querido blog:
achei que era importante para mim mesmo dar uma pensada no que me desagrada da produção governamental em geral e na de bens regulares. preciso defini-los. terá que ser por enumeração, pois falo dos que não são nem públicos nem de mérito, nem de demérito, nem de nada, se é que isto existe. mas se não existe é preciso definir os que não são "estratégicos", se é que isto pode ser definido. por enumeração: petróleo, minério de ferro, viagens aéreas, sal de cozinha, diário oficial, transmissões de TV com propaganda governamental, parece que a lista seria infindável. e estratégicos: justiça, justiça, justiça, justiça, justiça, justiça, justiça, e outros correlatos.
no caso dos aeroportos, a Infraero é um destes negócios que dá lucro e que não precisaria estar nas mãos do governo. ou seja, a provisão deve ser pública, de tudo, tudinho. mas a produção pode ser privada, praticamente de quase tudo. até hoje não consegui conceber um exemplo que não possa ter provisão governamental, desde exércitos mercenários até carrascos, se tivéssemos o infortúnio de contar com a pena de morte no sistema penal. mas há sicários à vontade no Brasil, com produção e provisão originárias do setor privado mesmo.
pois o MAL* passou a recomendar a anistia ao ministro Palocci por ter multiplicado seu patrimônio por pelo menos 1000 vezes. e prega a anistia de todos os ladrões estrela. prega, pois sabe que a sociedade não está preparada para pegá-los. ela precisa de 20 anos, ou pouco menos. mas o fato de garantir que os ladrões não serão presos pode servir como antídoto a novos crimes. os crimes a partir de 1o. de janeiro de 2012 é que seriam imputados. os de antes, nada, anistia, farra.
e o que fazer com os lucros extraordinários das empresas privadas? não podemos evitá-los, pois quem estudou a microeconomia das estruturas de mercado saberá que não existe tal coisa que chamamos nos livros de eficiência alocativa. ou seja, nunca de núncaras será possível produzir, na vida moderna, com o preço igualando o custo marginal. resultado: lucro extraordinário. então a saída, se queremos mesmo que os ladrões, sicários e sicofantas parem de agir daqui a 20,5 anos, devemos é cuidar de políticas redistributivas, pois as políticas de produção podem perfeitamente ficar nas mãos do mercado, ou da comunidade ou de alianças entre estas, deixando o estado apenas de mãos abanando, cuidando da provisão dos bens públicos, da provisão de informação e fiscalização das ações da comunidade (evitar linchamentos etc.) e do mercado (evitar propinas etc.). essencialmente, na condição de economista político moderno, entendo que o estado deve prover essencialmente bens públicos. se sobrar dinheiro, deve prover bens de mérito, atendendo ao princípio da universalidade do orçamento, como estamos cansados de digitar, eu e meus 10 ágeis dedos, dedos de ouro, enfim. ou seja, com justiça e -o que dá no mesm- o império da lei do orçamento, o MAL* poderá ser extinto em menos de 20 anos.
por isto só posso rir quando leio o número 649 de Carta Capital, com data de circulação da próxima quarta-feira, dia 6 de junho de, bem sabemos, 2011. coluna "Rosa dos Ventos" de Maurício Dias. sobre "O desmonte da Infraero", sabidamente a empresa que "administra" os aeroportos brasileiros (aspas são ironia). pois ele começou do segundo parágrafo dizendo: "Criada na década de 1970, a Infraero administra hoje 67 aeroportos, 34 terminais logísticos de cargas, torres de controle e outros meios auxiliares de navegação aérea. [...]". eu fiquei apenas com este troço de "década de 1970", o nacional-desenvolvimentismo dos militares, da ditadura militar, sô. quê que é isso? a esquerda está afinada com aquelas baboseiras?
E depois:
A concessão muda radicalmente a lógica do sistema implantado no Brasil, que, na verdade, reflete o modelo de países de dimensões continentais, como o nosso, nos quais o serviço aéreo é um meio essencial para o transporte de pessoas e mercadorias. Isso significa que o estado não pode abrir mão do controle do sistema. É o que o Brasil está fazendo agora.
gelei. eu, que tenho complexos de ser chamado de direitista. gelei porque o carinha fala em um sistema implantado no Brasil pela ditadura militar, refletindo da condição de país continental e não país que garante liberdade individual (torturas e concentração da renda). em um Brasil que ainda tem barriga dágua e o assalto a cofres públicos sistemáticos, e o assassinato de cidadãos todo o dia por malfeitores de todas as estirpes, o roubo de merendas escolares em Sapiranga, Sapucaia, sei lá. então o jornalista Maurício Dias quer mesmo que o "estado" faça discriminação de preços, para que os maiores aeroportos sustentem os menores. pelo menos, gravou com "estado" com minúsculas, mas arrependeu-se mais abaixo e já jogou as maiúsculas.
faço novo parágrafo para deixar bem claro o que entendo por esquerda nefasta. ele diz: "abrir mão do controle sobre o transporte de pessoas e mercadorias." de pessoas, meu? o estado controlando o deslocamento de pessoas? o que é isto? o nacionalismo? o estalinismo? o modelo chinês? nóis qué comê os pêche. nóis qué ce mexê sem dá satisfação prosome.
DdAB
p.s.: a imagem vacum veio daqui.
p.s.s.: eu estava redigindo o que segue e a conexão caiu:
retiro alguns dados e comento:
.a. a Infraero foi criada "na década de 1970", ou seja, foi criada por um dos governos militares que tinham em comum com os nacional-desenvolvimentismo uma concepção absolutamente estatizante para o funcionamento da sociedade democrática;
.b. a privatização da administração dos aeroportos, deixando a Infraero com apenas 49% das ações da nova empresa, rege o seguinte: "A concessão muda radicalmente a lógica do sistema implantado no Brasil, que, na verdade, reflete o modelo de países de dimensões continentais, como o nosso, nos quais o serviço aéreo é um meio essencial para o transporte de pessoas e mercadorias. Isto snginfica que o estado não pode abrir mão docontrole do sistema. É o que o Brasil está fazendo agora". eu diria duas coisas neste item (b). (i) o sistema Infraero foi implantado no Brasil pela pela ditadura militar, o que ele esquece de dizer, ou não quer fazê-lo. (ii) ele escreveu "estado" com "e" minúsculo, o que me alegra sobremaneira, pois não sou hegeliano e não acredito em espírito puro expressando-se pela criação e manutenção do estado. ao contrário, acredito na substituição do governo dos homens pela administração das coisas.
.c. ademais, entendo que ele está dizendo explicitamente, tanto quanto a língua portuguesa permite, que o "estado" temque (sem hífem, absolutamente mandatório) controlar o sistema de pessoas e mercadorias. eh, vida de gado, gado marcado, povo feliz, como diz Zé Ramalho.
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