13 novembro, 2014
Palavras por Dia
Querido diário:
No outro dia, revendo antigos brinquedos, encontrei um recorte de jornal -talvez Zero Hora- o que presumo ser uma entrevista (em português) com Anthony Burgess (aqui tá ele, não a entrevista...). Seria em torno de setembro de 1987, alguns dias depois de eu ter deixado o cargo de diretor técnico da FEE e outros tantos dias antes de meu retorno ao regime de tempo integral da UFRGS.
-O senhor ainda enfrenta a acusação de escrever em demasia?
Burgess: Dizer que sou prolífico, prolífico e prolífico virou uma acusação gratuita. Mas não é verdade. O que acontece é que sou um trabalhador. Acordo de manhã e tento escrever mil palavras por dia. Não é muito. Eu posso escrever estas mil palavras antes do café da manhã e dispor do resto do dia para mim. Mil palavras por dia correspondem a 365 mil palavras por ano, o que é apenas a metade de "Guerra e Paz". O que é que há de errado, afinal, em escrever mil palavras por dia? O que eu devo fazer, no lugar? Jogar golfe? Passear de barco? Jogar bridge? Eu prefiro trabalhar!
Primeiro, gostei desta do "prolífico, prolífico e prolífico", para iniciar a argumentação de não ser prolífico... Eu sempre penso, quando se trata de avaliar a importância intelectual de Marx, em quanto tempo eu mesmo gastaria para passar a limpo as obras completas dele e Engels à mão ou no teclado. Se bem lembro, minha tese de doutorado tem mais ou menos o "tamanho" do ano de trabalho de Burgess (eu levei quase cinco...). E se bem lembro o máximo que à época era permitido na University of Oxford era 380 mil palavras em toda a tese. Se quisesse escrever mais (por exemplo, uma tese de história) teria que pedir e ganhar autorização. E se bem lembro, chocou-me uma frase -suponho- de Stravinsky que dizia, para a música, que se tens algo a dizer, dize-o logo e pronto. Concisão, simplicidade: são virtudes do tempo. Já houve tempo em que mesmo os gordinhos estavam na moda. Com efeito, duvido que alguém diga que Tolstói poderia ter resumido "Guerra e Paz" a um conto de 25 páginas, não é mesmo?
Mas também achei que aquelas 1.000 palavras por dia renderam-lhe algum dinheirinho, tanto é que ele escrevia antes do café da manhã e pode jogar bridge, golfe ou passear de barco no restante do dia, hehehe. Mas, pela Wikipedia parece que ele gastava parte de seu tempo fazendo música.
DdAB
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