16 dezembro, 2020

Zorro, Tonto e a Desigualdade

 

(legenda: apenas seis pessoas sofrem quando a economia está mal: 
eu, tu, ele, nós, vós, eles)

Se não cansei de falar, meus/minhas leitor@s certamente já cansaram de ler que me declaro especialista em introdução à filosofia. O que raramente falo é que também me declaro especialista em histórias em quadrinhos dos anos 1955-1963. Gato Félix, Luluzinha, Pinduca, Fantasma, Mandrake e, naturalmente, Zorro, além de muitos outros. Mas não foi daquele tempo que li a reprodução de um diálogo entre este (capital) e o índio Tonto (trabalho).

Hoje mesmo, querendo saber a origem do diálogo que vou publicar em instantes, no momento citado de memória, andei brincando de olhar a internet, nada achando de interessante. Fui então à -como chama minha colega Brena Fernandez- Britannica Paraguaya e achei explicações divertidas que joguei no P.S. lá sob minha assinatura. E -olha daqui, busca dali- confirmei que "Zorro" é mesmo a palavra em espanhol para "raposa". E nosso herói representando, a meu ver, o capital, é assim chamado, pois -da mesma forma que certas raposas- usa uma máscara que não o impede de ver, falar ou respirar e... saquear galinheiros.

Interessa-nos então saber que "Tonto" não é tonto, mas um rapaz de elevada consciência de classe, sabendo com inteligência a hora de cooperar com os opressores e a hora de distanciar-se deles. Chamá-lo de "wild one", que traduzo por "bravio", como aponta o P.S. não é ofensa: Tonto não é tonto, é bravio!

Segue-se logicamente que o diálogo a que me refiro rola nestes termos:

Desagradabilíssimas circunstâncias levaram Zorro e Tonto a ficar cercados por índios inimigos e ferozes, habituados a fazer espetinhos de carne humana para comer com farofa e jogar os restos (dos espetinhos) para a cachorrada. Então, Zorro, coçando a cabeça com um garfo, já sem munição, sem querer desanimar o amigo Tonto, confidencia-lhe:

-Tonto, amigo de vida inteira, nós estamos cercados pelos índios dos espetinhos.

Tonto olha para o capitalista, em seguida, olha para os sitiantes que, confirma, são os irmãos explorados e filosofa em voz alta:

-Nós, quem, cara-pálida?

Desnecessário dizer que a piada acabou e eu, com este triste (?) finale, acabo a postagem. Antes, porém, deixo claro que aquela frase da figura é divertida, mas inexata. Assim como a origem cultural diferencia Zorro e Tonto, ou seja, nós e eles, naqueles "eles", moram os mais malvados capitalistas, os mais desabotinados ladrões de merendas e, mais modernos, ladrões de vacinas, EPIs, etc. 

DdAB

P.S. Olha a Wikipedia sobre "Tonto":

Tonto is a fictional character; he is the Native American (either Comanche or Potawatomi) companion of the Lone Ranger [o nosso Zorro], a popular American Western character created by George W. Trendle and Fran Striker. Tonto has appeared in radio and television series and other presentations of the characters' adventures righting wrongs in 19th century western United States.
In Italian, Portuguese, and Spanish, "tonto" translates as "a dumb person", "moron", or "fool". In the Italian version the original name is retained, but in the Spanish dubbed version, the character is called "Toro" (Spanish for "bull") or "Ponto". Show creator Trendle grew up in Michigan, and knew members of the local Potawatomi tribe, who told him it meant "wild one" in their language. When he created the Lone Ranger, he gave the moniker to the Ranger's sidekick, apparently unaware of the name's negative connotations.

P.S.S. Aos 17/dez/2020, encontrei uma explicação em: http://www.jeanlauand.com/LPo79.htm.
http://www.jeanlauand.com/LPo79.htm

2 comentários:

Unknown disse...

Olá Duílio, achei ótima sua reflexão nesse texto. Também assisti ao Zorro quando criança e pelo que lembro havia uma certa moral de justiça na série. Nesse sentido, realmente Tonto não tinha nada de tonto ... e o diálogo que vc recortou poderia até ser chamado hoje de "interseccional" rsrsrs Abraço

Planeta 23 disse...

Muito obrigado, desconhecid@.
Pois então: naqueles tempos, achava normal que o justiceiro fosse o Zorro e natural que ele fosse assistido por um "inferior". Mas minha 'sacada' original nem é minha, hehehe. Ao ler o "Robinson Crusoé e a Acumulação Primitiva", de Stephen Hymer, é que me caiu a ficha para a análise das relações de poder entre -como diz ele- o "master" e o "servant".
Abraço.
DdAB