06 maio, 2014

I = f(L): viva o dia da matemática!


Querido diário:

Hoje é o dia da matemática. Ergo, podemos afirmar que I é f de L, ou, com mais letras, o investimento da empresa ou do país é uma função direta dos lucros. Se pensarmos ao contrário, parece óbvio: se a empresa ou toda a economia anda no vermelho, não há espaço para se pensar em investimento, em crescimento. Por contraste, uma economia que está gerando bons lucros é uma economia propensa a expandir sua capacidade produtiva e, deste modo, produzir mais quando o novo capital representado pelo investimento entrar em ação. O círculo de virtudes se acelera nos casos em que os novos equipamentos, máquinas e instalações elevam a produtividade da empresa ou do país e, como tal elevação, expandem o lucro. A matemática não falha: se é o lucro que explica o investimento, é nele que devemos buscar a tibieza do último. E mais: lucro é receitas menos custos, ou L = R – C, evidenciando nova tibieza: o custo é inimigo do lucro. E isto é o que nos diz Michael Porter: os custos nunca são suficientemente baixos.

No caso de I = f(L), podemos pensar que o investimento deste ano depende do lucro do ano passado, o que é sensato, e também abre espaço para melhorarmos a teoria, pois o que teria sido feito do lucro do ano passado? Poupado? Mas há quem afirme isto, atendo-se à teoria alternativa que diz que I = g(P), ou seja, o lucro é uma função direta da poupança. Estes, a meu ver, não parecem dispor de noção, pois o que vemos nas contas nacionais é que I = P, ou seja, existe uma identidade ex-post entre investimento e poupança neste ano e, claro, também no ano passado.

Assim, há quem afirme que a poupança do ano passado é que explica o investimento deste ano, o que também é uma rematada bobagem, pois a poupança do ano passado é precisamente igual ao investimento do ano passado. E então, se dissermos que o investimento deste ano é função do investimento do ano passado, passamos àqueles modelos de defasagens distribuídas que explicam tudo, exceto as corriqueiras situações em que a economia "sai dos trilhos" e precisamente o enguiço começa no investimento deste ano. Ademais, o crédito é um mecanismo impulsionador da produção muito mais eficaz (numericamente falando) do que a poupança, não é mesmo?

O Brasil contemporâneo, mesmo acossado por uma taxa de câmbio condutora da alegria dos chineses, vive um crescimento modesto, mas não tão fraco a ponto de levar a contabilidade ao vermelho. Em outras palavras, há lucro. Ainda assim, não há investimento em nível que prometa mais investimento e crescimento em períodos distantes. Na empresa, o lucro é retido ou distribuído aos proprietários, hipótese em que pode tomar novos rumos produtivos ou ser aplicado no consumo de bens de luxo.

Como transformar lucro distribuído em lucro retido? Um jeitinho impopular, mas eficaz e necessário no país de enorme desigualdade, é fazer com que o imposto de renda seja maior para a pessoa física. Neste caso, ela poderá optar entre mais lucro agora ou muito mais depois do crescimento. E + ainda: na equação que aponta que, quanto maior o custo, menor o lucro, pode-se retirar dos custos os pró-labores mais elevados do que os destinados aos gerentes além do que eles ganhariam em ocupações alternativas, seu custo de oportunidade. O que falta, como na fábula, é um rato capaz de prender o guizo no pescoço do gato!

DdAB
Imagem: aqui.

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