29 dezembro, 2014

Meninos de Rua, Música e Orçamento


Querido diário:

O crítico musical e professor Celso Loureiro Chaves escreveu no Segundo Caderno de Zero Hora de hoje (página 3) um artigo intitulado "Novidades". Seu ponto de vista é interessante, parcialmente interessante, convenhamos. Há uma preocupação pertinente com as obras inacabadas entra-governo e sai-governo. Então, ele pede a conclusão de duas obras associadas às artes e cultura e que não se invente nada para afugentar os recursos destas duas obviedades inconclusas.

Disse-me no outro dia o colega Ariel Garcez que este problema das obras inacabadas tem a ver com a leviandade com que se conduz o orçamento público no Brasil. Não há mais orçamentos pluri-anuais (e nem anuais, devo aduzir), o que permite que a continuidade das obras seja apenas um desejo, realizando-se apenas em poucos casos.

Celso Loureiro Chaves sugere que dois projetos sejam iniciado/concluído: o Teatro da OSPA e o Teatro São Pedro. Outros projetos megalômanos, como a expansão da rede metroviária e uma faraônica ponte sobre o Rio Guaíba, deveriam aguardar na prancheta. Achei seu ponto bem assestado. E voltaram-me à mente dois, ou melhor, três conceitos que costumo dizer devem ser ensinados no primeiro dia de aula de estudantes de economia e que lhes seja assestado um breve, de sorte a que eles não caiam no olvido.

.a. custo social

.b. versus custo privado

.c. custo de oportunidade.

Primeiro, precisamos saber a diferença entre o custo social e o privado criado pelo subsídio governamental à cultura e à arte. De alguma forma, os montadores da lei do orçamento deverão ter uma ideia, medida em termos de vidas futuras, da submissão dos interesses dos meninos de rua ao, digamos, bel canto. Eu, que neste caso sempre aponto para um mercado ausente, não pude conter-me e pensei no caso de um seguro a ser feito pelo futuro governador (e, no devido tempo, ex-governador) para evitar que a tetra-neta de sua tetra-neta seja assassinada por um menino de rua mais taludo.

Segundo, o custo de oportunidade já está implícito no que falei acima: a vida daquela futura infanta vale quantos trinados num daqueles palcos. A análise de custo-benefício ajudaria a negadinha que fez o orçamento público estadual ou que dele venha a valer-se para administrar a postar-se mais consentaneamente neste contexto.

DdAB
Imagem daqui. Como sabemos (e a Wikipedia confirma), Sarah Bernhardt foi considerada a mais divida de todas as divinas atrizes de todos os tempos, tendo tido a má sorte de cantar no Rio de Janeiro em 1905, caído em cena e quebrado a perna que veio, anos mais tarde, a ser amputada. Qual o custo de oportunidade dessa viagenzita ao então chamado Brazil?

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