Querido diário:
A estas alturas do biênio 2013-2014, tivemos diversas postagens sobre a primeira sentença de Ulysses, de James Joyce, em diversas traduções. O tema poderia render estudos para o resto de nossas existências. Nossas? Começa agora a continuação de uma série de postagens falando sobre a primeira sentença de O Capital, de Karl Marx. Iniciemos falando em quem é a verdadeira edição princeps de O Capital. A edição que melhor conheço é a inglesa, com tradução de Ben Fawkes e publicada pela Penguin/Pelican. Chegaremos a ela em breve. Para iniciar, falemos no original em alemão, que não diverge tanto entre uma edição e a princeps. E parece que esta é a tradução francesa, revisada pelo próprio Marx depois de tê-lo feito na edição alemã. Isto dá à tradução de Ben Fawkes certa noção de definitiva.
O começo do Volume 1 deixa-se ler como:
Der Reichtum der Gesellschaften, in welchen kapitalistische Produktionsweise herrscht, erscheint als eine "ungeheure Warensammlung", die einzelne Ware als seine Elementarform. Unsere Untersuchung beginnt daher mit der Analyse der Ware.
Em outras palavras, palavras do Google Tradutor:
A riqueza das sociedades em que o modo capitalista de produção prevalece aparece como uma "imensa coleção de mercadorias", a mercadoria indivíduo como sua forma elementar. Nossa investigação deve, portanto, começar com a análise de uma mercadoria.
No Volume 2 a primeira sentença é:
Der Kreislaufsprozeß des Kapitals geht vor sich in drei Stadien, welche, nach der Darstellung des ersten Bandes, Folgende Reihe bilden:
Palavras do tradutor do Google:
O processo de circulação de capitais procede em três estágios, que formam após a apresentação do primeiro volume, as seguintes séries:
Para o terceiro volume, fica-nos a primeira sentença como:
Im ersten Buch wurden die Erscheinungen untersucht, die der kapitalistische Produktionprozeß, für sich genommen, darbietet, als unmittelbarer Produktionsprozeß, bei dem noch von allen sekundären Einwirkungen ihm fremder Umstände abgesehn wurde.
Na tradução do Google, lemos:
No primeiro livro do fenômeno foram investigados, o processo de produção capitalista, em si, apresenta, como um processo imediato de produção que ainda estranho para ele circunstâncias foi além de todos os efeitos secundários.
O primeiro comentário sobre a escrita em alemão (logo eu falando, eu, que sei não muito mais que isto...) tem a ver com a idiossincrasia desta língua relativamente ao português em grafar os substantivos em maiúsculas. Mas ela não parecerá tão heterodoxa, pois é bem possível que a prática hoje arcaica da língua inglesa de fazer o mesmo será o elogio de sua transposição do saxão para o anglo. Por exemplo, na Fable of the Bees (The grumbling hive: or, knaves turn'd honest) [aqui tem], Bernard de Mandeville tem em sua primeira sentença
"THE Generality of Moralists and Philosophers have hitherto agreed that there could be no Virtue without Self-denial; but a late Author, who is now much read by Men of Sense, is of a contrary Opinion, and imagines that Men without any Trouble or Violence upon themselves may be naturally Virtuous."
E o trecho a seguir veio daqui:
Na linha do remoque de Mark Twain, tal prática poderia
creditar-se àquela dificuldade em encontrarmos o centro de palavras de inúmeras
sílabas. Estatística, por exemplo, como acentuou Keynes, deixa-se ler
como Wahrscheinlichkeitsrechnung. Cheguei
aqui por meio de Robert Skidelsky, na p.178 do v.1 da biografia de John
Maynard Keynes que este reclamou: "I wish the German word for Probability
hadn't 27 letters", e dá-nos -Skidelsky- o original em alemão, com alta
probabilidade de que ele ou eu tenhamos cometido algum erro de ortografia... [O fato é que há 27 letras naquele negócio ali atrás.]
E que dizer do começo falando em mercadoria?
.a. "economia
é a ciência que estuda a oferta e a procura". Ok, ok, é exagero, eu bem
entendo que o mercado não resolve todos os problemas da vida social (como é
dito em Bêrni & Lautert's editores, Mesoeconomia, às folhas tantas). Mas é óbvio
que a lei da oferta e procura é o centro do mundo da produção de mercadorias. E é quase tautológico dizer isto.
.b. não há mercadoria individual: ou há duas (que se espelharam uma na outra para viabilizar a troca) ou nenhuma, pois se não houve troca, não houve salto mortal e não houve valor nem a mercadoria que o geraria.
DdAB
A imagem veio do livro que baixei seguindo o link acima referido. E por que Mandeville entrou neste assunto? Apenas por causa das letras maiúsculas em suas iniciais. Por puro azar, a edição de que falamos não tem esta peculiariadade, mas que há vi, ou melhor, que havia, lá isto há vi, ou melhor, há vira... E a há no livro de William Petty.
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