02 abril, 2009

Engolir Passarinho

Querido Blog:
Coincidência das coincidências, o mesmo menino de rua que ensinou-nos a zurzir, ou zurrar, um azougue, encontrou-me hoje em visita rápida que fiz à PUCRS, na maior azáfama. Tentei contar-lhe a história que ouvi no rádio como sendo dita pelo goleiro Manga e seu coadjuvante -na história- Flávio. Flávio e Manga foram rivais naquela memorável noite. Eu fiz minha parte. Ouvi a história, tentei torná-la história. Ele zombou. Explico tudo.

Começo dizendo de ondem vem a ilustração acima:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/03/090325_artistapenasganso_ba.shtml. Todos sabemos que recomendo o exame -e eu o faço com delinquente frequencia, que os tremas se foram- do blog http://blogdosilvioedaana.blogspot.com/, que trata de passarinhos e de auri-plúmbeas paisagens, como é o caso daquela que -inadvertidamente- eu ia atribuindo a El Greco.

O de peculiar da postagem de hoje é que -tendo almoçado com os Profs. Adelar Fochezatto e Sabino da Silva Porto Jr. na PUCRS, que nada testemunharam sobre meu encontro com o Sr. Menino de Rua, mas Adalberto Quinto a tudo viu- referi que procuro postar diariamente, mas tem-se tornado crescentemente difícil fazê-lo. A azáfama, diria o menino de rua, para azucrinar-me. Então, por razões que não cabem no marcador "Escritos", mas no "Vida Pessoal", o que não é o caso, resolvi fazer uns scribbles sobre esta questão de engolir passarinho, para aproveitar a fachada do site da BBC au portugais, o.s.l.t.. Ou seja, hoje a postagem começou com a beleza da pintura que acima exibo. E terminou com esta história nauseabunda de engolir passarinho, se entendida fora de contexto. Consta que meus antepassados, quando chegados da Itália, nunca tinham visto tanta polenta e tanto passarinho e passaram a comê-la/los.

Pois, depois de ter dado minha aula sobre a diferença entre eficiência técnica e eficiência econômica na disciplina de Microeconomia I da Unisinos, numa fria noite de quarta-feira no -talvez- ano de 1979. Noite fria. Meu Karmann Ghia -TC andava de modo fagueiro naquela estrada, que eu já era metido a bacana e não andava de ônibus. Eu andava na mesma velocidade que ele, o automóvel, pois não poderia ser diferente e manter-me na direção, ou seja, no comando.

O futebol acabara. O Sport Club Internacional, do goleiro Manga, jogara com o Sport Club -digamos- Pelotas, ou Brasil de Pelotas, ou Pelotas do Brasil, sei lá, do centro-avante Flávio, que fora do Internarcional em diferentes ocasiões, tendo também jogado em Portugal, onde aprendeu -suponho- português. Não lembro quem ganhou o jogo, o fato é que Manga tomou um gol de falta que foi cobrada por Flávio. No horário das entrevistas, o que entrevi estava por acontecer, importantes lições a serem expropriadas em benefício das gerações futuras. Por isto pensei em revelar isto ao Sr. Menino de Rua, que não quis ouvir.

Primeiro falou Manga, com o sotaque da língua que aprendera ao jogar no Peñarol, ou Nacional, ou sei-lá-que-diabo-de-time-daquela-cidade-que-tem-meninos-de-rua-assantando-turistas-e-a-que-eu-nunca-mais-voltarei-juro-juro! Depois, veio Flávio, com o português a que me referi acima. Disse Manga: "pues, não pude defender aquella bola pues bem na ora que Frávio ia xutá, correu um zagueiro deles, um azorrague, e impediu-me de ver onde o Frávio bateu na leonor. Estas condições de contorno impedem um goleiro de meu porte de pular e garrar a bola." Pues, digo, depues, ou melhor, depois, falou Flávio: "Ó raios, nós tinha que fazê aquel gol, então combinei com o Birinha (ou era o Old Capapava? ou nenhum deles?) que ele correria para a bola bem no momento em que eu chutaria, a fim de impedir que Manga visse precisamente o local em que eu iria bater na bola. Tirar da barreira era fácil, e se Manga não visse a batida, era gol nosso." Depois Manga, elogiosamente, é claro, ainda disse: "Esse Frávio engoliu pacharito!"

Na hora, pensei: "Cara, ainda faltam uns 10 anos para eu ouvir falar no conceito de equilíbrio de Nash, mas vejo que esta passagem tem tudo o que de relevante dele podemos esperar, ou seja, se eu já conhecesse o conceito, entenderia que era dele que Manga e Flávio estavam falando, como naturalmente eles bem sabiam, um em portunhol e o outro em portubrás". O menino de rua azulou. Eu ziguezagueei e pinguei o ponto final.
DdAB

Nenhum comentário: