10 outubro, 2011

Dinheiro e Escassez

querido blog:
a antepenúltima página de Zero Hora tem uma seção chamada de "Almanaque Gaúcho" e tem piadas e curiosidades de vários tamanhos, informando inclusive o "santo do dia": Francisco Borja, Paulino de York, Gereão e Daniel Comboni. se você aceitar receber mensagem de algum/a amigo/a devoto/a (R$ 031 aos quais devem ser acrescentados os impostos), alguma mensagem pertinente ser-lhe-á enviada por celular. não sei como funciona, ninguém ainda enviou-me nenhum santo. um dia, disseram-me que Roma não teve nenhum imperador chamado "Duilio", hoje indago-me se haverá outro São Duílio, talvez "Santo Duílio", eis que já ouvi esta expressão um bom número de vezes (estupefação...). mesmo sem falar em santidades, hoje um santo do dia, ou melhor, deslocado desta para melhor, foi Orson Welles, em 1985.

e tem o que agora se chama de "piada do dia". já dei boas gargalhadas com algumas delas. por exemplo:
-Joãozinho, você reza antes das refeições?
-Não, professora. Minha mãe é excelente cozinheira.
classe média típica. modernamente, seria: "Não, mucreia. Temos um chef de primeira".

na verdade, esta é a melhor de todas. dito isto, digo que "O ator americano que completa hoje 70 anos", Peter Coyote disse: "O dinheiro é uma maneira de gerar escassez."

pensei que tem algo para pensar. a longevidade do coiote, a escassez dágua, a natureza dos animais (papagaio ou caturrita?), e milhares de questões ontológicas e incidentais (no caso, sutilíssima referência ao livro "Incidente em Antares", em que questões antológicas são a regra). ok: dinheiro gera escassez? que é escassez? que é dinheiro? filosofia da linguagem. torno-me, como se vê, filosófico.

parece óbvio que, no mercado monetário, há permanentes excedentes de demanda por dinheiro. ou seja, há escassez de oferta de dinheiro. mas não era isto que o ator dizia. era que o dinheiro é que é o próprio causador da escassez. claro que ele não estava afirmando que é apenas a presença de dinheiro que sinaliza a escassez. no caso da foto, ficamos em dúvida se há escassez de água ou de torneiras. eu opto pela segunda hipótese, pois -houvesse-as em dimensões oceânicas- poderíamos (ou melhor, os engenheiros) bolar um jeito de transportar a água do mar (dessalinizada, como já há tecnologia barata disponível) e levá-la aos confins do planeta, por exemplo, a terra das papagaiadas e toda a África.

agora. uma vez que as necessidades humanas são ilimitadas, sempre haverá escassez, não é mesmo? não quero dizer que haja escassez de automóveis ou de iates ou porta-aviões, mas que há necessidades razoavelmente validadas pelo atual desenvolvimento societário que não são atendidas por esta: escassez.

ainda assim, a maior de todas as formas de escassez é a de trabalho humano. e por isto é que apenas na sociedade igualitária poderemos pensar num mundo sem desemprego e, acima de tudo, num mundo em que a escassez será confrontada frontalmente.
DdAB
esta do papagaio é daqui: abcz.que terá o querido Peter querido dizer com questo? acho que é que o dinheiro contribui para a "imensa acumulação de mercadorias" que caracteriza o modo capitalista de produção. e que as mercadorias são escassas apenas para quem não tem dinheiro para comprá-las. eu, claro, penso que tá cheio de gente que passa a vida inteira sem trabalhar e acha a vida linda e não se defronta com a escassez de praticamente nada. eu, claro, entendo perfeitamente que esta ideologia de dizer que o trabalho é a única fonte da receita dos indivíduos é uma balela para fazer-nos crer que os filhos dos ricos merecem elevadíssimos padrões de vida, mesmo sem trabalhar, pois jogar polo, disputar olimpíadas de equitação, esse blim-blim-blim todo, ontologicamente é e não é trabalho.

2 comentários:

Tania Giesta disse...

O "QUINTO DOS INFERNOS":

Durante o século 18, o Brasil Colônia pagava um alto tributo para seu
colonizador, Portugal. Esse tributo incidia sobre tudo o que fosse produzido
em nosso país e correspondia a 20% (ou seja, 1/5) da produção. Essa taxação
altíssima e absurda era chamada de "O Quinto". Esse imposto recaía
principalmente sobre a nossa produção de ouro.

O "Quinto" era tão odiado pelos brasileiros, que, quando se referiam a ele,
diziam ... "O Quinto dos Infernos". E isso virou sinônimo de tudo que é ruim.

A Coroa Portuguesa quis, em determinado momento, cobrar os "quintos atrasados"
de uma única vez, no episódio conhecido como "Derrama". Isso revoltou a
população, gerando o incidente chamado de "Inconfidência Mineira", que teve seu
ponto culminante na prisão e julgamento de Joaquim José da Silva Xavier, o
Tiradentes.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário IBPT, a carga
tributária brasileira deverá chegar ao final deste ano de 2010 a 38% ou
praticamente 2/5 (dois quintos) de nossa produção.

Ou seja, a carga tributária que nos aflige é praticamente o dobro daquela
exigida por Portugal à época da Inconfidência Mineira, o que significa que
pagamos hoje literalmente "dois quintos dos infernos" de impostos...

Para que? Para sustentar a corrupção?? Os mensaleiros?? O Senado com sua legião
de "diretores", a festa das passagens, o bacanal (literalmente) com o dinheiro
público, as comissões e jetons, a farra familiar nos 3 poderes
(executivo/legislativo e judiciário).

Nosso dinheiro é confiscado no dobro do valor do "quinto dos infernos" para
sustentar essa corja, que nos custa (já feitas as atualizações) o dobro do que
custava toda a Corte Portuguesa.

Abraço

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

oi, TAninha:
sumiu um comentário inteligentíssimo que fiz há pouco. pena, perde o mundo... sou a favor da cobrança de impostos diretos (os indiretos ficam apenas para bens de demérito!). neste caso, poderíamos conceber uma sociedade que paga 100% da renda. mas o governo dá transferências (por exemplo, aposentadorias a blogueiros) no valor de 101% da renda, qual é o problema aritmético?
DdAB