01 dezembro, 2014
A Lei da Oferta e Procura e o Câncer
Querido diário:
O jornal que leio diuturnamente e reputo de direita e se chama Zero Hora, e às vezes escrevo 'Zero Herra' tem um caderno dominical intitulado PrOA, creio que é Porto Alegre de proa, ou seja, de primeira. O Aurelião -by the way- fala em proa como a) a parte anterior da embarcação, b) a frente de qualquer coisa e c) presunção, vaidade, bazófia, jactância, fumaça.
Imagino que a acepção escolhida seja a segunda, não é mesmo? E que há de bom num caderno de alto coturno? Artigos assinados. Em particular, de hoje, página 11, Cristina Bonorino escreve sob o título de "A Volta por Fora". Sabemos, liminarmente, que a volta por fora é mais longa que a volta por dentro (até filosofei a respeito aqui). E quem disse que queremos a volta mais curta? Às vezes queremos mesmo é a volta mais longa, a volta com mais meandros, a volta com mais percalços. E nem sempre mais longa é mais percalços. Então a volta por fora de Bonorino é que, para lidar com o câncer, há lindas perspectivas. O enorme e estrondoso sucesso de hoje no combate à doença milenar (dizia-se ser a doença do século findo) é, já que câncer é reprodução descontrolada de células em uma área do corpo, é impedi-la à reprodução. E qual é a volta por fora? É fortalecer "a ativação da resposta imune", ou seja, faze que o sistema imunológico, que -bem entendo- dá conta de muitos cancerzinhos, liquidando-os, muitas vezes vacila e acaba envolvido na trama malévola. E daí? Bonorino:
No nosso corpo. as células que se dividem mais rápido, depois de um tumor, são as células do sistema imune. Nossas defesas funcionam como um mercado econômico regulado por oferta e demanda. As células imunes se dividem quando temos uma infecção, e voltam ao número normal quando não são mais necessárias. Ao impedir a expansão do câncer, algumas drogas impediam também as nossas defesas.
E onde está o equilíbrio? As células voltam ao equilíbrio quando deixam de ser necessárias. Fiquei pensando: e eu que disse que a lei da oferta e procura é mais imponente que a própria lei da gravidade? Exultei, claro. Mas tem mais. Bonorino:
Nos últimos 10 anos, depois de mais de um século de debate, surgiu o mais revolucionário tratamento antitumoral: a ativação da resposta imune.
Não falei? Mas não é o autoelogio que desejo deixar registrado. Esta analogia de oferta e demanda tem outro paralelo: a política econômica. Se a natureza criou o tumor, teria o homem o óbvio direito universal de mudar a natureza. Não foi para isto que o velho Marx disse que "ao transformar a natureza o homem transforma sua própria natureza"? Isto é política, sem ladrões, claro!
E aí fiquei pensando sobre o que pensam sobre mim os leitores do blog e os ouvintes de minhas perorações na barbearia do bairro. Digo considerar um erro grosseiro dos governantes acharem algum brilho na criação de "política industrial", política voltada ao grande capital, política ainda tosca, pensando (seus formuladores) que poderemos criar uma burguesia nacional vigilante que aproveitará as oportunidades dos prices got wrong pelo governo. Mas eles/ouvintes/leitores terão bem claro que sou a favor de uma política que não carregue o viés nacionalista de acordo com a qual o governo encarregar-se-á da provisão (eu não disse produção) de bens públicos e bens de mérito. Cheguei a sugerir que a provisão pode ir elevando-se na linha das necessidades maslowsianas, chegando-se ao socialismo (epa!) nas estruturas de consumo relevante (e.g., educação, alimentação, vestuário, iatismo). Mas é apenas na provisão desses bens que apoio a política governamental? Claro que não, pois também a apoio nos fronts da redistribuição, do uso da própria política de fixação de impostos indiretos no sentido de diminuir os bens de demérito. E os impostos de renda progressivo e sobre heranças também progressivo fazem parte do pacote.
DdAB
A imagem é daqui. É um fractal ou um avião, um pássaro ou ainda o Super-Homem? Ou apenas um brócoli?
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2 comentários:
Adorei o comparativo!!! Adoro ler seus posts sempre que sobra um tempinho, aprendo muitooo!!! Bjs.
Muito obrigado, Michelle!
Fico feliz em perceber que não sou o único "equilibrista" neste mundo de evolucionistas escalafobéticos.
Suas visitas são muito mais que bem-vindas.
Abçs
DdAB
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