Querido diário:
Estamos de cara nova (dialeticamente, diria Carlos Cirne-Lima, o que vemos na imagem é a cara velha). Talvez apenas iniciando um processo de transição a uma cara nova. Tudo por causa da copa do mundo. Ouvi de um torcedor argentino que meu blog ficaria melhor com as cores que mais agradaram a Jorge Luis Borges, a Julio Cortazar, a Ernesto Sabato e a tantos outros. Pensei que a melhor solução seria mesmo eu voltar a meu ramerrão e comentar a manchete do jornal Zero Hora de hoje, como sabemos, meu -que remédio?- formador de opinião e agenda de assuntos.
Momentos antes de começar a escrever aqui, o torcedor de que falo chamou-me a atenção para uma notícia que viu ao vivo na TV de seu hotel porto-alegrense, que já está a postos para os eventos esportivos supervenientes. Disse-me ele que viu cenas de uma estação de metrô de São Paulo (ele pronuncia 'sáo paullo) sendo vandalizada por brasileiras e brasileiros. Quebraram tudo, disse ele.
Eu, que estava pensando em comentar a manchete do jornal, que diz que a ponte prometida pelo governo há milhares de ano para secundar a ponte velha deveria ter a construção iniciada no mês findo, mas parece que o pedido de licença ambiental nem começou a correr na repartição pública pertinente. Impertinente?
Como sabemos, ao passar a ter -inspirado por Andrew Glyn (aqui)- uma visão não óbvia do que significa uma sociedade igualitária. Ele mesmo diz que igualitarismo, por exemplo, não é todos termos direito a uma cirurgia óssea uma vez por ano, mas todos direito a uma cirurgia, os carentes de adequada estrutura óssea, terão reparos na área, os carentes de coração saudável tê-lo-ao consertado, e assim por diante. Em minha visão, o igualitarismo -por falar em saúde- começa com uma concepção universal: hierarquizam-se as gravidades das doenças e os remédios para todas elas vão sendo garantidos a toda a população gradativamente. No caso, ser-se-ia (esta do serceía é braba...) credenciado a, por exemplo, acabar com a barriga dágua. Depois do sumiço desta vergonhosa endemia é que se começaria, por exemplo, a autorizar tratamento de bicho-de-pé. Depois, começariam cirurgias mais simples (apêndice?), e assim sucessivamente. É inconcebível que haja pessoas beneficiando-se, hoje em dia, de tratamento público para aids, mumps, slots, e a negadinha da barriga dágua siga praticando seu desequilíbrio, forçando a coluna vertebral, essas coisas.
Andrew Glyn permitiu-me ver que a chave da sociedade igualitária é a existência de empregos de qualidade para todos. Volta e meia, verbero aqui contra o emprego de papeleiro, de flanelinha, essas coisas. Então sou contra o igualitarismo? Claro que não, bem ao contrário, pois um emprego de flanelinha está, a seu modo, contribuindo para a manutenção da desigualidade, pois ele não detém um emprego decente e ganha salário menor do que a média. (Nem, by the way, um filho na escola, essas coisas).
E a ponte? Uma vergonha o governo ser incapaz de construir uma pontezinha destas que há aos magotes na vida chinesa a cada ano. E o meio-ambiente? As licenças ambientais estão atrapalhando a vida brasileira, não no sentido de que as obras devam situar-se fora do meio-ambiente, mas que o projeto da ponte, o projeto da raposa dourada, o do mico leão e tantos outros devem, desde o início, carregar as soluções ambientais (o que poderá, em certos casos, levar a análise de custo/benefício a descartar o projeto).
E, pelo que diz o jornal, a tal entidade que prolata (o quê?) as licenas ambientais precisa de dois meses para fazê-lo. Aí voltei a pensar no emprego como indutor da sociedade igualitária: por que não contratam mais gente? Parece que, pelo que agora se noticia neste canto de mundo, os assaltos em Porto Alegre estão diminuindo e os do interior do estado estão aumentando. Razão? Soldados interioranos estão patrulhando as ruas metropolitanas. Não era para contratarem aquele um milhão de soldados de que falo desde que aquele mesmíssimo Andrew Glyn deixou-me voltar a Porto Alegre e sugeri tal estratagema para a plataforma de um candidato a governador do estado. Não fez, nem se elegeu. Outro, que se elegeu, não foi reeleito, pois tampouco o prometeu e, menos ainda, fez.
A aritmética deste um milhão de empregos é simples: cada soldado que entra é um bandido que sai e, mais ainda, o soldado, além de distanciar-se ele mesmo do crime, ajuda a reprimir outros réprobos. Até hai-kai pinta aqui:
A paz!
Não está
prá nós...
DdAB
P.S.: for the record: o que vemos agora é:
A foto é do dia em que fui a São Sebastião do Caí. Fê-la Eliane Sanguiné.
P.S.S.: no jornal Zero Hora de amanhã (como é que sei?), leremos na página 43: Ponte | Dnit diz que obra no Guaíba está no cronograma. [...] o prazo contratual para o projeto é de três anos e meio (seis meses para a elaboração do projeto e licenciamento ambiental e o restante para a obra), e não de três anos como publicado." Como é que sei? Pois postei isto depois de ler o jornal, às 11h03min de 6/junho/2014, sexta-feira. E que digo? O jornal se precipitou. E mais: como é que esta obra teve um orçamento aprovado se não havia projeto? Só bebendo!
P.S.S.S. e aquela foto da Eliane Sanguiné durou apenas um dia: hoje (6/junho/2014) troquei-a por uma tirada por Paula de Paris.
Nenhum comentário:
Postar um comentário