09 outubro, 2015
Solow, o Meio-Ambiente e o Lixo da História
Querido diário:
Solow: Robert Solow, prêmio Nobel de economia de 1987. Lixo da história: demagogia barata feita por mim. Mas já explico, pois ainda deixei sem registro o meio-ambiente do título. Neste mundo de buscas constantes de radicalização, veio eu com meu meio-termo, minhas meias palavras, minha crença iluminista no progresso da humanidade inspirado na tecnologia, ou melhor, na inventividade humana.
Nunca me opus à concessão do prêmio referido a ele, pois dez anos antes da consagração, eu lera dois ou três artigos (à época dificílimos, hoje impenetráveis). Lembro o que está indo para o lixo, mas não posso esquecer de referir o de 1957 (?) sobre o progresso tecnológico (que até hoje fascina meu colega e professor Adalmir Marquetti). Parece óbvio: se existe lei da entropia, as funções de produção planetárias devem crescer a taxas decrescentes (isto é, mais recursos geram mais produção, mas menos que proporcionalmente). E não adianta dizer que Paul Romer matou a questão, pois existe um horizonte de planejamento em que as atuais tecnologias (e que são espantosamente mais agudas que as de 60-70 anos atrás) geram gerações de funções de produção, todas com retornos decrescentes (e nem estou falando em rendimentos decrescentes do fator, que também me parece uma obviedade). Alongo-me, bem o sei. Talvez abrevie o cerne da viagem.
Então: lixo. É que uma vez contei bem contadinhas minhas caixas A-Z com fotocópias de artigos guardados e poucos relidos desde os tempos em que comecei a estudar para valer (1975, mestrado do atual PPGE-UFRGS e, no caso, 1977, mestrado em Sussex), acumulando conhecimentos e xerox. Contadinhas, empilhadinhas, organizadinhas, tive 72 caixas. Não todas abarrotadas, pois organizava-as pela ordem alfabética do nome do autor e havia espaços quando uma caixa se desdobrava, sabe como é?
Então dias atrás comecei a limpeza de uma das caixas com autores de sobrenome iniciado com S. Pimba, cheguei em Solow. E que artigo está indo para o lixo? Antes vejamos por que está indo para o lixo: pois é só querer reler que o encontro no JStor. No caso,
SOLOW, Robert (1974) The economics of resources or the resources of economics. American Economic Review. V. 64, n. 2. Maio, p. 2-14.
Fiz-lhe um xerox em, digo lá, outubro de 1977. E que vi dele? Um neoclássico falando mal do livre mercado no que diz respeito à conservação do meio-ambiente. Não vou aprofundar-me nisto. O que desejo dizer é que os mal-entendidos que regem a visão de que a ciência econômica não dá respostas a problemas correntes em nosso tempo deveriam resolver-se pela aceitação de que, sim, ela dá. E boas respostas, na maior parte dos casos.
E tudo começou com ele? Claro que não. Ele mesmo na página 1 do artigo cita outra peça sobre o tema:
HOTELLING, Harold (1931) The economics of exhaustible resources. Journal of Political Economy. April. V. 39, n. 1 p.137-175.
Falei 1931? Falei. E que foi feito? Uma guerra mundial, milhares de guerras localizadas, incentivos à produção de automóvel, descaso com a explosão demográfica, uma pilha de coisas que deveria consagrar os economistas e vilipendiar os políticos e seu curto-prazismo. E nem estou falando no Brasil, terra, em minha opinião, cada vez mais, um entreposto comercial da Europa na América, cujos acionistas majoritários volta e meia trocam de mãos. E há relutância generalizada em se criar aqui uma democracia.
DdAB
Imagem daqui. Vemos que a imagem tem a propriedade de deixar qualquer um doido...
P.S.: quem lê minha conta no Facebook terá notado que mudei o frontispício (com perdão da palavra) por razões de gramáticas, ou melhor, diagramáticas, a gramática do espaço reduzido.
P.S.S.: No wonder, eu teria que inventar a escola de pensamento cognominada de neo-heterodoxa, pois vejo a maior sensatez neste tipo de abordagem. Felizmente, embora seja o único integrante vivo, estou bem certo de que gente como Oskar Lange mandaria fazer carteirinha.
P.S.S.S.: e quem foi meu aluno em Introdução à Economia (e talvez em Microeconomia) ter-me-á ouvido falar no metrô de Moscou (onde nunca estive) e que talvez tenha-me inspirado em Lange. Precisava-se decidir se haverá preço (e até hoje precisa, mas hoje a resposta é óbvia). E, se a decisão fosse por dar preço à viagem, qual deveria ser o valor deste? Pelo custo médio? Pelo custo marginal? Por subsídios cruzados? Por subsídios generalizados, aquelas coisas todas que fazem a farra dos professores de Microeconomia?
P.S.S.S.S.: e será que sai hoje anúncio do prêmio Nobel de economia de 2015?
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