03 outubro, 2011

Dilma na Europa

querido diário:
volto a ler meu jornal tradicional. chama-me a atenção a visita comercial-familiar da presidenta do Brasil à Europa: Bélgica e Bulgária. Dilma pretende propor a agilização de convênios comerciais abarcando o Mercosul. fala-se no jornal em "livre comércio".

há pouco, fui remetido à maravilhosa postagem/artigo de Ronald Hilbrecht, de 31/jul/2011, intitulada "Vantagens comparativas para leigos". é um lindo exemplo das vantagens do livre-comércio para dois indivíduos e também para duas nações. no caso, dois blocos de nações. não há como negar fogo! o comércio livre é fogo! (quando falamos em livre-comércio, é óbvio, não estamos falando em exercício de poder de monopólio e até talvez tampouco em custos de transportes muito expressivos, essas coisas).

no exemplo do prof. Hilbrecht, temos dois dos rapazes de Liverpool, John e Paul, respectivamente, de 12 e seis anos de idade. John arruma a cama em oito minutos e guarda brinquedos em nove minutos. gssto total de tempo (teoria do valor trabalho?): 17min. Paul, mais jovem, menos hábil, leva15min para arrumar a cama e outros 12 para guardar os brinquedos: 27min. medido em horas de trabalho, o PIB daquela petizada foi de 44 unidades de tempo.

John é relativamente mais especializado em arrumar camas, o que faz em 16min, deixando a Paul a reorganização dos brinquedos, que lhe toma 24min. o PIB passa a 40min, havendo um ganho de bem estar de sete minutos a serem destinados a lazer. no caso da medição do PIB em "preços" e não em "valores", o bem-estar assim medido não mudou, pois seguiram-se produzindo duas arrumações de cama e duas guardações de brinquedos. medidos em "horas de trabalho", decompusemos adequadamente: duas camas, dois brinquedos e mais lazer: ganhos societários.

isto não quer dizer, todavia, que os benefícios da troca sejam absolutos. há um fator de complicação: os retornos crescentes generalizados (Bowles, 2004, p.9-13). por um lado, com eles, induz-se a produção em equipe, o que pode induzir um dos agentes a adotar comportamentos que o desviem de seus melhores talentos. (meu exemplo não é da produção: gosto de pizza sobre todas as coisas, mas prefiro comer churrasco se toda a turma vai à churrascaria). por outro lado, e é por aqui que enfatizo a questão, a ação pura dos retornos crescentes induz à desigualdade mundial

qual é a saída? é a criação de salvaguardas, a mais prática das quais parece-me ser a instituição da renda básica mundial. a soberania do indivíduo desloca-se de sua condição de "uma unidade de trabalho" para "uma unidade de consumo". com isto, meu velho exemplo de Santana do Livramento volta a ser evocado: melhor fazerem por lá um supermercado do que uma fábrica de aviões supersônicos.

no caso de John e Paul, a economia política indagaria, em continuação, como estes sete minutos seriam/serão distribuídos entre a União Européia e o Mercosul. ou ainda entre Brasil e Argentina. ou entre Paraguai e Argentina...


moral de minha história: o livre comércio, associado à renda básica universal, é a salvação da lavoura.

DdAB
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