08 julho, 2014
7 x 1 e a Sociedade Igualitária
Querido diário:
A Copa do Mundo ainda não acabou, nem para o Brasil, que pode disputar o quarto lugar com a Argentina... Parece mesmo que tomar 7 x 1 da Alemanha, ou de qualquer outro time, não oferece maiores lições. No outro dia, eu falava em igualdade no esporte e a indesejabilidade de enormes desigualdades. Claro que não podemos dizer que a Alemanha não é adversário para o Brasil. Somos iguais, aliás, a Alemanha ganhou três Copas do Mundo e Brasil ganhou cinco, parece que somos iguais, pois há alguns itens de avaliação em que a Alemanha comparece com mais vigor, por exemplo, foi ela que jogou mais partidas no mundial relativamente ao Brasil.
Ou seja, a igualdade no futebol é necessária para que se valorize a desigualdade: apenas vencendo a iguais é que realmente somos felizes. E, no caso, infelizes. Seria, claro, inconcebível que a seleção brasileira perdesse para um combinado de funcionários aposentados da Tipografia Tupy com os da Editora GangeS. E também seria estranho que ela aceitasse um desafio desta fração do setor corporativo e ainda mais fosse derrotada.
E que mesmo é que a sociedade igualitária tem a ver com isto? Tinha gente já antevendo a derrota do selecionado brasileiro e ouvi na rádio alguém dizer que há ou houve ou haverá planos para criar ambientes em que os meninos possam, desde cedo, jogar futebol. O que me parece é que estes lugares privilegiados para se ensinar letras, matemáticas, esportes e artes é mesmo a escola. Uma escola com assistentes sociais, professores, recreacionistas, cozinheiros, essas coisas da vida de uma escola decente. E que, na hora do esporte, aprenda-se o fair play, aprenda-se mesmo a ser atleta, competidor, disciplinado, organizado, dando menos valor a penteados e tatuagens e mais para, quem sabe?, a história do esporte, das copas do mundo, essas coisas.
Não me parece haver qualquer lição a ser retirada desta acachapante derrota da seleção de futebol do Brasil para a da Alemanha. Pelo menos nada que já não soubéssemos. Uma coisa é ter um dia de azar e outra, bem diferente, é termos uma inserção absolutamente periférica no circuito mundial do futebol: bons jogadores, bons treinadores, bons roupeiros, quando tudo isto falta aqui dentro. Lá no outro dia, eu citava Moraes Moreira cantando em 1982 ou 1986 (quatro anos passa rápido, vejamos o que se faz neste país nesse período, e eu anseio por uma constituinte!): quem sabe tem mais de um quebrando a casca do ovo! (Contei uns milhões na foto acima!!!)
Tomara que estejamos mesmo no fim de uma era!
DdAB
Imagem aqui. O índice de Gini da desigualdade na distribuição da renda da Alemanha é 0,27 e o do Brasil é 0,51. Mas diretamente o igualitarismo não explica a tragédia do futebol e sim a do cotidiano brasileiro, inclusive naquela cambada que acha que as eleições podem resolver a menor das misérias que nos aflige.
P.S. aditamento em 13/fev/2015: recebi uns comentários sobre esta postagem ainda ontem, quando estive na cidade de Coimbra. Indagaram-me o que significava aquela ilustração com uma caixa de ovos quebrados. Dei-me conta de que não esclareci isto. É uma citação ao frevo "Sangue, Suíngue e Cintura", de Moraes Moreira, produzido por ocasião da copa do mundo de 1986, na Espanha. Ele diz: "quem sabe tem mais de um quebrando a casca do ovo", falando em futuros jogadores. Claro que houve umas safras boas e outras ruis. Desde então o Brasil tornou-se penta-campeão mundial de futebol. E manteve-se na privilegiada posição no rank da desigualdade da distribuição da renda.
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2 comentários:
Esta derrota, principalmente pela forma que se apresentou no jogo de hoje, pode servir para o brasileiro tomar consciência de sua realidade. Se este fato realmente contribuir para abrir os olhos da população brasileira, eu me atrevo a dizer que todos os bilhões despejados nos estádios Brasil afora, mesmo em estádios que jamais serão usados e que virarão um museu a céu aberto, pelo menos podem ter valido a pena, uma vez que o país, após essa tomada de consciência, tenha ganhado a chance de mudar o seu rumo.
Caro Anônimo:
Concordamos em 100%. E eu tenho dito que aqueles otimistas que pensam que poderemos mudar algo "em outubro", nas eleições, são iludidos. Há quatro anos, eu falava na chapa Serra-Dilma, sugerindo que um ou outro, se eleito, nada faria de verdadeiramente inovador. Agora, claro, falarei na chapa Dilma-Aécio. Quero, ao contrário, a constituinte já!
DdAB
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