20 dezembro, 2010

Drogas: Sinatra & Preminger (sem refilmagem)

querido diário:
há 50 anos, ou apenas 49, o delegado de polícia de Jaguari (ou eram os juízes da nova corte de Brasília?) impediu-me de ver o filme "O homem do braço de ouro" ((ler o original no Google, e ver o poster)):

The Man with the Golden Arm is a 1955 American drama film, based on the novel of the same name by Nelson Algren, which tells the story of a heroin addict who gets clean while in prison, but struggles to stay that way in the outside world. It stars Frank Sinatra, Eleanor Parker, Kim Novak, Arnold Stang and Darren McGavin. It was adapted for the screen by Walter Newman, Lewis Meltzer and Ben Hecht (uncredited), and directed by Otto Preminger.

dois são os momentosos temas que devido a estes eventos trazem-me a postar hoje.

.a. quem eram mesmo os carinhas que achavam que eu não teria estofo moral ou intelectual para envolver-me com heroína? ladrões, ladrões, ladrões, moralistas, moralistas, moralistas, irresponsáveis, irresponsáveis, irresponsáveis.

.b. naquele tempo, havia dois tipos de jaguarienses. os refinados diziam que o filme era de Otto Preminger. o clube da baixaria dizíamos que o filme era com Frank Sinatra. 

anos depois, vim a dar-me razão em ambas as emoções. emoções racionais, foi o que pensei. primeiro, em tempo de refilmagens, faltam outras do mesmo tema, atualizando-o para dramas contemporâneos, nem todos estrelados por meninos de rua. segue o primeiro: em tempos de refilmagens, não adianta dizer que o filme era do Preminger, pois este mesmo teria o direito legal de fazer outra versão do mesmo tema (acho que algum chinês já fez isto, ou indiano, ou japonês). além disso, seu direito legal lhe ampararia a escolha de outro ator, inclusive porque o Frank já teve seu passamento decretado por quem de direito.

segundo, e mais severo, sob o ponto de vista dos meninos de rua. o Frank foi acossado por um policial intransigente, insensível e antipático. at the same time (diria Deborah Kerr, em outro filme do mesmo tempo, ou não), foi acossado por um simpático traficante de drogas, e sua heroína, mercadoaria proscrita por moralistas. o Frank, agora que vi o filme, exibia dois enormes talentos:

.a. manipular fraudulentamente as cartas no pôquer
.b. tocar bateria (o que aprendeu no presídio)

a terceira função do braço (receber picadas de heroína) de ouro é que dá nome ao filme. digamos que ele realmente pudesse (como o final feliz sugere) especializar-se na bateria. isto se deveria à lei. e que o delegado pudesse tê-lo incentivado, ao invés de ajudar a cavar sua cova (provisória) e a golden gate que lhe criou a pernuda Kim Novak.

para mim, há lições importantes:

.a. naquele tempo, não vi o filme e não me viciei em heroína; e se alguém, em condições correlatas, se viciar hoje, não sei se poderemos dizer que isto iria acontecer mesmo que ele/ela sempre tenha acalentado a curiosidade de saber o que passaria pela mente do Preminger ao dirigir Frank a fazer aquelas visagens e regressões uterinas. parecer-me-ia mais sensato considerar que filmes não conclamam ao uso de drogas, ao contrário.

.b. parece evidente que o desenvolvimento da carreira de Frank -como sabemos, um dos maiores cantores da cultura 'easy listening' americana- como baterista, ou seja, não era o Frank, mas a personagem do filme, como baterista, repito, pouco ou nada teria a ver com a heroína, ou melhor, teria a ver com a anti-heroína Eleanor Parker e a heroina Kim Novak. mais ainda, como é que o delegado era tão duro para cima do Frank e não o era para o traficante, nem para o dono do cassino de pôquer clandestino.

a lei e o crime andam de mãos dadas, especialmente na sociedade em que o desenvolvimento social é baixo, como o Brasil, a Bolívia, a Colômbia, o Afeganistão e, um pouco menos, os próprios Estados Unidos. terá a ver com o índice de Gini? a legalização das drogas, tornando a oferta muito cara para os "faixas-pretas" e gratuita para os viciados (em tratamento ambulatorial, que no hospital o negócio parece que tem que ser lei seca mesmo) é a salvação da lavoura, digo, você entende...
DdAB

2 comentários:

maria da Paz Brasil disse...

Oi, Duilio!
Gostei da postagem e vou à Classic Videos - uma das poucas locadoras do Recife que, com certeza, tem o filme.
Beijão.
MdPB

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

ei, Da Paz!
fico feliz em ver o sorriso e a mensagem neste fim-de-ano. eu faço mais uma revisão d' "o livro", o tormento de seis anos que acabará com o ano e vice-versa, e ambos comigo, no sentido de que sigo...
DdAB