26 agosto, 2015

Indústria: Leontief = Keynes


Querido diário:

Hoje em dia, diferentemente daquele tempo em que uma autoridade disse que "hoje todos somos keynesianos", pelo menos os formuladores de política econômica global e nacional levam jeito de não o serem. Mas eu sou, sempre fui (quando entendi do que se falava) e sempre serei (a menos que deixe de entender a terceira pessoa gramatical...).

E costumo dizer que a turma que considera com seriedade a lei de Say, no sentido de que é a elevação da oferta industrial que gera o crescimento econômico, seria tachada por Keynes de "clássica". Eu mesmo, já me declarei clássico nesse sentido (antes de esposar a neo-heterodoxia), pois fui um acólito das ideias cepalinas, durante os anos em que assisti às aulas do curso de graduação em economia.

E hoje, deixando de lado o saudosismo, quero dizer mais uma coisa sobre um dos erros dos acólitos do próprio keynesianismo que, mesmo cientes da roubada criada pela lei de Say, não diferenciam bem valor da produção de valor adicionado. Não sei se Say sabia disto, Keynes e Leontief, sim, bem o sabiam.

Quando a turma do fetichismo da indústria sugere que, por exemplo, o BNDES, meta dinheiro nos setores de maiores linkages, um keynesiano refinado há de dizer-lhes que gastar D$ 1 em bens finais (investimento, o que seja), gerará D$ 1 de PIB, pois o valor adicionado tem três óticas de cálculo, todas dando precisamente o resultado final. É como se eu olhasse para o rio que descansa em frente a minha casa da janela da direita, da janela da esquerda ou do telhado e visse precisamente o mesmo riachinho, trechos dele. Sempre que alguém se banha nele uma vez, mede-se este feito por três óticas: produto, renda e despesa.

Moral da história, se o PIB (líquido de importações) aumenta D$ 1, então a renda aumenta D$ 1 e a despesa aumenta (líquida de importações) também D$ 1. Então que significa dizer que elevou-se a demanda final em uma unidade? Que o PIB elevar-se-á precisamente neste montante (sem trocadilho com relação ao rio que pode banhar a gente apenas uma vez, mas que pode ser observado por vários ângulos).

E qual é a psicanálise disto? É que os leontiefianos apressados juram (com razão) que o gasto de D$ 1 na demanda final gera mais de D$ 1 de valor da produção. Corretísismo. Só que, por não terem refletido o suficiente sobre estas peculiaridades (propriedades) de um sistema econômico que usa insumos (e qual não usaria, qual economia monetária não o faria?), eles pensam que é um grande ganho criar demanda final no valor D$ 1 usando insumos, digamos de D$ 0,1. Claro que o valor da produção é D$ 1,1, mas P = Y = D, isto é, o produto, a renda e a despesa (despidos de importações) geram o mesmo valorzinho de D$ 1.

No primeiro dia da faculdade, aprendi o que quer dizer aquele "multiplicador keynesiano". E nunca mais esqueci. E tem gente que:

.a. não aprendeu
.b. aprendeu, mas esqueceu.

E a Dilma? Também foi aluna da mesma faculdade...

DdAB
P. S. das 14h00 deste mesmo dia. A coluna de Marta Sfredo na página 19 de Zero Hora de hoje diz, referindo conjeturas de terceiros sobre a crise chinesa: "... surge a seguinte [interrogação... ], impensável semanas atrás: teria o governo chinês perdido o controle da economia relevante mais centralizado do planeta?" Que posso dizer? Terei escrito inspirado nela, eu, logo eu, que a lera logo de manhã cedinho? O quem me ocorreu há muito tempo é que o Japão, lutando com aquela estagnação escabelada, deveria ter seguido Rosa Luxemburgo e "dar saída aos excedentes" e -mais na linha do vocabulário dela- "mercados externos", por exemplo, investindo na África!

P.S.S. e já que estou evocativo de velhos autores, vou falar de velhos abobados. O primeiro foi a república islâmica do Irã: ao invadir a embaixada americana no governo Carter, inviabilizou-o politicamente e -pimba- os americanos elegeram Reagan, um dos malfeitores associados à emergência do neo-liberalismo e, como tal, o presente desemprego da Europa. Ou melhor, este foi o segundo, pois o primeiro insight que tive a respeito disto (aqui) foi o caso da explosão do carro (y él dentro) do presidente da Espanha no regime franquista. Foi isto que ajudou a restaurar a monarquia, se bem calculo!

Imagem: eu é que a inventei...

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