26 novembro, 2014

O Encilhamento e a Indústria


Querido diário:

No outro dia, andei dando umas lidas em

LEVY, Maria Bárbara (1980) Encilhamento. In: NEUHAUS, Paulo (org.) Economia brasileira: uma visão histórica. Rio de Janeiro: Campus. p.191-255.

E achei milhares de aspectos interessantes, mas destaquei dois que ficam despercebidos e parecem ter-se tornado consenso muito tempo depois.

Primeiro: Ruy Barbosa e a indústria na página 201:

   As ideias industrializantes de Ruy Barbosa já eram conhecidas antes mesmo que ele fosse chamado ao Ministério da Fazenda. "Mas somos uma nação agrícola. E por que não também uma nação industrial? Falece-nos o ouro, a prata, o ferro, o estanho, o bronze, o mármore, a argila, a madeira, a borracha, as fibras têxteis? Seguramente não. Que é, pois o que nos míngua? Unicamente a educação especial, que nos habilite a não pagarmos ao estrangeiro o tributo enorme da mão-de-obra, e sobretudo da mão-de-obra artística".

Em outras palavras, education, education, education! Como sabemos, o engenheiro produz tratores, mas tratores não produzem engenheiros.

Segundo: Clifton e a indústria, página 203

   [...] a fuga aos preceitos monetários exportados pela City de Londres, onde o capital financeiro deveria ser suficientemente móvel para, a qualquer momento, poder ser deslocado para outra parte do mundo mediante a pronta liquidação de seus créditos.

E aqui? Ok, ok. James Clifton não é do artigo de Levy, mas que parece lá isto parece. Que nos disse Clifton? Que a grande corporação moderna age como um banco, buscando oportunidades rentáveis em setores os mais díspares e mesmo distantes da tradição do grupo, desde que sejam mais rentáveis. É, segundo ele (e incorporado por mim) o elogio da lei da concorrência inter-capitalista.

E que dizer deste pessoal que agora fala em "reindustrialização" para retirar o prejuízo da "desindustrialização"? Eles ainda não aprenderam que a política pública deve

.a. ter uma taxa de câmbio decente (e, claro, a de juros), no sentido de equilibrar o balanço de transações correntes?

.b. não fazer "política industrial", mas "política educacional", ou melhor, políticas provedoras da formação de capital humano e não físico.

DdAB
Imagem: aqui.

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