05 dezembro, 2014

"Ajuste macroeconômico: de esquerda ou de direita?"

Querido diário:

Como sabemos, volta e meia escrevo para a coluna das opiniões do jornal Zero Hora, de Porto Alegre, Brasil. De vez em quando, eles publicam. Pois hoje rolou o seguinte:

AJUSTE MACROECONÔMICO: DE ESQUERDA OU DE DIREITA?

Dias atrás, Zero Hora falou nas “ideias de (Joaquim) Levy”, o anunciado ministro da fazenda de 2015. Ao lê-las, torna claro haver políticas de estabilização macroeconômicas de direita e de esquerda. Não é difícil diferenciá-las em alguns casos.

Primeiro: Levy diz ser “contrário à política de valorização do salário mínimo adotada atualmente pelo governo, que não leva em consideração avanços na produtividade, e sim o ritmo da economia e da inflação.” Este ajuste é de direita, pois não existe nenhuma lei jurando que o salário deve crescer alinhado com a produtividade. E se não crescer? Se crescer menos, aumenta a participação dos capitalistas ou do governo no PIB. Se crescer mais, aumenta a participação dos trabalhadores. Há algo de errado com isto? A direita acha que sim. O aumento do salário mínimo tem a previsível consequência de reduzir o emprego, mas carrega a enorme virtude de forçar as empresas a fazer crescer a produtividade da fábrica, levando a menores preços. Os arautos do ajuste de direita não veem.

Segundo: “Levy defende benefícios e incentivos concedidos a grupos economicamente semelhantes, desde que ‘transparentes no orçamento público’ e acompanhados de metas claras e verificáveis de desempenho.” Há uma assimetria com a crença de que trabalhador não pode ganhar mais que a produtividade. Tais grupos podem, “desde que acompanhados de metas claras e verificáveis de desempenho”, ganhar benefícios e incentivos. Quais seriam estes “benefícios e incentivos”? Ou se está demarcando a posição de direita?

Terceiro: “Levy afirmou que a recente alta na taxa de juro é ‘positiva na medida em que sinaliza compromisso com a estabilidade de preços’”. O ajuste necessário neste país de políticos de direita e outros da esquerda arcaica requer ação sobre as principais variáveis-síntese macroeconômicas: câmbio, déficit público (impostos regressivos e gasto corrompido), salários e, como resultante, a inflação. Parece óbvio não haver mágica para segurar a inflação. O que se pode fazer é elevar os ganhos dos rentistas _ ajuste de direita _ ou iniciar uma reforma fiscal de vulto, reduzindo os impostos indiretos e elevando o imposto de renda dos mais ricos, ajuste de esquerda.

DdAB
A imagem veio daqui, onde se encontra o artigo, além de publicado no jornal propriamente dito. A grande questão é se me considero revolucionário por trazer este tipo de consideração aos "formadores de opinião" da província do Rio Grande do Sul (um nível de organização político-administrativa do Brasil que recomendo ser extinta, em um projeto de esquerda). Deste modo, com ela ir-se-iam a assembleia legislativa (uma enorme crise de moralidade por dia, praticamente) e o senado da república (uma crise similar por segundo).

p.s. O leitor diligente terá visto que no motor de busca do site consta a expressão enviesada ideologicamente "duilio para ministro da fazenda!", bem assim, com o sublinhadinho com a cor vermelha e com ponto de exclamação!

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