19 junho, 2011

O De Que Eu Preciso


querido blog:que podemos fazer com as seguintes sentenças?

.a. "he job with me"
.b. "he has the second marry"
.c. "o que eu preciso?", "eu preciso de um pino".

foram duas pessoas quem as proferiu. a dos itens .a. e .b. é profissional liberal. a do item .c. é de um popular que deixou-se ouvir por mim, na fila da Loja Severo Roth. (e eu escrevi "deixou-se" e não "se deixou" porque acho menos popular...).

a melhor solução que me ocorreu foi passá-las ao prof. Conrado de Abreu Chagas, pedindo-lhe análise e crítica. compreenderam? diz ele:

As frases "he job with me" e "he has the second marry" são bons exemplos da inutilidade da "boa gramática", pois entendemos perfeitamente o que se está dizendo. Michael Swan (autor do "world-famous" Practical English Usage), quando esteve em Porto Alegre, nos relatou um estudo que mostrava que os professores nativos de inglês dão muito menos importância a erros gramaticais do que o fazem professores não-nativos. Creio que os estudantes se preocupam demasiado em saber a gramática e, percebendo que não a dominam, inibem-se desgraçadamente, a ponto de muitas vezes se verem incapazes de comunicar-se. Mas isso tudo o hoje clássico "communicative approach" já desvendou. De fato, em primeiro lugar a comunicação, depois o resto.

Todavia, ninguém quererá passar a vida inteira falando coisas como "he job with me" e "he has the second marry", não é? Haverá um momento no longo e sinuoso caminho rumo à mestria do idioma em que o indivíduo, embora a essa altura já de todo ciente de que jamais entoará as frases com a elegância de um, digamos, David Lodge, fará contudo o seu melhor para que o escutem, senão com admiração elogiosa, ao menos com respeitosa atenção, porque o conteúdo, por mais interessante que venha a ser, dependerá sempre, para que o apreciem com a devida vênia, do envelope em que se veja arranjado.

não falei? os textos dele são maravilhosos!
DdAB
p.s.: meu título evoca os tempos da formação pré-universitária. havia um programa na Rádio Guaíba que se chamava "O Disco que eu Gosto". acho que havia pressão de alguém sobre quem e volta e meia ouvia-se "O Disco de que eu Gosto", mas o português brasileiro voltava a vigorar. e o português lusitano que usa "consigo" no sentido de "com você". a situação é crítica a tal ponto que acho que não acho. ou melhor. acho que eles têm o direito de assim falar, pois já o faziam no final do século XIX:

"Minha adorada amiga: não, não foi na Exposição dos Aguarelistas , em Março, que eu tive consigo o meu primeiro encontro, por mandado dos fados."

p.142 do já citado aqui "Correspondência de Fradique Mendes", na eterna Paris, num certo junho, Fradique escreveu a Clara. tá claro? e aguarelista? alguém hoje evitaria o 'aquarelista'? é uma involução no rumo do latinório?

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