28 fevereiro, 2010

Um Passo Atrás: mais "amigos do proletariado"

querido blog:
eu jurava que fizera uma postagem sobre o artigo "Um passo atrás; o emprego cresceu menos que o PIB", de Waldir Quadros, nas p.66-69 Carta Capital de 13/jan/2010. fiz o que pude para rastrear, mas o que rastreei mesmo foi esta imagem acima, do Google Images, sob o título de "egoísmo". como eu procurara "virtude" e "produtividade", foi o que demais estético apareceu na primeira peneirada. fiquei com ela. é bonita. e inspirou-me a expandir o título com o tema "amigos do proletariado". se bem lembro, Marx a usou lá num dos opúsculos sobre salário, preço, capital. ou é o um ou é o dois, caso me não falhe a memória. a guria encoberta pela ave lembra-me a Avalovara, e pode estar manifestando egoísmo, mas eu não notei, embora possa ver alguns pecados capitais: ira, soberba, sei lá, que não sou bom nisto de ver pecados no rosto da turma...

este artigo é o terceiro a que me propus endereçar comentários (Delfim Neto e Luiz Belluzzo foram os demais) e que vieram da Carta Capital que me chegou do Brasil ainda em janeiro. eu é que andei atarefado com o lazer... se adivinhei certo, o autor não é economista de formação e, como tal, diz coisas muito interessantes... mas há um terrível mal-entendido sobre quais são realmente os verdadeiros problemas quando se analisa o trabalho assalariado e o capital, quando se analisam os salários, os preços e os lucros.

e nem falo da tecnicalidade que, em alguns dos momentos em que escreveu sobre o assunto, o próprio Marx ainda não diferenciava "trabalho" de "força de trabalho". no livro de contabilidade social que um dia sairá do prelo, nas partes que me competem, busquei salientar as questões conceituais falando em "produtores, fatores e instituições", como toda matriz de contabilidade social de respeito deve fazer. mas lá eu e os amigos dizíamos que nada há de errado de chamarmos os produtores de produtores (por contraste, exemplificadamente, de capitalistas ou o que seja). nem as instituições de instituições (ainda assim, o mais bonitinho é dizermos que há três e apenas três tipos de "organizações" econômicas: produtores, fatores e instituições. e, claro, retificar "fatores" para "locatários dos fatores de produção". por que locatários? porque seus proprietários são as instituições.

elas rastreiam entre seus integrantes os que detêm maiores chance de ganhar sucesso no mercado de trabalho e para lá se dirigem (a turbulenta esfera do mercado, o de trabalho) para alugarem os serviços dos fatores pertinentes (consultas médicas, pizzaiolagem, mecânica de automóveis, varreção de ruas romanas, cuidados com a casinha alugada, cuidados com as açõezinhas aplicadas na City, sabe-se lá).

obviamente, esta estilização não explica toda a distribuição funcional da renda, pois o afamado -para os que me lêem regularmente- bloco B33 da mesma MaCS trata de transferências interinstitucionais (assemelhadas às do bloco B11 que notabilizaram Wassili Leontief). um dia, vou pegar uma pilha de matrizes e fazere a Curva de Stone, ou seja, ver se o volume total de transferências interinstitucionais cresce mais do que as interindustriais, é uma função da renda per capita. obviamente, esta coisa de "curva de Stone" é um plágo da "curva de Kusnetz", mas deixará muito neguinho de boca aberta, como já deixou minha sentença apoteótica de que poupança não é renda (se supusermos que os fatores não poupam, isto é, se eles transferem integralmente o produto que ganham às instituições). aliás, nem produto nem despesa, não é, meu?

pois bem, então passemos a olhar com mais detalhe algumas sentenças de Waldir Quadros. acho possível que não tenha sido ele que fez o título do artigo, pois a Carta Capital -que deveria ser minha revista de esquerda- embarafusta por caminhos nacionalistas que me fazem corar (de vermelho, lógico, com ódio e solidariedade à cor da massa do sangue do povo). ou seja, saberão lá os economistas que quando dividimos o pib pelo emprego chegamos à produtividade do trabalho. e ver esta fração aumentar significa aumento da produtividade e também deve significar para as mentes menos irrequietas com trivialidades motivo de alegria e satisfação. mantida constante a distribuição funcional (absoluta), isto significaria, por exemplo, mas transferências (via salários ou o que seja) às famílias paupérrimas, com programas do corte da Bolsa Família do Presidente Lula ou da renda básica universal, do Senador Eduardo Suplicy (tou mais com o último, como sabemos, mas não na parte da namoradinha que entregou a Martinha para a Veja na eleição de Serrinha).

pois bem, não era? vou citar uma frase-parágrafo e sua nota de rodapé, que falam mais do que tudo o que eu já disse sobre o tema desde que fui aprovado no vestibular de economia (apesar da fraude na prova de geografia...). lá vai:

Enquanto o PIB cresceu 25,9% no quinquênio 2004-2008, a expansão das oportunidades individuais para se obter uma ocupação foi de apenas 13,5%.^1

^1 No período 1998-2003, para uma expansão do PIB de 10,8%, a ocupação cresceu 14,5%, refletindo os estímulos da maxidesvalorização cambial de 1999. No período 1993-1997, com a vigência da âncora cambial do Plano Real, a ocupação cresceu míseros 7,4% ante os 21,6% do PIB.


falou. com entonação daquela personagem da TV que era, sabidamente, deficiente cognitiva. confundir eficiência produtiva com eficiência distributiva é um dos maiores demonstrativos de prejuízo que os "amigos do proletariado" podem carrear ao balanço geral societário, não é isto?
DdAB
p.s.: para rimar com "the most dead" do outro dia, só mesmo pensando que um cara que foi tão mal lido só pode mesmo é estar revirando na tumba de Highgate pensando no que fez de errado para ser tão mal interpretado.

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