01 junho, 2011

Anverso e Verso: ministros, juízes e aritmética

querido blog:
na p.27, Zero Hora de hoje diz: "Haddad defende no Senado livro com erros de português". era o ministro da educação, herança do presidente à presidenta. no outro dia, citei matéria da também Zero Hora em que havia uns trechos absolutamente esdrúxulos da autora do livro "Por uma vida melhor", aquele que fala que vamo comê os pêche, sem ensinar francês... o ministro é teimoso, pois tá na cara que este negócio de discutir o preconceito linguístico com analfabetos é burrada de casca grossa. o primeiro mandamento é que "não se escreve como se fala, mas escreve-se como se lê". e claro que quem deve definir isto é um linguísta e não um político ou uma professorinha, cujas atribuições, sem preconceitos, serão bem diversas das do linguista, ainda que Piaget tenha sido, se bem entendo, as duas coisas.

o que não posso aceitar é a instilação de baixa doutrina em outras passagens do livro. diz-se, por exemplo, que a língua que falamos é o instrumento de dominação de uma classe sobre outra. algo parecido e, se bem lembro, até pior. puro lixo cultural, pura baixaria, puro entendimento de segunda mão de um marxismo assimilado por professores de segunda mão. mas Haddad, escudeiro dos 484.195 alunos que ganharam/ganharão o diabo do livro, não se dá por achado: "Estamos vivendo um período de involução, uma situação stalinista e agora dotando uma postura mais de viés fascista que é criticar um livro sem ler. A difernça entre Hitler e Stalin é que Stalin lia os livros antes de fuzilar os inimigos."

eu nem acreditei. ou pelo menos sigo sem acreditar que esta não foi a parte, digamos, lúdica do discurso da otoridade. eu diria que esta comparação, feita por um governante, de que a oposição está valendo-se de métodos estalinistas ou nazistas é uma afirmação vergonhosa. falar isto no senado da república? só fechando o senado, de sorte que não precisaríamos fechar a boca (stalinismo) do ministro, não é isto? afinal, para que senado, se não precisamos de estados? e fechar o judiciário, pois deveríamos era contratar uma empresa júnior de alguma faculdade de direito suíça, a fim de administrar a justiça no Brasil.

virando a página, cheguei, como poderíamos prever, à p.28. a notícia já era anunciada na capa do jornal: "Sob punição. TJ [tribunal de justiça] afasta juiz por beneficiar amigos." lembrei-me direto da empáfia com que os juízes representantes dos juízes contestaram as denúncias de um deputado que os via como vendedores de sentenças. o que fez o juiz que, agora, foi "impedido de exercer qualquer atividade"? aparentemente, "[...] supostamente beneficiar amigos e conhecidos em sentenças judiciais [...]". em boa hora, os magistrados que se declararam incorruptíveis, não apenas eles, mas todos os que os antecederam e sucederão, deveriam ser condenados a lavar a boca.

mas retiramos uma lição de aritmética interessante. consta que o juiz afastado, o dr. Diego Magoga Conde, encontra-se "[h]á seis anos e três meses na função". como seguirá, durante o inquérito, recebendo seus proventos proporcionais (ficando com cerca de R$ 3.500 mensais). supondo que ele tenha direito a aposentar-se com os mesmos 30 anos retirados da classe trabalhadora, então ele receberá seis vírgula vinte e cinco trinta avos do total que recebia antes das denúncias apuradas como portadoras de fundamento. informa-me o sr. Excel que isto significa que ele percebia mensalmente R$ 16.800. se forem 35 anos, dá R$ 19.600.

moraleja: que fazê ce as criança naum aprende a escrevê? e cômu tar, nam sabe votá? e nem votô no haddá.
DdAB
p.s.: imagem de abcz.

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