09 janeiro, 2014

Encrenca Desenvolvimentista: Brasil/2014

Querido diário:
No dia 7/jan/2014 (até agora ainda não errei nenhum cheque, nenhuma vez escrevendo o novo ano), vi na TV uma notícia originária do Financial Times (não conferi na página) falando sobre o crescimento econômico brasileiro e dando dicas. Dizem que o Brasil bem poderia crescer mais do que as taxas rastejantes que lhe dão médias de longo prazo de 3,5% a. a., mas nos últimos anos, rastejamos a cerca de 2% anuais. Sabemos que, para duplicar em 10 anos, a economia precisa crescer a 7,12% a. a. Vamos chegar lá? O que precisamos para fazê-lo?

Entre outras medidas, o Financial Times repete um refrão que hoje vemos bastante festejado na imprensa local: precisamos substituir o crescimento baseado no consumo dos últimos anos por crescimento baseado no investimento. Em outras postagens já falei da falácia deste argumento: medindo o valor adicionado pela ótica da despesa final, PIB = DF = C + G + I + (X-M), consumo das famílias, consumo do governo, investimento e saldo do balanço em transações correntes.

No passado remoto, diziam-nos Conceição e Serra naquele "Além da estagnação" que a concentração da renda dos anos 1960s auxiliou o crescimento do final da década e início da década dos 1970s. Agora, dizem os arautos que estou criticando, seria o crescimento do consumo voltado às classes baixas que criou o "problema" da nova estagnação. Ou seja, houve uma redistribuiçãozinha de terceiro nível e alguns dizem que é o consumo que está travando o crescimento a taxas robustas. É cara de pau!

Com a equação da demanda final que mostrei acima, torna-se claro que para DF crescer, qualquer de seus elementos deve crescer (claro que a taxas diferentes, pois suas participações são diferentes). Seja como for, DF cresce se C cresce, se G cresce ou se I cresce. E também, claro, (X-M): e aí começam os problemas: por que não olhar mais cuidadosamente para o que o Brasil exporta e importa? Veremos superávit na balança comercial e escandalosos e persistentes déficits no balanço de serviços. E isto não vai mudar? E isto precisa de investimento? Claro!!! Especialmente investimento em formação de capital humano, não é isto?

DdAB
Imagem daqui. Tempos atrás, disseram-me que o jornal O Estado de São Paulo era o melhor do Brasil. Desesperei-me, pois não gosto do ponto de vista da direita (ainda que leia regularmente a Zero Hora), mas vim a entender que isto é verdade. E isto não o faz um jornal de esquerda, por suposto. O melhor jornal pode ser, logicamente falando, um mau jornal, não é mesmo?

P.S.: Na postagem do dia 7/jan/2014, há uma indagação do jovem economista Daniel Simões Coelho (aqui) sobre o modelo de insumo-produto. Transcrevo para cá e edito ligeiramente, a fim de facilitar a localização no motor de busca blog):
   Matriz de insumo-produto: lá no livro "Mesoeconomia", fala-se no precursor: Leontief, com um artigo de 1936. Mas lá mesmo, ele está fazendo aplicações para a economia americana e se atém à modelagem da economia fechada (isto é, com a demanda final também sendo endógena naquela função dos aij/xj). Ainda a "Mesoeconomia" exibe nas seções 4.4, 4.5 e 4.6 uma exposição razoavelmente teórica (ainda que com exemplos numéricos fictícios, a fim de facilitar a exposição e a compreensão) dos sistemas de quantidades (o mais conhecido), preços e trabalho/emprego.
   Creio que não encontrarás um texto longo que seja absolutamente "teórico" sobre a MIP,pois a parada quer mesmo é aplicação empírica. Para isto é que -talvez- Leontief superou as formulações de Marx e Walras.
   Por fim, parece-me que o maior de todos os livros teóricos que se detém no tema da MIP é o livro de Pasinetti de 1977 (também citado lá na bibliografia da "Mesoeconomia").

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu achei dois artigos que tentam explicar a questão de forma teórica, apresentando o contexto histórico e tudo. Acho que começo a entender e gostar da nova perspectiva.


Eu sou do tipo de aluno que preciso entender o porquê de fazer uma coisa antes de saber como fazer essa mesma coisa.

Pesquisei ainda as matrizes no site do IBGE e encontrei outras tantas com dados regionais.

Obrigado pelo jovem economista, kkkk


Abs

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

Aí, Daniel!
Viste minhas explicações sobre o "desatualizado"?
Quais são os artigos?
Eu esqueci um dos meus, que inspirou boa parte do conteúdo de nosso livro:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/economia/article/view/6224/5890
Abraços
DdAB