hoje é quarta-feira, bem sabemos. sabemo-lo também que hoje é o dia impresso na capa da Carta Capital que me chegou às mãos no sábado finado. e sabemos que Delfim Netto, ex-ministro de Geisel e outros oficiais superiores das formas armadas que responderam pela presidência da república proclamada pelo Marechal Deodoro Peixoto, é colunista da revista. ele escreveu:
O economista é um cientista social que procura entender como
funciona o mundo real e não impor-lhe o que gostaria que ele fosse. O
resultado do seu trabalho deve ajudar a lubrificar o funcionamento das
instituições que levam ao desenvolvimento sustentável com justiça
social. Nem toda atividade social é de interesse da economia, mas toda
atividade econômica é de interesse social. [...] A pobre discussão que envolveu a ideia de “Estado mínimo”, por
exemplo, era apenas uma ação ideologicamente motivada. Na verdade, não
existe “mercado” sem um Estado capaz de garantir as condições de seu
funcionamento. Em uma larga medida, a forma de organização do sistema
produtivo é ditada pelos que detêm o poder político e formulam a
política econômica que serve aos seus interesses. A sua construção
teórica e a formalização para justificá-la também são um produto
ideológico. Basta ver como a tomada do poder pelas finanças, nos EUA,
levou a uma política econômica que lentamente erodiu a legislação que
regulava suas atividades e fora produzida após a Grande Depressão. Muito
rapidamente os “cientistas” produziram uma “ciência infusa” que
justificava a total desregulamentação da atividade financeira em nome da
“eficiência” e da descoberta de “inovações” capazes de medir os
“riscos”: nunca
mais aconteceria um 1929!
e eu comento. primeiro faço uma crítica ad hominem. sempre fico estupefato ao ler o que ele escreve no presente, não tendo esquecido coisas que ele mesm ofalou ou escreveu no passado. depois faço um elogio. nos anos em que o leio na Carta Capital, passei a admirar sua erudição, seu tirocínio e aprendi pilhas de coisas com ele. agora começo:O economista é um cientista social que procura entender como
funciona o mundo real e não impor-lhe o que gostaria que ele fosse. O
resultado do seu trabalho deve ajudar a lubrificar o funcionamento das
instituições que levam ao desenvolvimento sustentável com justiça
social. pois o que me parece é que esta figura idílica não existe. o que existe são praticantes da profissão que têm maior ou menor acesso ao poder. as proposições positivas encontram-se apenas no livro texto e não devemos desprezá-las. até mesmo deveremos -se formos humildes intelectualmente e ciosos de não carregar aos outros nossas estruturas de preferências- relutar em expressar nossos julgamentos de valor. até por aí. eu me orgulho de defender a sociedade igualitária e, com isto, minha própria pesquisa está sempre pensando em achar os melhores argumentos positivos para justificá-la. a própria frase final de Delfim Netto diz precisamente o que acabei de dizer: que negócio é este de "deve ajudar"? não é normativo? o que ele queria que os economistas neo-liberais fizessem? a questão é que houve uma turma de oportunistas que se enturmou nos governantes neo-liberais e aproveitou-se de seu poder para exercer seu próprio poder. e a desregulamentação das finanças não é mais do que uma das manifestações desta identidade positivo-normativo.
próxima frase: Nem toda atividade social é de interesse da economia, mas toda
atividade econômica é de interesse social. em minha perfunctória opinião, claro que toda a atividade social é de interesse da economia. aliás, de que economia fala ele? da ciência ou do sistema? o interesse é de ambas. isto porque cada festinha de aniversário que me vê presente também causa o aumento da minha produtividade no trabalho no dia seguinte.
e agora: A pobre discussão que envolveu a ideia de “Estado mínimo”, por
exemplo, era apenas uma ação ideologicamente motivada. Na verdade, não
existe “mercado” sem um Estado capaz de garantir as condições de seu
funcionamento.
e eu comento: quem pensa na polaridade mercado-estado está claudicando em perceber que existe um tripé organizando a ação econômica da sociedade: mercado-estado-comunidade. minha antropologia econômica datou seu surgimento: comunidade (horda, família, exogamia), depois veio o mercado (exogamia, trocas de presentes, trocas disseminadas) e, por fim, e apenas por fim, quando a divisão do trabalho alcançara níveis inacreditáveis por uma formiga, é que pinicou o estado. se não houver harmonia, equilíbrio, entre estas três instâncias organizativas dos processos de escolha coletiva, teremos a baixaria, como é o caso da Eritréia, em menor grau, do Brasil e em tênue limite, da Noruega.
e eu comento: quem pensa na polaridade mercado-estado está claudicando em perceber que existe um tripé organizando a ação econômica da sociedade: mercado-estado-comunidade. minha antropologia econômica datou seu surgimento: comunidade (horda, família, exogamia), depois veio o mercado (exogamia, trocas de presentes, trocas disseminadas) e, por fim, e apenas por fim, quando a divisão do trabalho alcançara níveis inacreditáveis por uma formiga, é que pinicou o estado. se não houver harmonia, equilíbrio, entre estas três instâncias organizativas dos processos de escolha coletiva, teremos a baixaria, como é o caso da Eritréia, em menor grau, do Brasil e em tênue limite, da Noruega.
por fim, lá vem ele: Em uma larga medida, a forma de organização do sistema
produtivo é ditada pelos que detêm o poder político e formulam a
política econômica que serve aos seus interesses. A sua construção
teórica e a formalização para justificá-la também são um produto
ideológico. Basta ver como a tomada do poder pelas finanças, nos EUA,
levou a uma política econômica que lentamente erodiu a legislação que
regulava suas atividades e fora produzida após a Grande Depressão. Muito
rapidamente os “cientistas” produziram uma “ciência infusa” que
justificava a total desregulamentação da atividade financeira em nome da
“eficiência” e da descoberta de “inovações” capazes de medir os
“riscos”: nunca
mais aconteceria um 1929!
que posso dizer disto? simplesmente o que já disse acima. parece que ele escreveu e pensou melhor e se arrependeu. para não incidir no mesmo errro, vou-me despedindo desde já, ou seja, nada relerei.
que posso dizer disto? simplesmente o que já disse acima. parece que ele escreveu e pensou melhor e se arrependeu. para não incidir no mesmo errro, vou-me despedindo desde já, ou seja, nada relerei.
DdAB
imagem: abcz.
p.s.: ontem falei um pouco sobre uma tradução moderna de "classe dominante", evadindo-me (tentando) do jargão "sociológico". parece óbvio que existem problemas de coordenação dos agentes econômicos e que agora mesmo vemos o mundo com ímpetos progressista perdendo o ímpeto no mundo árabe e o mesmo ocorrendo com as manifestações populares na Europa e, em particular, no Chile. eu não hesito em declarar o povo derrotado, no médio prazo. o que o poderia levar à vitória seria constituir seus parlamentos (cá entre nós, ditadura é uma baixaria) mais direcionados à esquerda, ou seja, a políticas redistributivas. no passado a Europa esteve mais próxima da social-democracia do que hoje por causa da presença "trabalhista" nos parlamentos. poderíamos dizer que foram os sindicatos que levaram a essas composições, ou a pressão sindical, o que não altera meu argumento: o parlamento era "de esquerda".
2 comentários:
Duilio,
definitivamente o Delfim faltou àquela aula de metodologia na qual o professor ensinou a diferença entre o positivo e o normativo. Que negócio é esse de "cientista social que procura entender como funciona o mundo real e não impor-lhe o que gostaria que ele fosse" e ao mesmo tempo "o resultado do seu trabalho deve ajudar a lubrificar o funcionamento das instituições que levam ao desenvolvimento sustentável com justiça social"? Também não entendi nada. E quanto à parte do "esqueçam o que eu escrevi", prefiro não comentar...
Bjs,
Brena.
não comentou? belo comentário!
DdAB
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