Zero Hora, sempre ela. Não, nem sempre: muitas vezes é a Zerro Herra. Na Zero Hora deste fim-de-semana, estampa-se uma entrevista com Werner Herzog. Eu nem sabia tanto sobre o pensamento deste maravilhoso intelectual, além de seus filmes sempre impactantes e me deliciei com a entrevista do Caderno DOC.
Vou me ater a um comentário que reforça minha visão construída a partir de uma constatação da infância e, décadas depois, a ser burilada com leituras abalizadas. Garantidamente, antes de 1960, fiquei a me perguntar se, com aquelas exportações de toneladas e mais toneladas de café, não haveria buracos abertos por toda a nacionalidade. A resposta é que, talvez todo mundo sempre tenha sabido, sim, essas exportações causaram e causam erosão. Já formado em economia em 1972, falou-se um tanto mais sobre o "meio-ambiente", termo incorporado a empurrões no vernáculo brasileiro. Environment.
A degradação do subsolo provocada pela extração de, tá na moda, minério de ferro deve ser ainda mais perigosa que os lagos formados por dejetos, subprodutos dos processos da extração. Um dia, dias atrás, atrevi-me a fazer uns cálculos sobre os volumes estocados naqueles "lagos", aqueles mingaus nauseabundos. Pensei que, se do barro nascem os tijolos, com subsídios adequados, aquele lodaçal mortífero poderia ser transformado em tijolões. Com eles, se poderia promover aquela meta que o prof. Adalmir Marquetti acenava como saída para a economia brasileira desde os tempos imemoriais: habitação, 20 milhões delas, para a população desabitada.
Mas a escala do saque ao meio-ambiente com o café, com a mineração, com o gado, os frangos, praticamente com toda a atividade produtiva na agropecuária, os dejetos industriais e os insumos para prestação de serviços, ou seja, tudo, tudinho é realmente escandalosa.
Um autor de respeito que me foi indicado pelo econ. Eugênio Cánepa é
BOULDING, Kenneth (1966 [1964]) O significado do Século XX; a grande transição. São Paulo: Fundo de Cultura.
Boulding, buscando explicar o significado do século que nos antecedeu, fala que, para alcançar aqueles horizontes luzidios tão enfaticamente prometidos, a humanidade precisaria enfrentar e vencer três ameaças devastadoras:
.a a guerra nuclear (era o tempo da guerra fria, agora reinaugurada por Jair Bolsonaro)
.b a degradação do meio-ambiente
.c a explosão demográfica.
Pois, além disto, ao trabalhar na editoração do livro
BÊRNI, Duilio de Avila & LAUTERT, Vladimir orgs. (2011) MESOECONOMIA: lições de contabilidade social; a mensuração do esforço produtivo da sociedade. Porto Alegre: Bookman.
vim a entrar em contato com o conceito de capacidade de carga do planeta, ou de qualquer sistema contemplando vida. É como um fusca: não dá, com razoáveis padrões de conforto, para carregar mais de oito pessoas [feito de que fiz parte em passado um tanto remoto].
Quer dizer, tá na cara que o Terceiro Planeta de Sol está com sua capacidade de carga esgotada. Parece que, como disse o conjunto The Youngsters, "havia gente demais". Naturalmente sou favorável ao uso de métodos pacíficos para estancar este churrio demográfico, como a educação e a renda básica universal paga às mulheres (depois vamos pensar em pagar para os marmanjos). Como sabemos, dadas as atuais sobredeterminações demográficas, rico tem menos filho que pobre, o que me leva a crer que, enriquecendo os pobres, eles tampouco terão manadas de filhos.
Pois agora chegou a hora de retomar a conversa sobre a entrevista de Werner Herzog. Selecionei trechos que li no jornal de papel, mas coletei aqui:
O senhor é um
visitante constante não apenas do Brasil, mas já esteve muitas
vezes na Amazônia. Como tem visto as recentes notícias sobre o
aumento das queimadas?
Vejo sob duas
perspectivas diferentes. Por uma perspectiva global é catastrófico.
Mas há uma segunda perspectiva, histórica. Por que nós, como
europeus e norte-americanos, fazemos um barulho tão grande a
respeito disso quando nós queimamos nossas florestas há muito
tempo? Na Idade Média, a maior parte da Europa ocidental era de
florestas, destruídas para criar pastagens para o gado e campos para
a produção agrícola. Nós fizemos a mesma coisa, por uma
perspectiva histórica, e por isso consigo entender que algumas vozes
no Brasil digam: “Qual o direito de europeus ou nova-iorquinos
gritarem tanto sobre isso?”.
O senhor já
declarou que um dos grandes problemas ambientais hoje é que nossa
sociedade baseada no consumo não é sustentável. há alguma mudança
no horizonte?
Tende a ocorrer. É
escandaloso, é um ultraje que a civilização ocidental como os
Estados Unidos ou as nações europeias, ou outras civilizações,
como o Japão, joguem fora 40% de sua comida. É um ultraje.
Reduzindo nosso consumo, teremos um impacto gigantesco no ambiente.
Para apenas um quilo de carne, imagine o impacto de quanto pasto você
precisa, quanta água, quanto trabalho no matadouro e no transporte
até o supermercado para vendê-lo embalado em plástico. E aí,
jogamos fora 40% disso. Se você começar a organizar bem sua
geladeira para não jogar comida fora, já estará fazendo algo
importante. Se todos os que tivessem carros reduzissem seu tempo
dirigindo. Se você pensar de modo mais estratégico em como usar seu
carro, você pode facilmente reduzir a necessidade dele em 20%, o que
faz muita diferença.
Como isso pode se
contrapor a políticas que vão em sentido contrário?
Não é preciso
esperar pelos políticos. O mundo político é incapaz de entrar em
acordos. Foi feito um acordo climático, mas a China não está nele,
os Estados Unidos idem. Nós temos de ser a política. Acho que os
jovens que protestam contra o aquecimento global estão certos, mas
eles precisam começar pela própria casa, pela própria geladeira.
Outro problema é que há gente demais no planeta. A explosão
populacional é o mais profundo dos nossos problemas.
Mas há muitas
nações em que a curva populacional está em queda. na própria
Europa, por exemplo.
São poucos países. A China, mesmo com sua brutal política do filho único, hoje mais flexível, tem visto um aumento populacional contínuo. A Etiópia cresceu nos últimos 20 de anos de 40 milhões para 89 milhões de habitantes. É um problema.
São poucos países. A China, mesmo com sua brutal política do filho único, hoje mais flexível, tem visto um aumento populacional contínuo. A Etiópia cresceu nos últimos 20 de anos de 40 milhões para 89 milhões de habitantes. É um problema.
Podemos ver que a frase Outro problema é que há gente demais no planeta. foi mesmo influenciada pelas audições que Herzog fez dos The Youngsters. Mas o interessante é que ele não fala nada sobre os 40 partidos políticos brasileiros, não lhes dá qualquer crédito como expectativa para resolver problemas alheios à formação de seus patrimônios. Ao mesmo tempo, apenas a educação é que poderia ajudar os atuais 7,5 bilhões de poluidores a cuidarem de reduzir seu consumo supérfluo. Quem sou eu para dizer o que é supérfluo? Primeiro, sou o autor do blog. Segundo, tenho em mente essas questões da capacidade de carga do planeta.
Tem muita coisa envolvida nessa questão do desenvolvimento sustentável. Tenho insistido que o primeiro problema ambiental do Brasil, e ao mesmo tempo ramo condutor do desenvolvimento sustentável é formar uma boa rede de esgotos, saneamento, serviços industriais de utilidade pública. Mas, sem a educação da mãe, suas barrigas seguirão ingerindo seres vivos e, como output, jogando hijitos no mundo. Neomaltusianos Herzog e eu? Et vous?
DdAB