30 julho, 2023

Pequeno na China

 

(Imagem da Wikipedia aqui)

Tudo começou com uma conversa fraternal que entretive com um amigo. Falávamos na invasão da Ucrânia pela União Soviética, digo, Putin, digo, Rússia. Divergimos. E não sei bem como ele defende a invasão. Talvez por desconhecer aquela argumentação que vim trazendo aqui a este blog. Por contraste, muita gente sustenta que era óbvio que os Estados Unidos estavam prevendo invadir a Rússia. A ideia é tão disparatada que até hoje os Estados Unidos não invadiram, especialmente agora que os russos estão bastante enfraquecidos precisamente por causa da invasão: a inteligência russa foi incapaz de desenhar um jogo com um ramo em que a Ucrânia reagiria, montando um poderoso subjogo. Aliás, a Ucrânia, com a ajuda europeia e americana não ataca frontalmente os territórios soviéticos, digo, russo-bielorusso, imagino, por causa da objeção... americana.

Faço agora uma listagem das postagens publicadas neste mesmíssimo blog colocando minha posição margeada pela de outros críticos da invasão soviética, digo, russa:

24 fevereiro, 2022: Za Mir: os bons tempos


03 março, 2022: O Jogo Falcão e Pombo: OTAN e Rússia


10 março, 2022: Popper e a Ucrânia


12 março, 2022: Rússia, Novo Gendarme do Mundo: contra o imperialismo do chiclé

17 de julho de 2022A Ucrânia e a Esquerda Belicista (aqui a intervenção de Diane Porto)


12 maio, 2022: Ucrânia Vista de Dentro


22 setembro, 2022: Ucrânia Invadida


05 de outubro de 2022Esquerda, esquerdas: dificuldades estruturais.

14 de fevereiro de 2023:Covardia na Ex-URSS (só lá?)

Pois bem. Tendo resolvido a maior parte dos problemas do mundo contemporâneo com essas postagens, decidi mostrar nestas paragens o resultado da audição que fiz de um texto que me foi indicado sobre a China, sobre a possível existência de trabalho escravo naquele país. A fala é de Felipe Duarte e pode ser acessada clicando aqui. Mas faço um resumo que produzi para garantir minha atenção e entendimento:

TRABALHO ESCRAVO NA CHINA?
A legislação trabalhista chinesa, hoje em dia, cobre muita coisa, mas não é tão abrangente quanto a brasileira. Trata-se de um país socialista, mas como é uma ditadura do proletariado?
A jornada de trabalho modal é de 12 horas durante seis ou sete dias por semana. Na empresa é obrigatória a concessão de quatro dias de folga por mês.
Mas sabemos que, com jornadas de 12 horas, a produtividade fica reduzida, pois se trabalha com temperaturas de até 50 graus centigrados, sem ar condicionado. A perda de qualidade e o cansaço levam a erros. Os trabalhadores, para repor a energia, precisam ingerir um líquido assemelhado ao Gatorade.
A atual legislação chinesa estabelece a jornada padrão como de oito horas de duração, mas não põe limite na quantidade de horas extras. Essas quatro horas de horas extras diárias permitem um aumento significativo do rendimento mensal, o que leva à adesão de boa parte dos trabalhadores, ainda que muitos outros fiquem na jornada legal.
Outra remuneração extra-salarial é para compensar os efeitos do calor dentro da fábrica: locais com temperaturas de 20 a 35 graus passam a receber adicionais.
Existe uma licença maternidade garantindo salário por 178 dias. A parturiente ainda tem o direito de sair duas horas antes do final do expediente. E também é autorizada a fazer paradas de 15min para sugar o leite e guardá-lo.
Sobre as férias: existe o direito de sete dias de férias anuais, e a cada ano na empresa, o trabalhador recebe mais um dia, até chegar a 15 dias.
O próprio Felipe tem direito, claro, a esses sete dias, já tendo chegado a mais treze, podendo transferir os dias de férias para outro período.
Os trabalhadores se engajam por meio de um contrato de trabalho. Também existe uma lei para os equipamentos de proteção individual, sendo dado a cada trabalhador um manual de comportamento. Mas as empresas muito pequenas não obedecem.
Confrontando a questão título do podcast, Felipe diz nunca ter visto um trabalhador escravo, e acha que não tem mais: é muito fácil sair de uma fábrica para outra.
A legislação trabalhista tem sido crescentemente implantada, de sorte que, hoje em dia, o "custo chinês" é o dobro do vigente no Vietnam e na Tailândia, o que tem feito empresas chinesas se mudarem para esses países.

Minha grande fonte sobre esses aspectos da vida chinesa viram basicamente das leituras dos livros de Rosana Pinheiro-Machado (aqui). E sempre sonho que a China venha a se transformar numa Coreia do Sul, onde o progresso econômico trouxe de volta a democracia.

Meu título de "pequeno na China", em homenagem ao tamanho da legislação trabalhista que realmente protege o trabalhador, lembrei de uma velha charada que li no também agora antigo livro de Osny Duarte Pereira:

A. Pequeno na China

B. Nascido na China

C. Produto da China

(não lembro agora, mas parece que vemos em seguida o que segue

1-1-1

Conceito: Negócio da China

Resposta: pé-chin-chá.

Bonitinho, né? Pechinchas na China, na verdade, hoje em dia, têm muito a ver com a produção massiva daquela população de 1,2 bilhões de habitantes. Mas a razão que levou Osny a reproduz a charada em seu livro (cujo título já não lembro e a internet não me ajudou) foram os maus tratos que o mundo, especialmente a Inglaterra e o Japão infligiram à China.

Hoje mesmo temos as "pechinchas chinesas", das tesouras, sapatos a automóveis. E também há tesouras, automóveis, computadores e tudo o mais da mais alta tecnologia. E a questão que acho que pode ser colocada é: "Será que valeu a pena essa trajetória chinesa de uma feroz ditadura para tornar a China a maior economia do mundo (PPC)?"

DdAB

P.S. Tomei a imagem que nos ilustra da Wikipedia, querendo dizer que hoje uma delicada câmera feita na China é pequena como não poderíamos imaginar no tempo da montagem da charada que reproduzi.

P.S.S. A Wikipedia em inglês mostra os valores do PIB dos Estados Unidos e da China corrigidos pela paridade do poder de compra. Com esta metodologia, amplamente aceita pelos especialistas na contabilidade social, a China é a maior economia do mundo, com um PIB de 33.02 trilhões de dólares americanos. De sua parte, os Estados Unidos apresentam a cifra de US$ 26,86 trilhões.

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