Tudo começou sei lá onde. Mas talvez possamos fixar, para fins desta postagem, que começou em 1975, quando fui aluno do prof. Aaron Dehter no curso de mestrado do hoje chamado PPGE/UFRGS. Ele ensinava macroeconomia de estabilização (o modelo IS-LM e aqueles estudos tradicionais da demanda agregada, essencialmente, o consumo e o investimento). E, nas primeiras aulas, falou nas contas nacionais (que eu já conhecia por trabalhar na Fundação de Economia e Estatística nesta área de calcular a versão estadual) e no problema provocado em cifras monetárias pela inflação. E falou em extrapolação. Primeiro pensei ser bafo. Depois vi que o termo veio a ser incorporado por todo mundo e nem sei de onde veio. Veio de Aaron, mas como é que chegou a ele? Nem me interessa saber. O que aprendi é que existem simetrias:
Deflacionamento - retropolação: pega um valor do presente e o leva para o passado, retirando o efeito da inflação. O deflacionamento usa um índice de preços e a retropolação usa um índice de quantidades.
Inflacionamento - extrapolação: agora pega um valor passado e o deposita no futuro, retirando o efeito da inflação. Também agora o inflacionamento usa um índice de preços e a extrapolação usa o índice de quantidades.
Claro que há o paralelismo:
deflacionamento - inflacionamento
retropolação - extrapolação.
Claro que há o paralelismo:
deflacionamento - inflacionamento
retropolação - extrapolação.
Em continuação, recebi um e-mail muito maneiro de meu querido amigo Rubem Castro. Ele falava sobre os problemas destas comparações a fim de poder estudar o desempenho de uma região do estado formada pela junção de 34 cidades..
Primeiro, há enorme tradição de pesquisa, mesmo no Rio Grande do Sul, sobre a "análise da conjuntura" e a montagem de indicadores para fazê-la. Um exemplo que olho quando preciso é o boletim da USP (tá aqui a edição de agosto:http://downloads.fipe.org.br/ publicacoes/bif/bif-agosto.pdf ). Eu mesmo escrevi coisas a respeito da análise da conjuntura em diferentes momentos, também tentando criar o que se chamava na época de "indicadores antecedentes". Eles antecediam ou indicavam os rumos da economia: recessão, depressão, retomada, auge. Naquele livro de mesoeconomia (aqui), parece que refiro alguma bibliografia de minha autoria. Lá também vais encontrar um artigo que de fato é meu mesmo(http://revistas.fee.tche.br/ index.php/ensaios/article/ view/465/702). Vou voltar a falar nele em seguida.
Segundo, vamos ao problema do deflacionamento. Em algum lugar daqueles escritos, eu disse que "valores reais são imaginários", pois tive as primeiras intuições com esse artigo sobre "a participação de partes em todos". E não nego a importância do deflacionamento para certos casos, quando realmente precisamos saber o "verdadeiro valor real" de algumas coisa. Em boa medida, a retirada da inflação é um correlato da correção da taxa de câmbio, garantindo a paridade do poder de compra.
Mas também não nego que "começou a deflacionar, começou a errar"... Portanto minha primeira sugestão é que façamos as comparações concernentes a nossa análise da conjuntura em valores nominais. Como diz András Brody (figura proeminente da economia do insumo-produto), o que importam são as proporções (eu não sabia isto no tempo daquele artigo da FEE de 1984, mas tinha a intuição). E se não der para evitar o deflacionamento, ou seja, se precisamos dos "valores reais", querendo saber o crescimento "verdadeiro", devemos tirar o efeito da inflação. E aí começam os problemas.
Mas também não nego que "começou a deflacionar, começou a errar"... Portanto minha primeira sugestão é que façamos as comparações concernentes a nossa análise da conjuntura em valores nominais. Como diz András Brody (figura proeminente da economia do insumo-produto), o que importam são as proporções (eu não sabia isto no tempo daquele artigo da FEE de 1984, mas tinha a intuição). E se não der para evitar o deflacionamento, ou seja, se precisamos dos "valores reais", querendo saber o crescimento "verdadeiro", devemos tirar o efeito da inflação. E aí começam os problemas.
Não existe deflator perfeito, apenas o chamado "índice verdadeiro", que é uma idealização baseada nas teorias do consumidor e da produção. E, à medida que estas evoluem/evoluírem, o diabo do índice também deverá receber mudanças. Refiro-me à criação de funções cada vez mais sofisticadas para descrever a demanda ou a produção. Tal é o caso daquelas funções transcendentais logarítmicas que exibem elasticidade de substituição variável. E, como há algum tempo não abro livros sobre o assunto, até os nomes das funções podem ter recebido ajudas ainda mais assustadoras.
Mas há boas aproximações para o índice verdadeiro, teoricamente dadas pelo índice de Divisia, que é aproximado empiricamente pelo índice de Törnqvist. Mas também pela nossa velha conhecida dupla de Laspeyres e Paasche. E também parece que o índice de Fischer (média geométrica entre Laspeyres e Paasche) funciona muito bem.
Tudo isto deve ter presente que, quanto menor a inflação, melhor é o índice. Mas isto é um absurdo, um certo paradoxo, pois -se a inflação é nula- não preciso mesmo de índice nenhum.
Então que fazer? A solução do clube dos abonados é construir seu próprio índice de preços e seu parceiro índice de quantidades. E se não formos abonados o suficiente? Minha sugestão é que fazermos o deflacionamento com mais de um índice. Por exemplo, o IGP-DI é o mais usado para estes casos, sem dúvida. Mas acho que se pegarmos outros, por exemplo, o deflator implícito do PIB do RGS (que não é perfeito análogo dos índices de VBP), teremos intuições mais profundas sobre a evolução "real" das variáveis de interesse. E penso que esta será uma forma coadjuvante de qualificar aquela análise que sugeri anteriormente de centrar o máximo interesse nas variáveis nominais.
Por exemplo, digamos que nosso interesse sejam as exportações de calçados (velhos tempos...). Teremos, claro, o valor em dólares, mas não acho que isto tenha maior significado, exceto para sabermos a "evolução em dólares". E ainda assim precisaríamos acautelar-nos quanto à inflação americana (corrigir para a paridade do poder de compra)...
Então: pegas a receita das empresas com vendas para o exterior. Comparas com o PIB nominal da região: o IPEA/IBGE/FEE mostram estimativas para os municípios gaúchos. Há defasagem, claro, mas podemos construir com estas estatísticas secundárias de fácil coleta um "indicador composto" que poderá dar a dicas para a estimativa da evolução do PIB municipal (ou de todos os 34 municípios da região).
Então: pegas a receita das empresas com vendas para o exterior. Comparas com o PIB nominal da região: o IPEA/IBGE/FEE mostram estimativas para os municípios gaúchos. Há defasagem, claro, mas podemos construir com estas estatísticas secundárias de fácil coleta um "indicador composto" que poderá dar a dicas para a estimativa da evolução do PIB municipal (ou de todos os 34 municípios da região).
Sei que o trabalho é árduo. Mas sempre o achei divertido. E este tipo de "sinuca" me deu muito ódio do mundo (hehehe), mas também ajudou-me a entender melhor meus próprios limites, os limites da ciência econômica e os limites das estatísticas.
DdAB
A imagem é daqui. Cheguei a ela pedindo "nirvana" ao Google Images, pensando que, pela via oriental, chegaríamos a índices de preços mais próximos à natureza...