27 maio, 2014

Ulysses: encarceramento na Grécia



Querido diário:

Claramente James Joyce nunca foi encarcerado na Grécia. E nem, presumo, Osman Lins, mas tudo ocorreu como se eles por lá tivessem sido retidos e levado longas conversas das quais teriam resultado as seguintes passagens em seus blogs, digo, seus livros, certos livros.

A. ULYSSES
No capítulo 17 - Ítaca, aquele de perguntas e respostas, página 720, tradução Bernardina, lemos:

O que fez Bloom no fogão?
Ele removeu a caçarola da placa da esquerda, ergueu e levou a chaleira de ferro pra a pia a fim de abrir a bica girando a torneira pra deixar a água correr.

Ela correu?
Sim. Do reservatório Roundwood no condado de Wicklow com uma capacidade cúbica de 2.400 milhões de galões, passando através de um aqueduto subterrâneo de condutos de filtro de canalizações isoladas e duplas construído a um custo inicial de planta de L5 [5 libras] por jarda linear passando por Dargle, Rathdown, Glen of the Downs e Callowhill até o reservatório de 26 acres em Stillorgan, uma distância de 22 milhas estatutárias, e daí, através de um sistema de tanques de descarga, por meio de um declive de 250 pés até a fronteira da cidade na ponte Eustace, parte superior de Leeson Street, embora devido a uma seca prolongada de verão e um suprimento diário de 12,5 milhões de galões a água caíra abaixo das comportas do transbordamento da barragem razão pela qual o fiscal do município e o técnico da usina hidráulica, Sr. Spencer Harry, C.E., por instrução do comitê da usina hidráulica tinha proibido o uso da água municipal par fins outros que não fossem os de consumo (encarando a possibilidade de ter recurso à água não potável dos canais Grand e Royal como em 1893) particularmente como os South Dublin Guardians, apesar de sua ração de 15 galões por dia por pobre fornecida através de um registro de 6 polegadas, ter sido acusada de um desperdício de 20.000 galões por noite pela leitura de seu registro segundo afirmação do agente legal da corporação, Sr. Ignatius Rice, procurador, agindo desse modo em detrimento de uma outra parte do público, auto-suficientes pagadores de impostos, solventes, sãos.

E que digo eu que disse Osman Lins? Diz lá ele na página 133:

Não, Petrarca, teu soneto não é duro bastante para celebrar o aniversário, o segundo, da iníqua morte de Julia, esmagada, cinco meses depois de dar por terminada a sua obra, sob um caminhão GM de cor verde, chassi de oitocentos e oitenta e dois milímetros, eixo dianteiro tipo viga em 1 (capacidade três mil, setecentos e cinquenta quilos), eixo traseiro flutuante dupla redução (capacidade nove mil e trezentos quilos), tanque para cento e quatro litros de óleo diesel, freios a ar, pneus de doze e catorze lonas, carregado, peso bruto total vinte e dois mil e quinhentos quilos.

Como será que o Osman iria falar sobre isto? Teria lido Ulysses? Ter-lhe-ia ficado no inconsciente esta passagem de Bloom filosofando sobre a água? A escassez de água que hoje já é uma consciência total planetária, clamando pelo governo mundial?

DdAB

Referências
LINS, Osman. A Rainha dos Cárceres da Grécia. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
JOYCE, James. Ulisses. Rio de Janeiro: Alfaguarra/Objetiva, 2007. Tradução de Bernardina da Silveira Pinheiro.

Postagens neste blog sobre o último livro do autor de "Avalovara": 
uma e outra.

Pedi "joyce e osman" e vieram estas (aqui) coordenadas, com duas lindas crianças.

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