27 junho, 2019

"Vi os Olhos que Viram o Sargento"

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Bem, não é bem o sargento. O original de Roland Barthes fala "vi os olhos que viram o imperador", referindo-se à foto do irmão de Napoleão Bonaparte que o filósofo viu em tenra infância. Mas ver os olhos de Bolsonaro, ainda assim, nem garante que ele tenha visto os olhos do sargento, ou até o sargento de costas, ou encoberto por sacos e sacos de papelotes de primeira. A verità é que o sargento já viajou nos aviões da presidência da república voando com pelo menos três presidentes.

Ouvi dizer que o sargento é "comissário de bordo". E Jair Bolsonaro, como sabemos, é o presidente da república ungido ao cargo por uma turma do arco e outra que queria tudo menos Haddad no poder, a volta do PT, como argumentavam. E parte desta turma segue hoje em sua luta ideológica defendendo o direito de Sérgio Moro aconchavar-se com os promotores e policiais para impedir Lula de ser candidato (vencedor, aposto) a presidente da república.

Uma vez que já andei pleiteando cargos mordômicos, como assessor de ministros do supremo tribunal, com CCs de alto coturno. Claro que agora também me escalo: como faço para ser comissário de bordo de um avião da FAB que carrega bagagem legal?

Bem, bem. Voltando aos olhos que viram outros olhos. Li o livro de Roland Barthes, digamos, em 1982, o que muito me dignificou aos olhos -sempre os olhos- de amigos diletos. Muito me impressionou aquele tipo de ensaio, eu que era mais habituado a ensaios de economia, inclusive o audacioso "Robinson Crusoé e o Segredo da Acumulação Primitiva".

E que me está levando a fazer todo esse fuzuê com olhos que veem olhos que veem olhos, até as carreiras a serem disponibilizadas pelos 39 quilos de cocaína transportada pelo sargento. Sabe-se lá o que a defesa do alferes vai dizer: que ele é inocente, presumo. E a razão do fuzuê?

Minha motivação é clara. Já falei e repito que a proibição do uso das drogas pesadas (maconha tem um quarto de quilo que pesa precisamente 250g, quando não é fraudada) é o maior incentivador de cobrança de preços de monopólio pelos ofertantes, geração de lucros extraordinários e -just business- corrupção de tudo que é instância do governo da república: executivo, legislativo e judiciário. Será que os aviões que transportam juízes e deputados, além daquele afamado caso do sr. Perrella, não têm tripulações envoltas em tráfico? Estou apostando minha reputação de detetive que, sim, que transportam.

E qual a solução para o problema das drogas pesadas? Primeiro: aceitar o conceito de drogas recreativas, o que é facilmente atestado por psiquiatras, psicólogos e até astrólogos e quiromantes: quando neguinho é louco, ele pode estar consumindo drogas mas fugindo do esquema de recreação. Viciado tem é que ser tratado.

Segundo: as drogas pesadas devem ser distribuídas gratuitamente pelo governo, fora as inconsequentes que podem ser vendidas em farmácias, como parece-me ser o caso composto de maconha e lança-perfume e talvez outras. Não entendo mais tanto do assunto como já o fiz há uma década. Mas este segundo ponto é fundamental e cheguei a ele quando li no jornal Zero Hora (sempre ela...) que uma garota de seus 13 anos de idade assassinou, em Erechim, uma velhinha de seus 85 para roubar R$ 10 voltados a financiar o consumo de crack. Na oportunidade fiquei imaginando haver um mercado ausente para transacionar a vida prorrogada da velhinha. Claro que a família pagaria uma pedra de crack por dia, para reter a matriarca. Além disso, a guria, nas salas de consumo governamentais, dialogaria com enfermeiros e não com traficantes.

Os traficantes, como sabemos, estão enrustidos em todos os poros da sociedade, por contraste aos enfermeiros que, nesta quadra em que se elegem neo-liberais, ou médicos de Cuba, cada vez mais escassos em cada vez menos eficientes postos de saúde. E a solução? Education, education, education. A educação permite ao educando descobrir seus objetivos na vida e lhe dá ganas de lutar por eles. Além disso é apenas com educação que a sociedade poderá avaliar suas instituições econômicas, políticas e sociais, reformá-las, ou criar novas.

DdAB
Frase corrigida do título:
BARTHES, Roland (1980) [1981] A câmara clara. Lisboa: Edições 70. Estou citando trecho da página 15.

HYMER, Stephen Robinson Crusoé e o Segredo da Acumulação Primitiva. Literatura Econômica (Rio de Janeiro). V.5 n.5, set./out. p. 551-585.

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