Tod@s conhecem o Caetano Galindo? Tradutor da terceira edição brasileira do "Ulysses", de James Joyce (o primeiro tradutor foi Antônio Houaiss e a segunda, minha preferida, foi a professora Bernardina da Silveira Pinheiro). O Caetano é um intelectual de respeito, inclusive tendo escrito um "uma visita guiada ao "Ulysses".
Em 2022, ele publicou o livro "Latim em pó; um passeio pela formação do nosso português".
E é dele, livro e título, que quero falar com vocês.
O livro tem um capítulo que se chama "Pretoguês", em que ele argumenta que aquele português de Portugal que nos foi ensinado na escola tem tanta influência das migrações (africana, italiana, alemã, árabe, e por aí vai, além da indígena). Mas que a mais notável influência é das diferentes nações africanas que tiveram seus filhos sequestrados e vendidos como escravos para o Brazil. E mais ainda: a ocupação do trabalho d@s negr@s foi responsável por grande migração, pois el@s eram vendid@s para cima e para baixo: uma nova diáspora, desta vez não a africana, mas a brasileira.
Galindo exemplifica com com quitanda e carimbo, caçula e cafuné. E vou além, na página 181:
"Assim, é de novo sedutora a possibilidade de que aquela estranha (ainda que relativizável) homogeneidade do português falado no Brasil se deva a esse movimento constante de massas de escravizados, de negros, indígenas e pardos, que levavam de uma região a outra a versão que tinham absorvido e modificado daquele tal 'pretoguês', segundo a linguagem do preconceito racial e linguístico do Brasil colônia, muito antes da reapropriação do termo por Lélia Gonzales, por exemplo. Assim, teriam sido eles os principais responsáveis por fazer com que as várias partes do território tivessem contato umas com as outras e fossem, elas também, homogeneizando seus usos."
Por esse hora, entrei numa viajação do encontro com esta língua que falamos e que designamos com o termo preconceituoso. Num certo passado, eu costumava pensar que é puro elitismo dizermos que falamos uma língua europeia e não um patoá africano. Mas ele não teve -presumo- coragem para assumir que nossa língua é o pretoguês. E quem sou eu para fazê-lo? Diria que não quero ser um blogueiro "não dos maiores, porém dos mais expostos à galhofa".
O Galindo ainda indica uma bibliografia no final do volume. E de lá decidi que vou ler uma meia dúzia. E acabo de receber a primeira compra: "Norma culta brasileira: desatando alguns nós", de Carlos Alberto Faraco (orientador do mestrado do Caetano). São Paulo: Editora Parábola, 2008.
Depois, algumas semanas, I presume, darei um relato de meus achados.
DdAB
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