-Acho que a democracia brasileira vem se consolidando, mas ainda é jovem, e portanto ter algum incentivo para as pessoas votarem é positivo.
Quem procurar no motor de busca deste blog (canto superior esquerdo) a expressão "voto facultativo", verá algumas postagens discutindo mais amplamente o tema candente. Voltei a ele no dia de hoje, pois achei interessante o ministro falar em tendência nacional à adoção do voto facultativo. E achei coisa de louco dizer que o brasileiro não está preparado para votar. Se o verbo é "achar", acho que o verdadeiro problema do Brasil é a desigualdade. E a causa causans é a impunidade que grassa no país, tendo por tutores precisamente os juízes e ministros dos diferentes juizados e tribunais. Não era óbvio que esse tribunal eleitoral deveria cassar os eleitos que, enquanto candidatos, mentiram com promessas irresponsáveis?
DdAB
P.S. A imagem, descontado o mau gosto, ilustra uma piada que inventei agora para sua legenda: "Eleitor sendo obrigado a votar".
01 dezembro, 2020
Melo, a Vaca e o Igualitarismo
Melo, como sabemos, é o prefeito-eleito de Porto Alegre, uma fulgurante manifestação de falsa consciência por parte da, como dizem os britânicos, lower class. Como pode a classe baixa (em tradução livre...) votar num programa claramente contra os interesses precisamente dos pobres?
Só pode ser falsa consciência? E quem sou eu para dizer quem tem falsa consciência? Eu sou o discípulo da profa. Izete Pengo Bagolin que me ensinou: basta fazer um teste contrafactual. Indaga-se ao pobre se ele estaria melhor num projeto social-democrata do que no status quo ante. No caso, não seria "ante", mas depois. Imagine o pobre como estará no final do governo, digamos. E se ele preferiria viver naquele mundo paradisíaco que apenas as sociedades igualitárias podem oferecer. E parece óbvio que o pobre vai dizer que esse programa vencedor na eleição, com seu aval, é palha... Esse programa fê-lo (eu disse, 'fê-lo', por todos os reacionários do inferno...) piorar de vida: mais assaltos, mais descaso na saúde, mais escolas fechadas e mais promessas de esgoto (se lembro as quatro áreas de que falei ontem, segurança, saneamento, educação e saúde). E há milhares de outras áreas em que a diferença entre uma administração igualitária e outra liberal é gritante.
E que vaca é esta de que falo no título? Pois não fui capaz de ler uma entrevista inteirinha publicada no jornal Zero Hora, página 9, de hoje. Mas a manchete reza (reza, hein?):
Não vou aumentar a máquina pública, nem que a vaca tussa.
Convenhamos. O cara não quer sociedade igualitária, o cara não quer ver pobre empregado, quer ver pobre na pobreza, a lower class sem fazer sombra para a upper class, um mundo distópico de fazer inveja apenas ao... Brasil...
O senhor Melo não é capaz de entender que a máquina pública é o lugar em que tem papel o governo como "empregador de última instância". Quer dizer, dada a relação capital/produto de uma economia moderna e mesmo de outra subdesenvolvidinha como a brasileira, não há capital para empregar, no caso patrício, 25 milhões de trabalhadores que hoje detêm empregos precários.
Sendo as instituições mais fortemente encarregadas de agregar as preferências sociais no mundo econômico formadas pelo trio mercado-estado-comunidade, se o mercado não é capaz (nem quer, por sinal) dar emprego decente a todos, só nos restam a comunidade e o estado. Pelo tamanho, pelo controle dos recursos, o mais viável é o mercado, mas -se a vaca tussir- na visão ingênua de muitos governantes, a comunidade, com seus empreguinhos voluntários, poderá empregar esse contingente que, no Brasil, estimo em 25 milhões de "contribuintes".
Por que o emprego é a variável chave da sociedade igualitária? Imaginemos um presidiário dos dias atuais, internado numa sala cheia de colegas presidiários, todos respirando os mesmos aerosóis e comendo a mesma boia um tanto desagradável. Que papel teria ele a exercer numa sociedade igualitária? Primeiro, a construção civil ficaria feliz em fazer mais milhares de celas de cadeia para dar abrigo ao monte de farrapos humanos que se empilham nas cadeias. Com mais cadeias, também podemos pensar que em muitas delas poderão ser trancafiados os políticos ladrões que grassam de norte a sul e de leste a oeste neste querido Brasio.
O preso ideal (no sentido weberiano...) tinha dor de dente, ou dentes podres? Então os empregos de dentistas iriam crescer, os de auxiliares de dentistas, também, os de produtores de produtos dentários, também, os da transportadora do dentista e dos produtos dentários, também, os das empresas de manutenção dos equipamentos dentários, também, os da indústria de reparação de viaturas usadas no transporte dessa turma toda, também. E guardas, pessoal do restaurante, com ingredientes de qualidade, fogões de qualidade, panelas de qualidade, roupeiros de qualidade, lavadeiras de qualidade. Campos de futebol de qualidade, professores de qualidade, caixas de jogos de xadrez de qualidade, livros de filosofia de qualidade. A cadeia seria transformada num pólo gerador de empregos e mais empregos, deixando felizes aqueles até então desempregados que iriam absorver essas tarefas. E, claro, os presos, formados em filosofia, xadrez ou culinária (de qualidade) iriam mudar seu comportamento agatunado. Inclusive porque haveria mais repressão e tanto crime como o de Brasília e do resto do Brasil seria reprimido com vigor.
E as crianças e suas escolas, seus centros comunitários, hospitais, creches, ônibus? Também seriam pólos de geração de empregos para oferecerem-lhes bens e serviços que as tornarão adultos decentes, detentores de empregos decentes, capazes de votar decentemente. O paraíso? Não, ainda não falei das grávidas, dos velhinhos, da maioria negra, das minorias LGTBI+, das minorias índias, judias, tudo. O paraíso!
DdAB
P.S. Imagem daqui. Como podemos ver, uma vaca moderna, usando sua mascarazinha, ao contrário de milhões de brasileiros e demais terráqueos, pois sabe que, ao tossir, lança perdigotos sobre o prefeito preocupado com sua condição pulmonar.
30 novembro, 2020
Manuela 1 x 0 Cidade
Estou certo que a cidade perdeu a eleição para Sebastião Melo. A cidade, com todas as intermediações colocadas pelas circunstâncias aziagas do confinamento da população por causa da pandemia covid-19, não entendeu que precisava ir votar para eleger Manuela d'Ávila. Não elegeu Manuela, dando-lhe apenas 45% dos votos, relegando a Melo os demais 55%. É casca!
O 'pombrema', como ouvi no rádio da boca de Melo, é a falta de educação. Dele, em sua campanha e em sua militância. No dizer de Simon e Garfunkel, "lack of education". E, no dizer de Tony Blair, faltou a pelo menos 6% dos eleitores de Melo mudarem o voto: education, education, education. Não é pouco: três vezes sem educação geraram um povo anão. E o nanismo grassou por todo o território nacional. Eu diria isto se Manuela tivesse ganho? Estaria em outro clima, claro, mas não desprezo a preocupação com a construção "da manhã desejada".
E por quê education, education, education? Já falei inúmeras vezes: mal cheguei em Oxford para fazer meu doutorado, ouvia muito rádio, a fim de melhorar meus ouvidos, e entendi alguém dizendo: "apenas com educação é que vais descobrir teu objetivo na vida e angariar forças para lutar por ele!"
E que mais? Mergulhado na tristeza que me infligiu a derrota, fui procurar alento nos livros, sempre os livros, livros, livros. Ainda no trancão da pandemia, achei entre meus guardados o seguinte:
LESSING, Doris (c. 1980) O carnê dourado. São Paulo: Círculo do Livro. 626p. Tradução de Sônia Coutinho e Ebréia de Castro Alves.
E, na introdução do romance cuja leitura estava iniciando após a derrocada de mais um sonho de mudança, defrontei-me com a rima a este mote da education, education, education. Nossa amiga Doris falava, na página 15 infra, limitação que a educação provoca num expressivo grupo de críticos literários:
Como na esfera política, ensina-se à criança que ela é livre, é democrata, dispõe de vontade própria e mente livre, mora num país livre e pode tomar suas próprias decisões. Ao mesmo tempo, ela é prisioneira das suposiçoes e dos dogmas de sua época, que ela não questiona, porque nunca lhe disseram que eles existiam. Quando um jovem chega à idade em que precisa escolher (continuamos a aceitar, sem discutir, que a escolha é inevitável) entre as artes e as ciências, costuma escolher as artes porque julga que nesse campo há humanidade, liberdade e opção. Ele não sabe que já se amoldou a um sistema, não sabe que a própria escolha é resultado de uma falsa dicotomia enraizada no coração de nossa cultura. Os que o percebem e que não querem submeter-se a mais padrões temdem a ir embora, num esforo meio inconsciente e institintivo de encontra tudas as nossas instituçoes, que vao desde a polícia até a academia, desde a medicina até a política, prestamos pouca atenção às pessoas que se afastam - um processo de eliminação que prossegue sem cessar e que exclui, muito cedo, os que são originais e reformadores, deixando os atraídos para uma coisa porque é isso o que eles já são. Um jovem policial abandona a polícia porque afirma não gostar do que tem de fazer. Um jovem professor deixa o ensino e abandona o próprio idealismo. Esse mecanismo social ocorre quase sem ser percebido, mas é uma força poderosa na manutenção rígida e opressiva de nossas instituições.
Bonito, né? Terrível, né? Ainda assim, um tanto alheio à realidade brasileira tão avara em prover à população bens públicos (segurança, saneamento, etc.) ou bens meritórios (educação, saúde, etc.). Ou melhor, a realidade é que é avara em deixar de prover coletivamente essas amenidades.
E, claro, não estamos falando do eleitorado porto-alegrense, pois aqui a "plebe rude" não é ensinada at all. Temos uma plêiade de analfabetos funcionais que nunca leram este blog nem qualquer outro ou qualquer outro livro e menos ainda estudaram introdução à filosofia naqueles belos livros de que tenho falado e que fazem parte -exatamente- do ensino médio. Ou seja, há ensino raso, se é que há. E, para não fazermos feio na eleição que -tomara- se avizinha para 2020, precisamos de
education, education, education.
DdAB
P.S. das 18h18min de hoje mesmo... Não sei se deixo claro que, para entender os confrontos que alguns podem chamar da polaridade esquerda-direita, falo em social-democracia (e a promoção da sociedade igualitária) e neo-liberalismo (que quer estado mínimo, venda do patrimônio estatal, essas coisas). E por isso mesmo é que não posso conceber que a -então assim chamada- social-democracia é incapaz de convencer os 90% mais pobres que eles, ao romper suas cadeias ideológicas, "não têm nada a perder, mas um mundo inteiro a ganhar"...
28 novembro, 2020
Engels: 200 anos
Hoje completam-se 200 anos do nascimento de Friedrich Engels (28 de novembro de 1820 – 5 de agosto de 1895). Pela foto que nos encima, parece que ele é 200 anos mais novo que o carinha a sua esquerda. Mas não é! Karl Marx nasceu em 05.05.1818, ou seja, dois anos e meio mais velho que Engels. Hoje parece-me que a dupla Marx-Engels só perde em popularidade para Lennon-McCartney, se não exagero. Na economia há outras duplas famosas: Hall-Hitch e Sweezy (teoria da curva de demanda quebrada) , Keynes e Kalecki (princípio da demanda efetiva), Joan Robinson e Edward Chamberlin (teoria da concorrência monopolística). Paolo Sylos-Labini e Franco Modigliani (teoria do preço-limite), Harrod e Domar (teoria do crescimento econômico). Quem, amad@s leitor@s lembra de mais gente?
P.S. Tirei da Wikipedia:
While in Manchester between October and November 1843, Engels wrote his first economic work, entitled "Outline of a Critique of Political Economy." Engels sent the article to Paris, where Marx published it in the Deutsch–Französische Jahrbücher in 1844.
26 novembro, 2020
Popper e os Ragtimes
Tinha um livro/romance perdido aqui em casa que dou as coordenadas com formatação acadêmica:
DOCTOROW, E. L. (2017) Ragtime. Rio de Janeiro: Record. Tradução de A. Weissenberg.
Localizei-o agora, durante a pandemia. Pois talvez emocionada com minha referência estilo ABNT, a página 127 (caput) traz uma citação 'puro Popper':
O menino considerava o avô um tesouro abandonado. Aceitava as histórias como proposições que poderiam ser testadas. Encontrou provas, em sua própria experiência, da instabilidade tanto das coisas como das pessoas.
Agora não sei se quem aceitava apenas as provas "que poderiam ser testadas", se o menino ou o avô. Qualquer que fosse, podemos declarado um popperiano avant la lettre.
Sigo sem saber se a frase continua referindo-se a um ou a outro. Aí é brabo: eu mesmo que sou um modesto seguidor do velho Karl Popper, arrepio-me ao ler:
Era capaz de olhar para a escova de cabelos no armário e fazê-la escorregar e cair ao chão.
Quero dizer, suponhamos, se foi o avô que falou este negócio da escova de cabelos e o guri que percebeu tal ser impossível nos tempos do ragtime, estamos no confortável mundo popperiano. Se foi o guri que estava narrando sua experiência cotidiana, depois levantando e baixando uma janela com empuxos do pensamento, só podemos dizer tratar-se de mais um seguidor (avant la lettre, sabe-se lá) da família Bolsonaro, basófia, oligofrenia, loucura, sonolência, onipotência, naiveté, asnice, rufionismo e onomatopeias.
DdAB
P.S. Imagem selecionada por pura contingência (?). Estranha, mais estranha que os Bolsonaros.
23 novembro, 2020
Lugares Trocados: negros e pretos
Vou falar sobre o assassinato do negro João Alberto Silveira Freitas pela dupla de brancos covardes Magno Braz Borges e Giovane Gaspar da Silva, funcionários do e no Supermercado Carrefour do bairro Passo d'Areia em Porto Alegre no dia 19 de novembro deste 2020 que corre sinuoso, ocorreu em plena véspera do Dia da Consciência Negra e do simbolismo a seu entorno atroz e pungente.
Esta postagem nem começou com o professor Sílvio Luiz de Almeida, brilhante intelectual que vim a conhecer na entrevista dada à TV CNN na sexta-feira (dia 20 de novembro de 2020) acessível ao clicar aqui. Mas começo falando nele. Depois de ver aquela deslumbrante entrevista, achei que deveria fazer algo. E escrevi à OAB-SP a seguinte mensagem cuja resposta vemos lá no início como imagem que escolhi para iluminar a postagem de hoje:
Em dom., 22 de nov. de 2020 às 07:59, Duilio de Avila Bêrni [,,,] escreveu:
Caros senhores:
Att,
Então já tenho outro candidato desembargador em São Paulo e a presidente da república. O primeiro candidato a presidente -pela ordem de entrada em meus manuscritos- é, segue sendo, o prof. Renato Janine Ribeiro. Estou certo de que ambos podem ajudar o Brasil a reaproximar-se (agora com mais qualidade) aos ditames da sociedade igualitária, com o governo sendo o empregador de última instância e gastando em bens de mérito (e.g., educação e saúde) e bens públicos (e.g., saneamento e segurança).
A minoria branca, contada pelo IBGE, que classifica a população em brancos, pretos, pardos e cablocos (depois substituídos por "Outros") (ver aqui) não entende que, sob o ponto de vista de um jogo, pode favorecer mecanismos que transformem o tradicional dilema de prisioneiro em um jogo cooperativo. Ao mesmo tempo, sempre tive dificuldade em saber se "negro" é politicamente correto ou errado. Até que, agora, entendi que ser negro é fazer parte de um conjunto que contem dois subconjuntos. Usando o sinal + como representando a operação união de conjuntos, temos
Negro = Preto + Pardo.
Agora, se bem entendi, nem todo pardo se reconhece como negro. Neymar, o eterno enfant terrible do futebol e da vida comunitária, ao chegar à Europa foi indagado sobre sua negritude. Na verdade teriam indagado a ele se sofreu discriminação racial no Brasil. Ele teria dito apenas que nada sentira precisamente por não ser negro. Como ele deve desconhecer a teoria dos conjuntos, nem recomendo que leia esta postagem... Mas, na verdade verídica, ele não está sozinho, pois pode ter entendido que segue aquele "ideal de branqueamento" de que falou Gilberto Freyre.
Mas tem até mais que ideal de branqueamento, uma argumentação que talvez à época até fosse verdadeira, mas hoje -pace o General Mourão- tá na cara que o Brasil é um país envenenado pelo que Sílvio Almeida chama de racismo estrutural. Conta-nos Sérgio Buarque de Hollanda que, lá naqueles tempos coloniais, um visitante alemão subia -não lembro se do Rio de Janeiro a Minas Gerais- e viram de longe um grupo se aproximando. Constataram ser uma guarnição do exército imperial e perceberam haver um militar (oslt) a cavalo e os demais na infantaria. O alemão indagou a seus guias "quem é aquele negro?", ao que estes responderam: "não é negro, é um capitão". Neste caso, vemos o branqueamento pelo cargo elevado que o personagem detinha.
Mas, talvez desde sempre, a literatura percebeu na normas sociais os chamados casamentos mistos. Inicio citando o casal Otelo e Desdêmona e vejo como inesquecível a patética personagem criada por Érico Veríssimo em "O Senhor Embaixador", srta. Glenda Doremus, americana branca de classe média mais racista que podemos imaginar, ainda que envolvida com o pardo Pablo Ortega.
Não foi à toa que a canção de John Lennon usou precisamente a carne negra para descrever a triste posição que a mulher (eu diria a mulher pobre) ocupa no mundo contemporâneo. Diz ele que que a mulher é o negro do mundo e -parece-me que Elsa Soares é que fala que "a carne mais barata do mercado é a negra".
Não vimos tudo do caso americano de George Floyd, mas parece que a tragédia do Carrefour foi protagonizada por indivíduos ainda mais covardes que os policiais que o mataram. Obviamente aquele ataque de ódio dos dois vigilantes não seria menos vil se aplicado contra um branco ou um índio, pois a diferença entre racismo e violência física é que os negros é que são submetidos a ela com mais frequência. Ainda assim, branco pobre não está 100% seguro de voltar vivo para casa, fruto da violência policial ou sua ausência, a violência praticada por criminosos comuns.
Nesta linha é que fiquei pensando que um treinamento decente para vigilantes deve privilegiar o mantra de que estes são proibidos de bater em quem quer que seja, nem mesmo alegando "legítima defesa". Na legítima defesa de um segurança cabe apenas defender-se da agressão e imobilizar o agressor. Um segurança que não consegue desmobilizar o agressor não pode ser chamado de vigilante e, enquanto tal, deve ser demitido. O supermercado Carrrefour é cúmplice da tragédia e, se houvesse justiça no Brasil, seria acusado, pelo menos, de homicídio culposo.
E que o igualitarismo tem a ver com isto? Diriam os truculentos governantes que os brancos também devem credenciar-se ao direito de serem assassinados por ferrabrases de todos os quilates, especialmente, vigilantes mal-preparados, milicianos de todos os jaezes, juízes e tantos outros brasileiros de dignidade conquistada por meios indignos. Menos amargo, entendo que, na sociedade igualitária, como referi há pouco, o governo é o empregador de última instância, o que torna tudo mais fácil para a reeducação da sociedade necessária para combater o racismo,
20 novembro, 2020
Quando Pedro Fala sobre Paulo...
13 novembro, 2020
Novidade Virando Rotina: candidaturas coletivas
(Globo: evolução das candidaturas coletivas)
Não lembro se já falei que não vou votar para prefeito. E não é por falta de candidatos, pois em Porto Alegre há milhares deles. Quem me conhece há 73 anos sabe que já estou no clube da elite do voto facultativo. E quem me conhece há menos tempo também pode saber disso. Sou favorável ao voto facultativo para todos. No Brasil, a lei do ventre livre e a lei dos sexagenários, na escalada pela libertação dos escravos, transformou-se em lei que dá direito de voto (facultativo) aos jovens de 16 a 18 anos, quando o voto se torna obrigatório. E Geisel, o general Geisel, tornou o voto facultativo para os maiores de 70 anos. Estou nessa, estou contra Geisel...
Sobre o 2020: eu, que estou me impedindo de votar para não aumentar a exposição ao covid-19, senti agora desabotinada vontade devotar (mas não vou), pois vi uma reportagem sobre as candidaturas coletivas. Acho que esta pode ser uma saída para esta democracia representativa que está com os dias contados: ver aqui.
Claro que só poderiam ser iniciativas da esquerda! Eu escolheria uma delas, mas mantendo a mesmíssima desconfiança dessa turma que não é capaz de formar uma frente única.
DdAB
A imagem diz tudo: nunca ouvira falar nas candidaturas coletivas até 2016. E muito feliz fiquei ao saber que agora há quatro delas em Porto Alegre.
11 novembro, 2020
Feira das Livrarias e Editoras
Caros: a diligente professora e economista Maria Lúcia Carvalho enviou-me o link de uma feira do livro promovida pela USP, com obras a 50% de desconto. Vou lá! Mas antes decidi fazer uma lista de todas as editoras do Brasil. Não trabalhei excessivamente no projeto, mas já posso colocar alguns defeitos. Primeiro: tem editoras que conheço e não estão expondo nessa feira uspiana, e.g., a Libélula de Lajeado-RS. Depois, tá cheio de universidades que também têm editora e não expuseram. Terceiro, acho que posso ter cometido erros de edição e colocação em ordem alfabética, como é o caso de, e.g., Martins Fontes, que -depois da primeira rodada- chegou-me -ou eu devia ter dito "chegaram"- como um Martins e outro Fontes. E talvez outros milhares de vacilos que nem sei contar.
Tá aqui o link: http://paineira.usp.br/festadolivro/#panel2. E aqui a listagem das 179 editoras expondo na feira do livro da USP:
42
Alameda
Alaúde
Aleph
Aletria
Aller/106
Almedina
Alta
Altamira
Anita Garibaldi
Annablume
Ape'ku
Arché
Arole
Ateliê
Attie
Autonomia Literária
Autores Associados
Balão
Bambolê
Bamboozinho
Bambual
Barbatana
Bazar do Tempo
BEĨ
Benvirá
Biruta e Gaivota
Blucher
Boitempo
Brasiliense
Brinque-Book
Caixote
Callis
Capivara
Carochinha
Casa de Letras
Cengage
Ciranda Cultural
Cobogó
Consequência
Contexto
Contracorrente
Contraponto
Cortez
Cosmos
Draco
Dublinense
Dueto
Duna
É
Editora 34
Editora FGV
Editora Fiocruz
Editora UEPG
Editora UFMG
Editora UFPR
Editora UFSC
Editora UnB
Editora Unesp
Editora Unicamp
Editora Unifesp
EdUFSCar
Edusp
Elefante
Érica
Escuta
Estação Liberdade
Évora
Excelsior
Expressão Popular
FiloCzar
Geração
GG
Girassol
Global
Graphia
Grua
Grupo Editorial Pensamento
Grupo Editorial Record
Grupo Editorial Summus
GrupoAutêntica
Harper Collins
Hedra
Hemus
Hucitec
Ideias e Letras
IMESP
Instante
Instituto Moreira Salles
Intermeios
Intermezzo
Jaguatirica
Jandaíra
Jujuba
Jus
Kotter
L&PM
Letramais
Lettera
Livraria da Física
Lote
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