28 maio, 2014
Ulysses: conjeturas sobre pudins
Querido diário:
Na página 188 da tradução de Ulysses de Joyce feita por Bernardina da Silveira Pinheiro (ver milhares de postagens aqui no Planeta 23 mesmo), lemos:
Meu Deus, o vestido daquela pobre criança está em frangalhos. Ela parece subnutrida também. Batatas e margarina, margarina e batatas. Depois é que eles sentem. A prova do pudim. Solapa o organismo.
Meu deus, digo lá eu aqui. Tanta coisa. Eu nem pensara inicialmente no vestido mas naquele "a prova do pudim". E agora ao digitar aqui neste Planeta, flagrei-me daquele "depois é que eles sentem".
A prova do pudim. Difícil de traduzir, pois Joyce -bem o sei- estava pensando no ditado inglês "the proof of the pudding is in the eating", que quer dizer "ver para crer". Como abreviar "ver para crer"? "Ver"? "Ver para"? E ainda tem o "seeing is believing". Sabe-se lá, não sou tradutor profissional e se traduzir algo será a média de todas as traduções já feitas e por fazer de volta para o inglês.
E agora o que me parece o fim-da-picada. A pobre criança é faminta, tem 14 irmãos praticamente forçados a nascer por um padre. Diz Joyce:
Um nascimento quase todo ano. Isso faz parte da teologia deles ou o padre não confessará a pobre mulher , não lhe dará a absolvição. Crescei e multiplicai. Onde já se viu uma ideia dessas? Comem tudo de você casa e lar. Eles mesmos não têm família para alimentar. Tudo do bom e do melhor. Suas adegas e despensas.
Ou seja, estamos falando de um tempo de Irlanda miserável, a grande fome de ainda estava na memória e outros episódios de fome também estavam em pauta. O que mais corta meu coração é perceber que, no Brasil contemporâneo, este tipo de coisa ainda acontece. A pobreza, o descaso com a nutrição e a educação, ambos minam o futuro luzidio. Teremos, penso, problemas no mínimo ainda por 100 anos.
DdAB
Imagem daqui.
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