24 julho, 2014

Maquiavel, Nash e Pareto

Querido diário:

"Os fins justicam os meios! Justificam? Vão-se milhares de anos desde que prestei meu primeiro (prestei vários, rsrsrs) vestibular. E uma década, mais ou menos, em que dou uma olhada no caderno "Vestibular" do indefectível jornalzinho (pelo tamanho tabloide) Zero Hora. E nem sempre tento fazer problemas, exercitar soluções, e nem sempre o leio na íntegra. E muitas vezes aprendo coisas que talvez devesse ter aprendido anteriormente. Hoje, em particular, há duas páginas sobre Maquiavel enquadrando-se em "Sociologia", do prof. Felipe S. Karasek e ainda "Política Moderna". Destaco dois pontos, um relacionado ao Dilema de Prisioneiro e o outro ao conceito de unanimidade que preside o conceito de ótimo de Pareto.

DILEMA DE PRISIONEIRO (O Príncipe)
Um senhor prudente não pode nem deve respeitar a palavra dada quando esta observância se volta contra ele e quando deixam de existir os motivos que o levaram a empenhá-la. Se todos os homens fossem bons, esse não seria um bom preceito; mas, posto que os homens são maus e não manteriam a palavra a ti empenhada, também não deves mantê-la em relação a eles.


ÓTIMO DE PARETO (Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio)
Não é o interesse particular que faz a grandeza dos Estados, mas o interesse coletivo. É evidente que o interesse comum só é respeitado nas repúblicas: tudo o que pode trazer vantagem geral é nelas conseguido sem obstáculos. Se uma certa medida prejudica um ou outro indivíduo, são tantos os que ela favorece, que se chega sempre a fazê-la prevalecer, a despeito das resistências, devido ao pequeno número de pessoas prejudicadas.

"MAQUIAVEL CONTRA O MAQUIAVELISMO"
A frase Os fins justificam os meios nunca foi realmente escrita por Maquiavel. Ela surgiu de uma má interpretação de sua teoria. Não encontramos nos escritos de Maquiavel a permissão para a prática de crueldades, pois, assim, o governante perderia a confiança do povo - a qual constitui a verdadeira segurança (fortezza) do príncipe.

Pois bem. O primeiro caso é claro: estamos em um jogo estático em que a estratégia dominante é trair. Mais que estratégia dominante, temos agora um equilíbrio de Nash, pois -qualquer que seja a ação adotada pelo outro jogador- o melhor é trair, inclusive por pensar que o outro pensa que nós trairemos e aí mesmo é que vai trair-nos.

O segundo caso fala em uma situação em que a regra da unanimidade associada à posição de ótimo de Pareto e as mudanças que se tornam mais difíceis quando a sociedade a adota. Ou seja, no presente caso, vemos mais uma abordagem utilitarista, a saber, quanto maior o bem estar dos outros em resposta a uma mudança na alocação de recursos, mais vale a pena deixar a minoria de lado. Claro que há soluções mais delicadas do que simplesmente impedir a mudança ou tê-la a qualquer preço.

No terceiro, temos o desmentido da famosa asserção de que os fins justificam os meios. Também de autoria complicada -ouvi dizer que era de Karl Marx- é a frase que diz que, por contraste, todo fim que requer um meio injusto é também ele injusto.

DdAB
Imagem daqui. Vi que é um site dos peritos do INSS, mas nada mais olhei. Ergo não sei se usam a frase falsamente atribuída a Maquiavel como ironia, algo contra os governantes, que -em minha visão- é sempre bem-vindo, pois a cambada é de matar...

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