Querido diário:
Hoje é um dia estranho: inverno, temperatura de outono, jeito de outono, desvios para a temperatura de verão. Pela terceira ou quarta vez, visitantes nossos tiveram seus automóveis saqueados por ficarem expostos ao ambiente em que todos temos direito de ir e vir: Rua Visconde do Herval, 334/350 em Porto Alegre, cidade cuja prefeitura é incorporada pelo sr. José Fortunatti. Bem que li críticas tachando-o de Furtonate. Alguém, contrariado com a distribuição da renda na cidade, parou ao lado da viatura, violou fechaduras, fechamentos e roubou coisas várias, de computadores a pneus.
Hoje é um dia estranho: tem um movimento nacional de protesto contra o governo. Sou-lhes antagonista, ao governo e ao movimento, pois do primeiro nada espero e do segundo tampouco. O governo, em minha opinião, não poderia estar mais afastado de algo decente. A presidenta Dilma, que desde a posse no primeiro mantado, falava em não compactuar com os 'mal-feitos', não consegue distanciar-se de seus amigos ladrões. A imagem lá de cima é daqui.
O movimento contra ela clama por coisas que não desejo, por achar que não resolverão o problema brasileiro, seja ele qual for, exceto conduzir Aécio Neves, o Aecinho, à presidência da república em uma eleição conduzida pelo presidente do Brasil, senhor Eduardo Cunha. Como?
Se Dilma e Temer forem impichados (o verbo está ganhando as páginas dos jornais que leio), Cunha assume e, no devido tempo (devido? quanto?), chamará novas eleições: Aécio se inscreve e ganha. Cara, é muita conjetura. Se ficar no governo apenas o vice-presidente Temer, não espero nada. Se houver constituinte, nada espero. Não espero nada de nada, nadica de absolutamente nada. Ainda ontem ouvi dizer que, desta vez (a outra foi em 1964), estamos preparados para resistir à bala a qualquer tentativa de golpe de estado. Tendo aprendido com Zorro o posicionamento da dúvida sistemática, fiquei indagando "nós, quem, cara pálida?". Não espero nada.
Mas, no outro dia, falava eu em indicações de Rosana Pinheiro-Machado, que nos sugerir "botar o pé no barro". Discutir política, participar de movimentos sociais. Neste caso, mudo tudo: espero, desejo, penso estar dando uma contribuição, uma gota naquele mar de desesperança que delineei há instantes.
Tenho amigos que foram às manifestações. Eu mesmo iria, a fim de encontrar a turma e depois meter umas biritas no bar da estação.
E no jornal de hoje (Zero Hora, n'est ce pas?), há dois artigos também localizáveis na internet. Gostei deles, pois falam de centenas de coisas que eu mesmo nunca pensei em bloco. Antonio Prata banca o Heminguay e escreve sobre "Por quem batem as panelas". E parece que não é aquele final de "elas batem por ti". Talvez seja ofensa: "elas batem por causa de nossa burrice". Estou dentro: na crítica ativa e passiva, isto é, também me declaro meridianamente burro, com tudo aquilo de nada muda e pé no barro.
Moisés Mendes escreveu "O Trump verde-amarelo". E dá uma definição de direita interessante: "Debocha de negros, gays, mulheres e mexicanos. [...] E diz que John McCain, que já foi candidato do partido e é sobrevivente da guerra do Vietnã, não pode ser exaltado como herói, porque foi capturado pelos vietcongues. Trump não gosta de soldados que tenham sido capturados."
E tem mais: "[...] se alguém a seu lado [nas manifestações hoje ocorridas] disser, com absoluta convicção, que o Brasil é um país iluminado por ter se livrados dos velhos conceitos de esquerda e direita, que aqui tudo se confunde e se mistura, você pode então ter certeza de que essa pessoa é de direita."
DdAB
OS ARTIGOS INTEGRALMENTE REPRODUZIDOS
Temos toda a razão de sair pra rua, neste domingo, para protestar contra a incompetência, a corrupção e a burrice do governo. Mas porque não sair pra rua para protestar contra a incompetência, a corrupção e a burrice do país, como um todo? Um país que mata seus jovens, sonega impostos, polui, compra carteira de motorista, licença ambiental, alvará, dirige pelo acostamento, estupra, espanca e esfaqueia mulher (mas retira a discussão de gênero do currículo escolar), um país onde os negros correspondem a 15% dos alunos universitários e a 67% da população carcerária.
Este ódio cego, esta parcialidade hipócrita, este bombardeio cirúrgico que pretende eliminar o PT -- e só o PT -- para 'libertar o Brasil', empoderando Renan Calheiros e Eduardo Cunha, não é o desabrochar da consciência cívica, é mais um fruto da nossa incompetência, mais uma vitória da corrupção; palmas para a nossa burrice.
ANTONIO PRATA - Por quem as panelas batem
Temos toda a razão de bater panelas quando a presidente aparece na TV dizendo que a culpa por nossa pindaíba é da crise internacional. Mas por que não batemos panelas quando Eduardo Cunha, o líder dos 'black blocs' brasileiros, vândalo que faz política com pedras, bombas e coquetéis molotov, vai em rede nacional dizer que trabalha 'para o povo', 'sempre atento à governabilidade do país'?.
Temos toda a razão de bater panelas contra a corrupção da Petrobras. Mas por que não batemos panelas contra o mensalão mineiro ou o cartel do metrô paulistano? Por que não batemos panelas contra a compra de votos para a reeleição do FHC? Por acaso pagar apoio na Câmara é mais grave do que pagar emenda na Constituição?.
Temos toda a razão de bater panelas contra o retrocesso econômico de 2015. Mas como podemos não bater panelas contra o anel de pobreza que desde sempre engloba as metrópoles brasileiras, essa Faixa de Gaza de tijolo aparente, essa Cabul de laje batida onde se amontoa boa parte da população?
Temos tora razão debater panelas quando o governo se cala diante dos descalabros venezuelanos e da ditadura cubana. Mas por que não batemos panelas diante do fato de nosso principal parceiro comercial ser a China, maior ditadura do planeta? O tofu que alimenta aquela tirania é feito com a nossa soja, e os fazendeiros, ruralistas e empresários que acusam a 'venezuelização' do Brasil são os mesmos que lucram com o dinheiro comunista. Ninguém bate woks por causa disso?
Temos toda a razão de bater panelas contra o estelionato eleitoral do PT. Mas por que não batemos panelas contra o estelionato eleitoral do PSDB, que elege repetidamente um governador tipo 'gerente', prometendo 'e-fi-ci-ên-ci-a' em cada sílaba, mas coloca São Paulo à beira do 'co-lap-so-hí-dri-co'". Um cristão cuja polícia, não raro, participa de grupos de extermínio, na periferia. Esta semana, foram 19 chacinados em Osasco e Barueri. Imagina se fosse no Iguatemi? E o estelionato das UPPs, no Rio, que prometem paz, mas torturam um cidadão até a morte e somem com o corpo? 'Não, isso não! Me mata, mas não faz isso comigo!', gritava o Amarildo, segundo um policial que testemunhou a barbárie, dentro de um contêiner. Como pose a nossa maior preocupação em relação ao Rio, hoje, ser com a qualidade das águas para as Olimpíadas de 2016? Cadê o Amarildo? Cadê as panelas?
Temos toda a razão de bater panelas contra a corrupção da Petrobras. Mas por que não batemos panelas contra o mensalão mineiro ou o cartel do metrô paulistano? Por que não batemos panelas contra a compra de votos para a reeleição do FHC? Por acaso pagar apoio na Câmara é mais grave do que pagar emenda na Constituição?.
Temos toda a razão de bater panelas contra o retrocesso econômico de 2015. Mas como podemos não bater panelas contra o anel de pobreza que desde sempre engloba as metrópoles brasileiras, essa Faixa de Gaza de tijolo aparente, essa Cabul de laje batida onde se amontoa boa parte da população?
Temos tora razão debater panelas quando o governo se cala diante dos descalabros venezuelanos e da ditadura cubana. Mas por que não batemos panelas diante do fato de nosso principal parceiro comercial ser a China, maior ditadura do planeta? O tofu que alimenta aquela tirania é feito com a nossa soja, e os fazendeiros, ruralistas e empresários que acusam a 'venezuelização' do Brasil são os mesmos que lucram com o dinheiro comunista. Ninguém bate woks por causa disso?
Temos toda a razão de bater panelas contra o estelionato eleitoral do PT. Mas por que não batemos panelas contra o estelionato eleitoral do PSDB, que elege repetidamente um governador tipo 'gerente', prometendo 'e-fi-ci-ên-ci-a' em cada sílaba, mas coloca São Paulo à beira do 'co-lap-so-hí-dri-co'". Um cristão cuja polícia, não raro, participa de grupos de extermínio, na periferia. Esta semana, foram 19 chacinados em Osasco e Barueri. Imagina se fosse no Iguatemi? E o estelionato das UPPs, no Rio, que prometem paz, mas torturam um cidadão até a morte e somem com o corpo? 'Não, isso não! Me mata, mas não faz isso comigo!', gritava o Amarildo, segundo um policial que testemunhou a barbárie, dentro de um contêiner. Como pose a nossa maior preocupação em relação ao Rio, hoje, ser com a qualidade das águas para as Olimpíadas de 2016? Cadê o Amarildo? Cadê as panelas?
Temos toda a razão de sair pra rua, neste domingo, para protestar contra a incompetência, a corrupção e a burrice do governo. Mas porque não sair pra rua para protestar contra a incompetência, a corrupção e a burrice do país, como um todo? Um país que mata seus jovens, sonega impostos, polui, compra carteira de motorista, licença ambiental, alvará, dirige pelo acostamento, estupra, espanca e esfaqueia mulher (mas retira a discussão de gênero do currículo escolar), um país onde os negros correspondem a 15% dos alunos universitários e a 67% da população carcerária.
Este ódio cego, esta parcialidade hipócrita, este bombardeio cirúrgico que pretende eliminar o PT -- e só o PT -- para 'libertar o Brasil', empoderando Renan Calheiros e Eduardo Cunha, não é o desabrochar da consciência cívica, é mais um fruto da nossa incompetência, mais uma vitória da corrupção; palmas para a nossa burrice.
MOISÉS MENDES - O Trump Verde-AmareloSão reais as chances de Donald Trump apresentar-se como o mais autêntico candidato republicano da direita, em todos os tempos, nas eleições americanas do ano que vem. Trump pode estar dizendo: chega de intermediários.
Até bem pouco, um sujeito como ele seria apenas o candidato exótico dos reacionários. Hoje, não. O bilionário é a mais recente aberração da democracia, com possibilidades concretas de sucesso nas prévias republicanas.
Você pode se perguntar sobre o porquê de não termos algo equivalente aqui. O capitalismo brasileiro não produziu uma assombração de rico-celebridade como Trump, talvez porque estejamos em estágio inferior.
Trump é qualquer um dos Bush elevado ao quadrado. Debocha de negros, gays, mulheres e mexicanos. Considera um republicano como Jeb Bush, o terceiro deles a aspirar à presidência, um fraco. E diz que John McCain, que já foi candidato do partido e é sobrevivente da guerra do Vietnã, não pode ser exaltado como herói, porque foi capturado pelos vietcongues. Trump não gosta de soldados que tenham sido capturados.
Quem um dia será o nosso Trump? Aqui, por mais que a esquerda se esforce, é difícil enquadrar adversários à direita como sendo de direita. Você não sabe ao certo o que possam ser os três pretendentes do PSDB ao governo, mas sabe que de direita eles não são.
Nem Alckmin, sempre citado como o mais conservador deles, tem posturas que possam ser enquadradas como de direita. Serra seria o social-democrata sobrevivente, das raízes do PSDB, mas até onde? E Aécio é Aécio. Até os mineiros pensam que ele é carioca. Se não sabem direito nem que é mineiro, quem apostaria nas orientações ideológicas de Aécio?
O nosso Trump ainda está por surgir. Você pode dizer que Levy Fidelix é o Trump que a extrema-direita brasileira merece, mas Fidelix é pobre e nem cabelo tem, quanto mais topete.
O que se sabe é que existe uma esquerda no Brasil, com muitas variações (PT, PC do B, PSOL, PSTU, PCO, parte do PV), mas não se encontra um agrupamento organizado de direita, mesmo que exista mercado. Talvez porque a nossa direita seja muito recatada para chegar ao ponto de oferecer lastro eleitoral como os que foram dados a um Trump, um Berlusconi, um Le Pen.
E, em meio a isso tudo, a esquerda que ainda sustenta o Planalto é tentada a concluir que só a direita volta às ruas, pela terceira vez este ano, para que o governo seja derrubado por um golpe improvável, ou pelo impeachment cada vez mais distante, ou pelo cansaço, ou por uma tragédia.
Não é bem assim. Neste domingo, um amigo, um parente, um colega seu irá participar da passeata, mas você não poderá dizer que ele é de direita só porque se alinha à classe média que pretende antecipar o fim do mandato de Dilma.
Mas se alguém ao seu lado disser, com absoluta convicção, que o Brasil é um país iluminado por ter se livrado dos velhos conceitos de esquerda e direita, que aqui tudo se confunde e se mistura, você pode então ter certeza de que essa pessoa é de direita.
Não há nada desabonador nisso, ao contrário do que pensa o próprio sujeito que é de direita e até classifica os outros como de esquerda, mas se nega a ser de direita.
Esse é o eleitor que viu o projeto de Eduardo Cunha se esfarelar e continua à espera de um Trump nacional com um topete mais glamoroso que o do Bolsonaro. O Trump sonhado por ele pode surgir em uma passeata como a deste domingo.
Até bem pouco, um sujeito como ele seria apenas o candidato exótico dos reacionários. Hoje, não. O bilionário é a mais recente aberração da democracia, com possibilidades concretas de sucesso nas prévias republicanas.
Você pode se perguntar sobre o porquê de não termos algo equivalente aqui. O capitalismo brasileiro não produziu uma assombração de rico-celebridade como Trump, talvez porque estejamos em estágio inferior.
Trump é qualquer um dos Bush elevado ao quadrado. Debocha de negros, gays, mulheres e mexicanos. Considera um republicano como Jeb Bush, o terceiro deles a aspirar à presidência, um fraco. E diz que John McCain, que já foi candidato do partido e é sobrevivente da guerra do Vietnã, não pode ser exaltado como herói, porque foi capturado pelos vietcongues. Trump não gosta de soldados que tenham sido capturados.
Quem um dia será o nosso Trump? Aqui, por mais que a esquerda se esforce, é difícil enquadrar adversários à direita como sendo de direita. Você não sabe ao certo o que possam ser os três pretendentes do PSDB ao governo, mas sabe que de direita eles não são.
Nem Alckmin, sempre citado como o mais conservador deles, tem posturas que possam ser enquadradas como de direita. Serra seria o social-democrata sobrevivente, das raízes do PSDB, mas até onde? E Aécio é Aécio. Até os mineiros pensam que ele é carioca. Se não sabem direito nem que é mineiro, quem apostaria nas orientações ideológicas de Aécio?
O nosso Trump ainda está por surgir. Você pode dizer que Levy Fidelix é o Trump que a extrema-direita brasileira merece, mas Fidelix é pobre e nem cabelo tem, quanto mais topete.
O que se sabe é que existe uma esquerda no Brasil, com muitas variações (PT, PC do B, PSOL, PSTU, PCO, parte do PV), mas não se encontra um agrupamento organizado de direita, mesmo que exista mercado. Talvez porque a nossa direita seja muito recatada para chegar ao ponto de oferecer lastro eleitoral como os que foram dados a um Trump, um Berlusconi, um Le Pen.
E, em meio a isso tudo, a esquerda que ainda sustenta o Planalto é tentada a concluir que só a direita volta às ruas, pela terceira vez este ano, para que o governo seja derrubado por um golpe improvável, ou pelo impeachment cada vez mais distante, ou pelo cansaço, ou por uma tragédia.
Não é bem assim. Neste domingo, um amigo, um parente, um colega seu irá participar da passeata, mas você não poderá dizer que ele é de direita só porque se alinha à classe média que pretende antecipar o fim do mandato de Dilma.
Mas se alguém ao seu lado disser, com absoluta convicção, que o Brasil é um país iluminado por ter se livrado dos velhos conceitos de esquerda e direita, que aqui tudo se confunde e se mistura, você pode então ter certeza de que essa pessoa é de direita.
Não há nada desabonador nisso, ao contrário do que pensa o próprio sujeito que é de direita e até classifica os outros como de esquerda, mas se nega a ser de direita.
Esse é o eleitor que viu o projeto de Eduardo Cunha se esfarelar e continua à espera de um Trump nacional com um topete mais glamoroso que o do Bolsonaro. O Trump sonhado por ele pode surgir em uma passeata como a deste domingo.
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