Querido diário:
No dia 7/abr/2014 (aqui), falei no artigo de Marcos Rolim (o que rola é cilindro?) em que ele aborda a questão da anistia de maneira absolutamente diversa da presidenta Dilma. E pego-a como "marco zero", pois parece-me que seu envolvimento com o assunto é maior que o meu e o dele. Hoje a página 18 do mesmo jornal tem um artigo de Luiz Cláudio Cunha, de pedigree assemelhado ao dele, uma cunha seria um objeto para abrir, figuradamente, mentes obtusas?
Ele, Cunha, começa bem, pois este blog já comentou várias vezes declarações de Paulo Brossard em seus artigos de segundas-feiras nesta mesmíssima Zero Hora. Em geral, diagonalizo o artigo de PB, mas li-o integralmente esta semana. E a ele se direciona Cunha, ainda no primeiro parágrafo:
Ao criticar a revisão da Lei de Anistia da ditadura, o experiente ex-ministro do STF Paulo Brossard tropeçou neste espaço (ZH, 7 de abril): 'A bomba do Riocentro estilhaçou os segredos e, num dado momento, o governo percebeu que a ele também interessava a anistia e, mediante transigências, ela foi aprovada'. Errado, ministro! [...] Brossard esqueceu que o ato terorista armadn pelo DOI-Codi do governo Figueiredo aconteceu em 30 de abril de 1981, 19 meses após a sanção da Lei n. 6683.
Então o velhinho enganou-se? E eu nem me dera conta? Para mim, Brossard segue sendo um empedernido reacionário cuja baba faz pensar na decrepitude da vida e na coerência de certas mentes com seu passado colaboracionista. Mas Cunha também tem os dados a que me referi by and large. Cito dois pares:
.a. a Câmara dos Deputados tinha 221 cadeiras da Arena contra 186 do MDP
.b. a votação passou com 206 votos a favor e 201 antagonizando-a.
Aritmeticamente, não sem bem que números são estes, pois houve 407 "cadeiras" e 407 "votos". Mas pensemos nos "votos". Houve 15 votos que fizerem o trespassing, isto é, aparentemente (se é que todos os demais votaram alinhados com seus respectivos partidos), 15 direitistas votaram contra a lei cuja data era desconhecida por Brossard de Souza Lima.
E daí? Cunha tem mais:
Cita novamente Brossard:
Agora, repetindo o que aqui escreveu em 2010, Brossard invoca a paz para defender a fossilização de uma autoanistia desenhada sob medida pelos quartéis: 'Anistia pode ser mais ou menos injusta, mas não é a justiça seu caráter marcante. É a paz'. [...]
E prossegue adiante, no outro parágrafo:
Certamente não é a paz de cemitério dos mortos pela tortura, nem a paz de espírito dos parentes de desaparecidos políticos, muito menos a paz da consciência de quem sobreviveu aos suplícios e aos gritos de dor nas masmorras.
Só que daí não se segue que aquela lei deva ser repensada. Primeiro, tem aquele trenzinho oba-oba que já ganhou dinheiro com os referendos, os plebiscitos, as consultas, as vaquejadas, os restos mortais de João Goulart, tudo aquilo. Depois tem a declaração de uma coroa devidamente torturada:
Assim como reverencio os que lutaram pela democracia, também reconheço e valorizo os pactos políticos que nos levaram à redemocratização.
Tá lá na outra postagem! Era a Dilma. Eu insisto que os meninos de rua é que são os verdadeiros necessitados de revisão das leis hoje em dia. Ou até menos: revisão dos empregos daqueles que deveriam zelar por elas, os promotores, os juízes, os governadores, os assessores, aquela turma toda. Moral da história: viva a bebida. Viva a contradição. Voto no Cunha, voto no Rolim (se é que já não o fiz), não voto no Brossard (se que já não o fiz, parece que ele era meu senadorzinho do PMDB), mas não apoio a revisão da lei, ainda que seja a favor da verdade, da tentativa dramática de ver a verdade dos fatos restabelecida onde eles foram falseados. E, no caso, é mais importante pensarmos no futuro dos meninos de rua do que no passado dos torturadores.
DdAB
P.S.
Danéris, Marcelo Danéris. É o sr. Marcelo Tuerlinckx Daneris, candidato a vice-prefeito pelo PT na eleição de 2008 naquela cidade de Porto Alegre? Este senhor assina um artigo na página 19 de Zero Hora de hoje. Seu tom ufanista deixa-me contrafeito. Mais ainda fico quando o ufanismo (não se discutia naquele tempo que as matas são mesmo verdes, o céu é azul) usa informação ridiculamente distorcida para tecer escabelados elogios ao governo que o emprega. Ele diz, sobre o Rio Grande do Sul, que "O crescimento do PIB foi de 5,8% em 2013 [...]", quando sabemos que foi mesmo, mas esta não é uma taxa substantiva em si (dobra em 10 anos apenas quem cresce 7,12% a. a.) e se acoplou a outra taxa razoavelmente negativa. E ainda tem coisa pior:
O Diário Financeiro, do Chile, comparou as taxas de crescimento do RS ao ritmo de crescimento asiático. Segundo a publicação, se fosse um país, seria a 60a. economia do mundo, definindo como uma pequena China no sul do Brasil. Isso é reflexo das ações ativas do governo estadual e do alinhamento com o projeto federal de desenvolvimento.
Pensei: só bebendo! Sendo ele o secretário-executivo do CDES-RS (que é isto?), imagino que haveria por lá algum economista com quem discutir estas ideias, este ufanismo e a isenção e maiores fundamentos daquele jornal que fala em uma pequena China!
P.S.S.:
aqui, escrevi:
[by the way, sempre fui contrário à constituinte, ao plebiscito sobre monarquia e ao referendum sobre porte de armas: apenas maneiras de dar dinheiro a sinecuristas que imprimem títulos eleitorais, cédulas, programas de computador, tráfico de influência, corrupção, essas coisas] [[by the way, nunca pensar que o MAL* pode ter-se originado em minha antipatia contra essas campanhas de voltar a reviver 'as taras da ditadura' e voltar a processar a milicada anistiada]. dizem uns que quem esquece o passado não tem futuro. eu não discordo, acrescentando que esse troço de brincar de pegar milico no século XXI por crimes do século XX é contemplar a história que se descortinou como tragédia e revivê-la como comédia! já temos uma indústria da anistia: pensões milionárias, muita entrevista na imprensa, eleição de políticos engajados no eleitorado dos descendentes das vítimas, livros com denúncias cada vez mais escabrosas, chantagem emocional prá cima da Ministra Dilma, grupos de interesse, uma tragédia.
Lembra do MAL*? O Movimento pela Anistia aos Ladrões. Um dia ele deverá ser extinto, mas este dia associa-se à inexistência de novos ladrões. Um dia, teremos decência e justiça. E aí o MAL* se cala.
Imagem: aqui, um cilindro decomposto em pilhas de cunhas.
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