10 julho, 2019

Vejo a "Veja" e... Vejamos

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A revista "Veja" cumpriu seu papel na ajuda a detonar a ditadura militar no Brasil. E depois caiu numa posição de direita de entortar até estalactites de titânio (ou outro metal resistente...). E agora parece que houve mudança de dono e, acompanhando-a, mudança de ideologia. Não posso chamá-la de esquerda. Aliás, eu chamava de esquerda arcaica a "Carta Capital", que deixei de assinar, pois ela foi incapaz de entregar sua revista no prazo hábil, no prazo convencional, cabendo-me uma dezena de vezes deixá-la de lado. E outra boa meia dúzia de telefonar para São Paulo, mendigando meu exemplar, ou trasladando-o para o final da assinatura.

Pois esta semana, revista produzida na semana que passou, a "Veja" foi enturmada no programa do site "The Intercept Brasil" no exame e divulgação do enorme volume de material que "um anônimo" entregou a Glenn Greenwald (que uns amigos de direita já andam chamando de "Floresta Verde", algo assim; eu rio, pois não levo a sério...). E sua capa já é devastadora anunciando:

EXCLUSIVO
JUSTIÇA COM AS PRÓPRIAS MÃOS
Diálogos inéditos mostram que Sergio Moro cometeu irregularidades, desequilibrando a balança em favor da acusação nos processos da Lava-Jato.

A esta altura nem cheguei a degelar: gelei e assim fiquei. Já vira referências a este número da "Veja" e tem mesmo gente dizendo que só assim para voltar a comprá-la nas bancas, pois de assinatura nem se fala. Li a matéria sobre o agora famigerado juiz-ministro Sérgio Moro (como sabemos, "juiz Moro é oximoro" e "ministro Moro" é sinistro pra cachorro). E achei nas páginas 50-51 do número que circulou antes, mas carrega na capa a data de hoje, 10 de julho de 2019, uma quarta-feira, uma matéria intitulada

A DIREITA SE DIVIDE
Novos grupos políticos radicais ganham espaço nas ruas e começam literalmente a se chocar contra integrantes de entidades como o Movimento Brasil Livre
JOÃO PEDROSO CAMPOS

Eu, que gelara, degelei e tornei a gelar: a direita se divide! Assim compensa a divisão da esquerda que, talvez raramente haja se comportado em frente única. Só no DCE-UFRGS de 45 anos atrás, lembro de algo parecido. E mais, lá no centro acadêmico da faculdade de economia (então eu já era professor daquela encrenca), vi a chapa vencedora, digamos que com 60% dos votos, oferecer 40% de espaço de gestão para a chapa perdedora. Claro que era esquerda e direita, que -naqueles tempos- não tinham esses nomes. A esquerda precisava disfarçar pelo nome o ódio à ditadura. E a direita não se assumia como tal, talvez se declarasse democrata, sei lá.

A "Veja" tem um parágrafo inicial muito maneiro:

HOUVE UM TEMPO em que se declarar politicamente de direita no Brasil equivalia a assinar um atestado para virar um pária na sociedade. Isso definitivamente acabou. A catástrofe econômica do governo Dilma Rousseff e os assaltos do PT aos cofres públicos foram os principais combustíveis para o surgimento de vários movimentos radicalmente opostos à esquerda. Agora é cool ser de direita - e um presidente com esta ideologia governa o país. Tudo o que se expande, porém enfrenta em algum momento as dores do crescimento. Em vez de engrossarem o discurso dos pioneiros como o Movimento Brasil Livre, as novas ramificações surgidas a partir da mesma linha de pensamento começaram a se estranhar com os 'veteranos' da luta, a quem acusam de ser 'isentões', 'esquerdistas' e, quem diria, 'comunistas'.

Fiquei pensando efetivamente sobre a divisão da esquerda, pensando e gelando, repensando e degelando, requetepensando e tornando a gelar... Volta e meia refiro meu programa para o início das conversações para a formação de uma frente única de esquerda. E até hoje nada consegui, pois o programa está à esquerda da "Carta Capital" e de muitos grupos grupinhos e grupões de esquerda, para não falar dos partidos políticos, inclusive o PT. Meu programa:

.a luta pela implantação do governo mundial
.b voto universal, secreto, facultativo, periódico e distrital
.c república parlamentarista.


Já levei caceta praticamente por todos esses itens. Isso que nem falei numa bandeira que deveria abarcar todos os grupos, grupões e grupelhos que se auto-intitulam de esquerda: a luta pela sociedade igualitária, o que também desagrada a economistas de escol, como é o caso de John Kenneth Galbraith.

Felizmente não fui o único a levar porrada, pois, quando ainda não se podia falar na "catástrofe econômica do governo Dilma Rousseff", ao contrário, depois das manifestações de 2013, Dilma decidiu responder e o fez inclusive sugerindo a realização de uma constituinte. Pois quem foram os primeiros a baixar caceta? A direção do PT nacional! E daí? Daí é que houve tanto atropelo da esquerda que esta perdeu totalmente o controle daqueles movimentos e quem deles se apossou, inclusive das cores auri-verdes, foi a direita.

Mas que mais podemos dizer da "Veja" e da esquerda que se emperiquitou no poder montando o lulismo? Basta-me citar a "Veja": "os assaltos do PT aos cofres públicos". A triste verdade é que o lulismo trouxe em seu bojo uma plêiade formada por ladrões de enorme capacidade de aprendizagem que, com o tempo, se transformaram numa enorme nuvem de gafanhotos, trazendo desolação a qualquer pensamento idealista de esquerda. Não eram, mas tornaram-se um bando de ladrões. A melhor explicação que tenho para esta ladroagem, essa sem-vergonhice, é que todo organismo saudável atrai predadores. Entendo que até hoje tem gente portadora de genes decentes no PT, mas vejo-os cada vez mais deslocados. Tristeza! Quando contabilizou-se o milionésimo membro do partido, eu gelei, etc., pensando estar tudo perdido. A verità é que um país inculto e analfabeto funcional não teve a capacidade de criar uma "corregedoria" liderada pelos honestos para controlar a entrada de ladrões no PT.

E qual é o programa da direita, segundo a "Veja"? Dizem eles:

[...] Embora [os grupos direitistas digladiantes] defendam também a Lava-Jato, o combate à corrupção, o ministro Sergio Moro e a reforma da Previdência, os radicais da direita se diferenciam por apoiar incondicionalmente Jair Bolsonaro e abraçar, de forma mais enfática, a pauta conservadora de costumes e tradição. Entre os pontos da plataforma estão o direito à vida desde a concepção, a preservação da 'essência' cristã do Brasil, o resgate de 'valores' como a família, o respeito às Forças Armadas e a defesa de uma nova Constituição.

Depois que li no jornal haver 75 projetos de partido político pedindo reconhecimento à justiça eleitoral um "Partido Pirata", pensei em sugerir (embora eu não venha a fazer parte) um PAIM, o partido de apoio incondicional ao Moro. Eu fico boquiaberto em ver colegas de profissão endossarem esses programas. Mas fico ainda mais boquiaberto ao entender que tantas o PT fez que bem que fez por merecer esse ódio todo. E quanto à eleição de Bolsonaro, parece hoje óbvio que isto foi uma burrada de Lula em não entender que, se ele acreditava mesmo em ser candidato à presidência da república, ele deveria ter escrito um manifesto eleitoral e indicado seu candidato a vice-presidente. Não o fez, seguiu no xilindró por razões agora esclarecidas pelo The Intercept Brasil, e Bolsonaro foi eleito, contando com o apoio incondicional de brasileiros, nossos compatriotas precisamente pelo golpe e pela precariedade da visão estratégica perseguida pelo PT.

Na próxima eleição, nem sei em quem irei votar! Obviamente não será na direita.

DdAB
P.S. E uso este rodapé para declarar que o mundo dos economistas de esquerda encolheu substantivamente, pois hoje li a notícia da morte de Francisco de Oliveira precisamente neste dia 10 de julho. Li várias coisas de sua escrita e considero seu "A economia brasileira: crítica da razão dualista" uma verdadeira obra-prima.
E já no dia 11 vi no mural de Jorge Ussan:
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