21 novembro, 2014
Mércio, Moisés Mendes e o MAL*
Querido diário:
Leio o jornal Zero Hora como melhor posso, como sabemos, como lamentamos... Mas nem tudo é descontentamento. Por falar em descontentamento, cansei há muito tempo de ler o colunista Paulo Santana, que escreve indefectivelmente na penúltima página do jornal. Mas há algum tempo, não apenas como "interinos", Santana cedeu duas ou três colunas por semana no local de costume a Moisés Mendes. Já sei pilhas sobre a história pessoal do novo cronista, que de novo nada tem, mas me parece bastante inspirado e não vejo nele o ranço conservador que se abate sobre a aura do jornal.
A página 55 de hoje reserva o espaço tradicional à tradicional coluna. Ausenta-se Paulo Santana, entra Moisés Mendes e a postagem, digo, e "Lobos e golpes". Lobos é o singular de lobão e golpes é o plural de gente que quer a volta dos militares ao poder. Não de um general Henrique Dufles Teixeira Lott, que nunca chegou a ele. Nem, talvez, de um general Euler Bentes Monteiro que tampouco chegou por lá. Quais militares? Sem eleição? Lobão, não. Ou melhor, Lobão andou manifestando-se absolutamente contrário ao governo liderado pelo PT e não acompanho tanto a ponto de dizer que ele recomendou a volta da ditadura militar. O fato é que está escrito por Moisés que Lobão desistiu de participar de uma passeata em Sampa em que a palavra de ordem, além de palavrões, era pedir a volta dos militares, mesmo sem eleições.
E daí? Daí é que vem o alias de Moisés Mendes, o seu Mércio. Ele/s t/e/ê/m um vizinho admirável e que, pelo que melhor entendo, levanta uma bandeira disparada pelo Planeta 23. Pois foi por aqui que lançou-se o MAL* (Movimento pela Anistia aos Ladrões Estrela), por ocasião de alguns escabelados quererem o impeachment da então governadora Yeda Roratto Crusius, minha ex-professora e colega. Achei uma falta de cortesia quererem começar a moralidade precisamente para cima da Yeda. E tinha minhas razões. De que adiantaria a assembleia legislativa gaúcha impedir a Yeda e seguir ela mesma a desabotinada roubalheira que por lá percola.
Lançado o MAL* e tendo ele recebido aval nas eleições que acabam de ocorrer no sofrido país, leiamos se a corrupção começou em 1500 d.C. e o que disse o vizinho:
Até o guarda sabe — e o sabiá começa a entender — que as empreiteiras pagam propinas para superfaturar tudo o que fazem. Outra coisa que seu Mércio sabe: as empreiteiras pagam propinas desde que nasceram. Mas antes o esquema era mais azeitado, ninguém denunciava e ninguém investigava.
Um vizinho de seu Mércio chegou a achar que a corrupção era uma invenção de agora. Esse vizinho defende que não se mexa no passado dos outros. Pra que revirar nas propinas dos anos 1990, que já foram quitadas, consumidas e esquecidas?
Não sei se o vizinho instila a mesma motivação do MAL*. O MAL*, como sabemos, é contra a hipocrisia e, principalmente, contra os programas de auditório transferidos para a política, como o mensalão, o petrolão, o impeachment sistemático, essas coisas. O problema verdadeiro do Brasil é a impunidade, claro. Mas o principal problema não é o estoque e sim o fluxo que, no devido tempo, acabará com o estoque, expandindo-o ou levando-o a zero. Então o MAL* pensa que, se -a partir do próximo primeiro de janeiro- o roubo parar no Brasil, em 20 ou 50 anos, teremos a mais perfeita honestidade praticada por todos os agentes sociais relevantes. Desabotinada como parece, esta proposta ainda tem o mérito de sugerir que, se for o caso, podemos adiar a implantação da moralidade para daqui a esses 20 ou 50 anos, desde que isto seja feito real, realeja, realarrealmente!
DdAB
Imagem daqui. Procurei por "terá algum mércio entre os ladrões da petrobrás?" e vieram várias mensagens, entre elas a dos irmãos Metralha, claro, pois entre os milhões de agatunados haverá algum Mércio, claro. E o artigo completo está aqui.
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