02 março, 2015

Borges por Cortázar e o Japão pela Economist


Querido diário:

Primeiro vejamos o que Julio Cortázar disse de Jorge Luis Borges, não que esta seja a sentença final do primeiro sobre o segundo, nem que ele desejasse que seu conhecimento disto e daquilo passasse essencialmente por esta sentença (páginas 140-141):

[...]

Já me aconteceu dar-me na cabeça perder uma noite em San Martín e Corrientes ou num café de Saint-Germain-des-Prés, tendo-me entretido a ouvir alguns escritores e leitores argentinos embarcados nessa corrente que pensam "comprometida" e que consiste grosso modo em ser autêntico (?), em enfrentar a realidade (?), em acabar com os bizantinismos borgeanos (resolvendo hipocritamente o problema da sua inferioridade face ao melhor de Borges através da falácia usual de se valerem das suas tristes aberrações políticas ou sociais para diminuir uma obra que nada tem a ver com elas). 

[...]

Sigo, bem percebemos, no espírito de:

CORTÁZAR, Julio. A volta ao dia em 80 minutos. Lisboa: Cavalo de Ferro, 2009. (Impresso na Itália), [Tradução de Alberto Simões].

Simplesmente fiquei lendo dezenas de vezes, vezes sem conta, aquela parte das "tristes aberrações políticas ou sociais". Que é isto? Por exemplo, I presume, a de simpatizar com as ditaduras do cone sul, a milicada de fala castelhana. Por coincidência, comecei a ler este Cortázar em Lisboa, cidade em que há três anos ou quatro, postei isto aqui, que nem reli agora, mas se me lembro, deixo bem claro que uma coisa é o Borges intelectual e outra é o puxa-saco autoritário. E lembro/lembrei (?) daquilo que Marx disse de Balzac: seu humanismo transcende o reacionarismo.

E é de reacionarismo que desejo falar sobre a Economist. Naturalmente esta é uma revista "flor de reacionária", como digo eu já que estou de volta aos pampas gaúchos. Estou na página 59 da edição de 14 de fevereiro, onde vemos um box sobre o Japão:

Finance and economics
Inequality in Japan
Tokyo
The problem is not the super-rich

Depois de todos estes salamaleques, vem a notícia que envolve desigualdade e Piketty. A revista se inquietou que seu livro já vendeu 130 mil cópias naquelas bandas:

[...]

Many argue that what Japan really needs is a lot more inequality, but of  a different kind. Its employment system still tends to reward seniority and status rather than performance, in what Japanese call akyu byodo or 'bad egalitarianism'. If people were paid for what they accomplish, argues Robert Feldman of Morgan Stanley, the economy would grow faster. And Japan's chronically low levels of business creation mean that there is worryingly little wealth inequality of the sort created by entrepreneurs who become billionaires by dreaming up wexciting new products and services.

[...]

Então esse "many argue" é o sr. Robert Feldman! E qual sua teoria do valor? Pagar ao trabalhador pelo que este realiza? E como calcularia isto? Preços de mercado? E se estes são distorcidos pelo poder de monopólio, como é caso do afamado porteiro do edifício sede da Petrobrás na Av. Rio Branco na BelaCap?

E será que os spectacular rewards de que nos falou Schumpeter têm mais a ver com o discreto Japão depois do salto desenvolvimentista ou com a China e sua turma de jornadas de trabalho infantil de 14 horas diárias? Não estamos falando de tristes aberrações políticas e sociais dessa turma da Economist? Será que não entendem o que é sociedade igualitária? Mesmo sem defender o Japão e seu Gini = 0,378, apavora-me um crescimento chinês que em 30 anos levou a um Gini = 0,55. Bem sabemos que esta altura de Gini de mais de meio metro é o estilo brasileiro.

DdAB
Tem no mínimo mais uma postagem eletrizante sobre a "categoria" aqui. E a imagem veio daqui.

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