01 setembro, 2019

O Cortis Verbis N. 2


Vou reproduzir depois de minha assinatura a mensagem que Márcio Gasperini Gomes colocou no WhatsApp sobre o triste destino imediato da educação superior brasileira. Os dias que correm estão mesmo de assustar o observador interessado. Para amenizar nosso sofrimento, evoco a parte relevante do ditado: "não há mal que sempre dure". É claro que essa macacada que ocupa o poder hoje em dia vai cair, um dia vai cair.

E eu, que em 1968 ingressei como estudante na faculdade de economia da URGS, logo depois foi transformada em UFRGS. E que a gauchada segue pronunciando 'urgues'. Era o marechal Castelo Branco. E a turma do puxa-saquismo controlando o conselho universitário ofereceu a ele o título de doutor honoris causa pela universidade. E a turma sensata entendeu que a causa era tíbia e a consagração estava mesmo no doutor "cortis verbis", fazendo montes de pixações em vários locais da cidade. Um jejum pecuniário que não foi eterno. Mas aquele mal finou-se, e agora temos o Bolsonarus Cortis Verbis.

Ninguém sensato pode combater a educação per omnia saecula saeculorum. Que projeto de país teria um grupo encastelado no poder central da república que odeia jovens e seus professores?

Vamos dar a volta por cima. Como diziam os revolucionários franceses, tão em moda no Brasil de hoje: Ah, ça ira, ça ira, ça ira. E como dizíamos em Jaguary: vai mudar nem que crepe!

DdAB
Fala, Marcinho:
A partir de 15/09 na UFSC não tem mais restaurante universitário, ar condicionado não pode ser ligado, bolsas suspensas, projetos de pesquisa e extensão na comunidade encerrados, etc etc etc.
O colunista da NSC (Globo), Anderson Silva, falou na radio esses dias que o lado bom dos cortes é que a universidade vai ter de ser mais transparente com relação aos seus gastos, comprovando tostão por tostão para receber o quinhão do mês seguinte e mostrando pra sociedade o que anda fazendo.
Ao ler a notícia em outros portais de informação também vi/vejo gente dizer que acabou a farra, que o dinheiro do contribuinte não cai do céu e por aí vai.
Fico pensando se essas pessoas acham que o alface que comem no almoço cai do céu; se pensam que não tem pesquisa da agronomia da UFSC junto aos produtores; se pensam que o fruto do mar fresco e de qualidade que serve pra aquele post bonito do Instagram não tem nada a ver com a engenharia de aquicultura da universidade; se acreditam que o motor do ar condicionado ou da geladeira de casa não tem a ver com os convênios UFSC-Embraco (líder mundial no mercado de compressores); ou se acham que o transporte rodoviário, aéreo, aquaviário e ferroviário que nos faz viajar ou traz produtos que consumimos até o mercado da esquina também não tem nada a ver com os laboratórios da universidade.
Se acham mesmo isso poderiam ler mais sobre o papel das universidades nas revoluções industriais, na revolução da TI dos anos 70 que nos permite hoje usar a internet e smartphone. É a combinação mercado-universidade que cria tudo o que consumimos. Quanto desconhecimento ao celebrar o lado bom da tragédia. Como diz um professor meu, quando achar que estas dominando um assunto, leia um pouco mais.
Talvez estes contribuintes, assim como o jornalista, só percebam a contribuição da universidade nas suas vidas quando ela fechar a porta.
abcz

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