21 fevereiro, 2010

Dualismo no Mercado de Trabalho do séc.XXI

querido blog:
depois de horas de luta, conseguimos:
.a. ir de Florença a Perúgia, quando queríamos ir a Ancona, mas vimos pilhas da Toscana
.b. vir de Perúgia a Pescara, quando queríamos apenas vir de Perúgia a Pescara, mas andamos mais montes de estradas vicinais (algumas contra a vontade), mas aparentemente chegamos.

ainda no clima da última postagem e do que vi em Florença, falarei sobreo dualismo no mercado de trabalho do futuro. terei lido o que segue num papelzinho encontrado entre duas latas de lixo, num nicho, numa rua escura entre uma rua completamente banhada por luz branca e outra por chuva, ambas perto do Palácio Picci, ou não era isto...

seja como for o que segue deixa-se ler como dois pontos. aquela encrenca da teoria do valor trabalho serviu para argumentarmos a favor da melhoria das condições de trabalho da classe trabalhadora. também teria servido, segundo o próprio Marx, para vermos o segredo do fetichismo das mercadorias revelado ao observador atento. pois bem, com o dinheiro fiduciário aparentemente tornou-se ainda mais claro que existe um solvente universal que permite a troca de mercadorias (com mais ou menos estabilidade no nível geral de preços) que nos distancia ainda mais dos momentos iniciais das trocas, quando víamos perfeitamente que uma hora de trabalho de um ferreiro trocava-se precisamente por uma hora de trabalho de um pedreiro, de um médico, e por aí vai (corrigidos para o custo de treinamento nessas profissões).

hoje em dia, de acordo com as funções de produção possíveis, o trabalho ainda é um elemento fundamental para a produção de mercadorias. mas a relação entre a hora de trabalho do ferreiro, a do aviador e a do publicitário torna-se cada vez mais difusa, mais obnubilada por milhares de intermediações: o que vemos é mesmo relação de compra e venda.

vejo um enorme descompasso entre os requerimentos do mercado de trabalho contemporâneo em uma de suas manifestações dualísticas

não acho que demore o dia em que todo o trabalho precário venha a ser substituído por trabalho decente. e boa parte do trabalho decente seja ainda mais substituída por "trabalho" de máquinas. o que me parece vigorar hoje é que o mercado de trabalho tornou-se um elemento de entrave do desenvolvimento das forças produtivas. em geral ele tem sido incapaz de disseminar a relação de emprego. os excedentes mundiais de mão-de-obra são tão escandalosos que torna-se ainda mais escandalosa a acusação de que as fábricas chinesas são cheias de trabalhadores com menos de 10 anos de idade (eu disse "idade" e não "escolarização"). ou seja, o de que se necessita no mundo -de plano- é a criação de critérios de racionamento dos postos de trabalho. a redução da jornada de trabalho, a concessão de três dias de repouso remunerado semanal, a ampliação do número de dias de férias por ano, a entrada retardada no mercado de trabalho e a aposentadoria precoce. (e, claro, imposto de renda de 150% para quem detiver segundo emprego).

neste mundo onírico quem deve distribuir o excedente social será mesmo a renda básica. ou seja, todo mundo ganha renda básica. no Brasil, caso cada brasileiro em idade ativa ganhe R$ 1.000 por mês, gastam-se apenas 40% da renda, ficando os demais 60% para os demais destinos da renda: remuneração dos capitalistas e receita do governo em impostos indiretos líquidos de subsídios. e aí veremos a segunda manifestação, a mais característica do século XXI, do dualismo deste peculiar mercado.

nesse mundo em que não será preciso trabalhar para viver (quem quiser ganhar apenas R$ 1.000), é claro que as empresas terão que caprichar em ofertas de trabalho para pagarem R$ 1 anuais, ou R$ 10 ou sei-lá-quanto. Eu, por exemplo, dados meus proventos da aposentadoria, apenas aceitaria abrir mão de meu lazer por mais de R. 3.141,6 mensais, uma atitude irracional, segundo alguns.

segue-se logicamente que a relação de trabalho seria mudada de tal forma que haveria dois tipos de trabalho. digamos que um deles seja programar computadores e o outro seja restaurar obras de arte do Galeria dos Ofícios (Firenze, não é isto?). neste caso, sigo pensando em meu caso -e por isto uso o marcador "Vida Pessoal"- de aposentado, mas mudado para um jovem detentor de renda básica bem atraente (mais de R$ 1.000, por suposto). então restar-me-ia ir aos leilões de oportunidades de emprego. se eu quisesse aumentar meus ativos, venderia habilidades computacionais pelos citados pi x 1.000, ao passo que se meu desejo fosse restaurar desenhos de Leonardo, então eu iria a leilões comprar por, digamos R$ 50.000 o direito de fazê-lo, digamos, por dois anos. como ficou moda dizer: "é a economia, bobão".

é o mercado, não é isto? e que impede a trajetória virtuosa? acho que, entre outros, é a macacada que pensa que ainda estamos no século XIX e faz uma luta sindical compatível com o século XVIII: políticos e sindicalistas, ou seja, a dualidade expressa nas duas sílabas da palavra la-drão.
DdAB
p.s.: dei-me conta -mais claramente- de duas coisas: acabou o horário de verão no Brasil e todas as minhas postagens aparecem com o horário que o Google entende como sendo meu, pois minha conta é brasileira. por alguma razão cibernética, a postagem de hoje, que fiz às 20h08min do horário dos brasileiros em Pescara (no inverno local), apareceu como das 16h08min. agora a diferença é de apenas duas horas. logo, deveria ter aparecido 20h08min mesmo, ou pelo menos 18h08min, não era isto?

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