29 agosto, 2015

Emprego e Dignidade


Querido diário:

Parece óbvio que Marx sabia bem sabidinho que haveria excedentes de mão-de-obra provocados pela revolução tecnológica da qual ele mesmo foi testemunha. Parece óbvio que não conheço tanto de HPE, a ponto de pensar que esta visão de nosso Karl foi original. Adam Smith? William King? Boisguillebert? Sei lá.

E claro que requer novo parágrafo a referência a Keynes, em seu afamado artigo de -não juro- 1928, na Espanha -não juro, mas quase- em que ele falou em "desemprego tecnológico". Também não sei se Marshall, o velho Pigou ou outros contemporâneos já falavam no assunto. O fato é que a validação definitiva, para mim, desta visão dos excedentes perpétuos no mercado de trabalho veio com a leitura do livro de economia do desenvolvimento de Dejbray Ray. Agora acabou.

Eu, de minha parte, há anos percebi que aquela atividade econômica deixada por conta dos papeleiros porto-alegrenses tem tudo a dever ao prefeito da cidade. Como pôde ele e seus ancestrais permitirem esta terceirização perversa da parte do Departamento Municipal de Limpeza Urbana? Uma cidade que tem péssima limpeza urbana e péssimos empregos precários no manejo do lixo merece ser declarada ela mesma lixo: luxurbe et lixorbe.

Mas não é apenas isto, embora -talvez- seja a mesma coisa, veredas diferentes levando ao mesmo chiqueiro. É que, além dos papeleiros, há empregos precários em número extraordinário neste Brasil/2015, destacando-se as empregadas domésticas. Sempre imagino o que seria do Brasil se, por exemplo, minha exemplar cozinheira (R$ 1.000 por mês, algo assim) tivesse um emprego de cozinheira de escola de primeiro grau, ou segundo, ou no Restaurante Universitário da Unipampa, sei lá. Certamente sua prole teria tido maiores oportunidades, ela mesma, teria uma aposentadoria decente, vantagens trabalhistas que não me cabe nem pensar.

Minha estupefação deste sábado diz respeito à incapacidade que o Brasil (e, com ele, os demais países subdesenvolvidos e até mesmo os desenvolvidos) tem de mobilizar de forma digna sua força de trabalho.

DdAB
Imagem aqui. Para desempregados brasileiros, parece um desfile de moda.

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