14 agosto, 2015

O Holismo Parcial


Querido diário:

Sabemos todos que criei há anos a filosofia do holismo parcial (aqui o primeiro registro). Vou  falar sobre ela após uma série de prolegômenos. Prolegômenos? Aprendi esta palavra enquanto estive lendo o livro

CAMPOS DE CARVALHO (1964) O púcaro búlgaro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. [E vi na internet que tem uma reedição recente da Saraiva].

Em compensação, também sabemos que sou especialista na primeira sentença do Ulysses, obra magna de James Joyce:

Suntuoso, o gordacho Buck Mulligan acercou-se do alto da escada portando em sua mão direita um vaso de barbear atrolhado de espuma, mas não a ponto de esconder um espelhinho entrecruzado sobre uma navalha aberta o suficiente para cortar o minguinho de Stephen, se ele por lá o colocasse.

Pois então. Dias atrás:

.a. fiz aqui uma lista dos livros de leitura literária que estou lendo e

.b. tem livros de não-ficção que leio volta e meia, outros releio, e -outros ainda- tomo a liberdade de mentir que li, lia, lera, leria, leio ou lerei.

Levando em consideração apenas este item .b. (o que já é uma prova de que o holismo esclarecido (ou seja, o holismo parcial) desta postagem já a divide em duas partes. Pelo menos, duas), no devido tempo, deveremos inferir que estou afanosamente tentando especializar-me em 'introdução à filosofia'. Depois de haver-me havido com muitas e muitas tantas outras obras um tanto introdutórias, vim a tomar "gosto" tátil e ocular, fazendo leitura de contato, com:

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires (2009) Filosofando; introdução à filosofia. São Paulo: Moderna.

CHAUÍ, Marilena (2012) Iniciação à filosofia. São Paulo: Ática.

COTRIM, Gilberto e FERNANDES, Mirna (2010). Fundamentos de filosofia. São Paulo: Saraiva. [Saraiva? Saraivíssima, a mesma de nossos conhecidos livros de metodologia e técnicas de pesquisa e de teoria dos jogos].

FEITOSA, Charles (2004) Explicando a filosofia com arte. Rio de Janeiro: Ediouro.

Sem negar que meu preferido é o de Aranha e Martins (2009), refiro-me precisamente à página 334 de Cotrim e Fernandes (2010), onde podemos ler o seguinte parágrafo inteirinho:

   Nas novas abordagens [sobre epistemologia, um troço destes] desenvolvidas nas últimas décadas, o todo tende a ser entendido como sistema, isto é, como estrutura organizada de elementos inter-relacionados. Para ser adequadamente compreendido, o todo não pode ser dividido, isolando suas partes. As partes devem ser entendidas conjuntamente nas relações que estabelecem entre si, sempre tendo como referência o todo. Essa tendência é conhecida, de modo genérico, como holismo (do grego holos, 'total, inteiro, completo'). [Destaques no original]

Ao ler este parágrafo, principalmente seu início, lembrei que um dia daqueles lá no clube do antanho, consegui encadear algumas ideias que me vinham sendo passadas desde a mais tenra inserção como estudante da ciência econômica (que digo?), que iniciaram com 'sistema'. Era sistema para cá, sistema para lá. Até havia um livro de introdução à economia do francês Raymond Barre, se bem lembro um monte de quatro volumes e que ele -Rain Man- era financista, uma chatice, que tinha, ele -agora- livro um capítulo sobre sistemas econômicos comparados, umas coisas assim que -se bem lembro- chegava a elaborar algumas coisas mais sobre o conceito de -se bem lembro- 'sistema'.

E na mesma época, entrou também em meu vocabulário a palavra modelo. E não saiu mais até hoje. Volta e meia jogo por aqui algum modelo matemático, como o já famoso

VA = f(Pop),

em que VA é o valor adicionado pela população em determinado período e Pop é, lógico, a população. Lá naquele livro de contabilidade social da editora Grupo A (devidamente Bookman), fala-se que existem modelos teóricos, como o acima, modelos empíricos, como VA = a + b x Pop e modelos experimentais, como VA = 0,2 + 0,3 x Pop.

E um modelo gráfico é o que hoje nos encima, pois não é difícil inferirmos que ações repetidas geram processos, processos repetidos geram estruturas, estruturas repetidas geram sistemas e sistemas (aprendemos agora) repetidos (ou integrados, se é que o holismo convencional permite e foi por isto que nós, da filosofia introdutória, criamos o holismo parcial, nomeadamente, para permitir que sistemas se repitam e se integrem, como o sistema econômico e o sistema de tráfico de influências no congresso nacional.

Em outras palavras, fim.

DdAB
Note o perspicaz leitor que estou usando praticamente todos os marcadores de postagem que já concebi neste blog. Este diagrama de Ven (que usualmente vemos em formato de elipses) recebeu críticas acerbas de integrantes radicais da escola filosófica do holismo convencional (que não gostam de ser assim designados).

Percebemos que ele não tem áreas esmaecidas entre cada "capítulo" (odeiam a palavra capítulo, pois tudo é uno) do "quarteto" (odeiam quartetos, pois tudo é uno) da figura (odeiam a palavra "figura", pois tudo é uno). E odeiam pontos, pois ponto significa que algo está terminando e, pelo holismo radical, nada termina, tampouco algo começa, tudo o que temos é tudo. E ponto, para eles, só o aleph.

E, um dia, eu disse 'o aleph borgeano' e eles já reclamaram, pois aleph -alegam- não é de ninguém, é de todos nós, do hole. Então tive que voltar ao dicionário para entender a diferença, em inglês, entre hole e whole, tarefa de nível avançado para um professor de economia política que tenta especializar-se em introdução à filosofia.

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