06 outubro, 2015

Até os Mortos Sabem


Querido diário:

Até os mortos sabem que "não há justiça neste país". Chico Xavier? Não: Érico Veríssimo. Fala Érico pela boca do finado Cícero Branco, advogado que, em vida, era um lambe-botas das atrabiliárias e corruptas autoridades de Antares (lá pena metade do capítulo 51 da segunda parte do último romance da legenda literária sul-riograndense).

Eu morro de rir quando vejo uma turminha pregando que o impeachment de Dilma vai salvar o Brasil. Impedindo nossa amiga Dilma far-sei-a justiça? Ou faz-se justiça reformando profundamente o sistema judiciário nacional, esta nau de mordomias e incompetência. Penso que iludiu-se quem achou que sairia algo permanente nas incursões do velho Joaquim Barbosa pelos meandros da corrupção. E agora, penso o mesmo com o jovem Sérgio Moro. E tem mais: não acho que haja justiça, que vivamos em uma sociedade justa enquanto mesmo os ladrões de galinha e outros ladrões, com o supermercado, a telefônica, o rádio-táxi, o militante partidário, o pesquisador universitário, uma curriola enorme de malfeitores e desalmados, toda essa malta não for trancafiada.

Seria que seria o impeachment de Dilma o começo da salvação nacional? E por que não teria sido o de Fernando Collor, já consagrado como governador de Alagoas (novamente, depois de cassado) e senador (atual, inclusive inocentado dos crimes de que foi acusado precisamente pelo poder judiciário)?

E que foi mesmo que disse, já morto, o doutor Cícero? Não era bem "não há justiça...":

O nosso famoso 'grafófobo', o coronel Tibério Vacariano, o espertalhão  que sempre recusou assinar papéis, até mesmo os legais, dessa vez caiu na ratoeira: sem saber deixou gravada a sua voz no meu tape, e o que ele então disse poderia levá-lo à cadeia se houvesse justiça neste país.

Por que grafófobo? Pois o caudilho erudito (há indícios de erudição no livro, talvez dos anos em que "é bruto só que morou no Rio") tem fobia por assinatura, hehehe. A visão de Érico sobre o incidente do dia 13 de dezembro de 1963 tomou forma, como diz o prefácio (de Maria da Glória Bordini) da edição que tenho:

Dia oito de maio de mil novecentos e setenta. Andava caminhando com minha mulher pelas colinas do Alto Petrópolis quando a ideia me voltou com tanta força que comecei a trabalhar nela mentalmente. [...] Quando cheguei à esquina da Carlos Gomes com Protásio Alves, o livro já estava estruturado.[sic]

1970? Brasil bicampeão de futebol, Médici na presidência da república, ladroagem e tudo aquilo mais.

DdAB
A imagem é daqui. Será calúnia? E o que andei ouvindo, com inveja, sobre o presente de formatura em economia, um cargo de diretor da Caixa Econômica Federal, que até hoje me cobra para emitir talões de cheque?

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