17 março, 2015

Trocando Nomes para o Bem do Brasil


Querido diário:

O título de hoje fala sutilmente nas manifestações de domingo passado. A Zero Hora de hoje permite-me reproduzir algumas características do manifestante modal: educação superior, ganhando mais de dez salários mínimos. É a burguesia? E se for? Se for, torna-se claro que há os burgueses abilolados, como os que desejam o retorno dos militares, nada de Deodoro ou Hermes, mas Castelo e Costa. Só bebendo. Mas também digo "só bebendo" para aqueles que pensam que haverá alguma salvação para um país de instituições tão frágeis que não conseguiu estruturar um sistema judiciário decente que impedisse a ladroagem de 515 anos de existência e a invasão por oportunistas de tudo que é meandro do poder e, especialmente, esta pérola da democracia que são os partidos políticos de hoje e de antanho.

Falando neste lado elitista das manifestações, citei no título da postagem aquela história de 1964 que criou-se o slogan de "dê ouro para o bem do Brasil". Muita gente deu, dentes, alianças, broches e tudo ou quase tudo foi mesmo é roubado por ancestrais dos ladrões de hoje mesmo. (Esta vírgula antes dos dentes é legítima, senhoras editoras.) E trocar nomes significa achar um, unzinho, que lidere um verdadeiro projeto nacional, alguma brecha para uma aliança de classes.

Em compensação, adquiri em Lisboa e estou lendo

SHRADY, Nicholas (2014) O dia do fim; ira, ruína e razão no Grande Terramoto de Lisboa de 1755. Alfragide: LeYa.

O "dia do fim" é, talvez, metafórico para dizer que o terramoto (sic) converteu-se no final de uma era, especialmente o domínio do clero sobre a sociedade portuguesa, de alto a baixo. E, em especial, a queda do poder dos jesuítas. Desses tempos, o que eu sabia era que o (futuro) Marquês do Pombal (*1699, +1782) expulsara os jesuítas de Portugal, o que acarretou a expulsão desses rapazes das Missões localizadas nas cercanias de Três Passos, Cruz Alta, aquela região semi-abandonada mesmo nos dias que correm.

Já que falei em política, sigo falando em economia política e cito a interpretação do britânico autor do livro sobre o terremoto do dia de todos os santos sobre o ideário de Sebastião José de Carvalho e Melo (o futuro Marquês do Pombal):

[ele] percebeu a importância do poder como garante (sic) da ação independente, da necessidade de promover uma classe dinâmica de negociantes e comerciantes, e o papel predominante da finança na sobrevivência de um Estado moderno. Como Maria Teresa e seu chanceler Wenzel Anton von Kaunitz, Sebastião José aprendeu acerca de reformas administrativas modernas, das bençãos da centralização e da necessidade de desencadear a Igreja dos assuntos da governação.
   Sebastão José de Carvalho e Melo estava, contudo, bem ciente de que a tarefa da reforma em Portugal seria penosa porque o país estava agrilhoado em quase todas as frentes. Os problemas, já com a idade de séculos, das comunicações obsoletas, indústria insuficiente, défices comerciais, estagnação social e um sistema educativo antiquado, tudo isso eclipsado pelo resplendor ofuscante do ouro, estavam a impedir Portugal de tomar o seu lugar de direito entre as nações civilizadas da Europa. Chegara o tempo de um plano abrangente de reforma e Sebastião José era provavelmente o único homem do reino que conseguiria levá-lo até o fim.

E não há como deixar de pensar que dificilmente virá da classe alta a determinação para acabar com a lassidão que toma conta do tecido empresarial brasileiro. Atrevo-me a sugerir que a moda dos manifestantes educados e ricos seria mesmo de políticos, seus parentes, os cargos em comissão e, finalmente, os estamentos bem aquinhoados da administração pública. E que ainda temos que esperar pela "classe dinâmica".

E com isto não quero dizer que não haja roubalheira no país, o que é um problema essencialmente do sistema judiciário, o que -por certo- inclui tanto a polícia federal, estadual e municipal, como a turma do imposto de renda que ainda não entendeu como fiscalizar a sonegação e o enriquecimento ilícito!

DdAB
Imagem daqui. Obtive-a ao consultar no Google Images a expressão "resplendor ofuscante do ouro". É um clímax ou anticlímax? O ouro ali não resplandece, mas o site é mesmo a apologia do poder monopolístico/mercantilístico da República Popular da China.

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