14 dezembro, 2010

Emprego e Renda: equívoco real


querido blog:
ia postar isto ontem. o tempo (t = f(E, m, d)), porém, impediu-me. falo de um artigo assinado pelo Prof. Jorge Audi, na Zero Hora de ontem. ele fala em tecnologia, criação de emprego e geração de renda. ok, não estou falando de renda de bilro, mas de renda no sentido de rendimentos dos empregados mais rendimento de trabalhadores autônomos (que o IBGE joga no resto) e o excedente operacional. 

o que parece natural é entendermos que há contradições em termos, a não ser em situações particularíssimas. em particular, já houve na história sinais de que a mudança tecnológica contribuiu para a elevação do emprego. não nego. só não lembro onde..., nem quando, duplas reticências... ... eu mesmo andei calculando umas coisas nesta linha para a economia brasileira e constatei que, entre 1950 e 2000, algo assim, houve um que outro período em que a mudança tecnológica contribuiu para elevar a renda (não a de bilro, ou talvez também esta, reticências simples...). e também para a do emprego, e também os dois casos simultaneamente.

claro que podemos entender a virtuosidade acentuada devida à conjunção de enorme elevação da demanda final com ganhos de produtividade do trabalho. se, ainda -miracolo- os ganhos de produtividade também convergem para os menos favorecidos (não necessarimente trabalhadores, nem necessariamente das indústrias dinâmicas), então estaremos no mundo melhor que sonho!

agora, caiamos na realidade novamente. dificilmente a tecnologia vai protagonizar este tipo de milagre, elevando simultaneamente a renda e o emprego. ou seja, naquele meu relatório sobre a economia brasileira, o que houve é que a destruição de emprego associada aos ganhos de produtividade foi mais-do-que compensada pela elevação da demanda final. pode acontecer isto hoje em dia? claro que pode, temos o que também andei batizando como "exército de reserva de consumo". pode ser que o governo Lula tenha entendido isto, com seu programa "Bolsa Família". fazendo crescer a renda dos menos favorecidos, poderíamos pensar em também ver crescer a demanda final e, com ela, a renda, mesmo com os ganhos de produtividade.

naturalmente, o fenômeno distributivo ocorre no mercado de fatores de produção, ao passo que o fenômeno redistributivo vai ocorrer precisamente no segmento das transações interinstitucionais, nomeadamente, transferências do governo às famílias pobres. mais ainda, nem seria desejável que uma sociedade declarasse seus níveis de felicidade pessoal ascendentes com enorme elevação do número de horas trabalhadas. no capitalismo, o lucro reside precisamente na atividade produtiva que economiza trabalho. e, ao economizar trabalho, os preços caem, corroi-se a lucratividade do setor libertador de emprego.

ou seja, a Lei de Ferro é dada na seguinte redação: quanto maior a produtividade, menor o emprego. quanto maior a produtividade, menores os preços. quanto menores os preços (virtuosamente, como é o caso), maior o bem-estar. quanto menor o emprego (ceteris paribus), maior o bem-estar. quanto mais tecnologia, mais produtividade do trabalho. a Lei de Ferro da Inteligência Humana diz que é difícil prá burro entender isto.
DdAB
achei esta linda imagem das mãos de uma rendeira de bilro, evocando-me a Lagoa da Conceição e a própria bela e Santa Catarina. o site é de lá mesmo: aqui.

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