Há anos, fiz render espantosamente o exame das consequências lógicas de algo que, na realidade realmente real, não foi bem o que li nas vetustas escadarias do Museu Britânico. Lá não dizia algo como "Se você não contribuir para a manutenção do museu, teremos que começar a cobrar pelo ingresso". Primeiro, achei que era uma ideia a merecer uns bons tragos ("pints of bitter", como diria um deles): se tu não paga, então não podemo sustentá o cerviço e tu tem que passá a pagá.
Digamos que isto tenha ocorrido por volta de 1990-1995. Em compensação, lá por 1978, eu era estudanate do mestrado em economia industrial da University of Sussex, naquele mesmo reino que abriga os saques que os britânicos fizeram mundo afora. Ganhei muita coisa daquela minha primeira abordagem ao mundo acadêmico de grau de decência muito superior ao que se encontrava contemporanemente em Porto Alegre, onde eu já ganhara o grau de Magister in Artibus, ou melhor, ganhei o de Mestre (PPGE/UFRGS) e este de Master of Arts ganhei-o mesmo foi lá de Sussex, a chamada universidade vermelha.
Pois bem, uma das coisas que estudei naquele período difícil foi a teoria da formação do preço em diferentes tipos de mercado. Entre eles, claro que um economista industrial deve saber que as "utilidades públicas" devem mesmo ter o preço formado pelo custo marginal, ou alguma combinação razoável com o rateio para pagar os custos fixos. Note-se que a fragmentação infinita (cada milímetro adiante no trajeto é mais caro do que o precedente) é tão estapafúrdia como aquela de pressupor que pobre mora na periferia e, como tal, o preço da tarifa do ônibus deve ser calculado com base no custo médio da operação.
Em compensação, a p. 4 do jornal Zero Hora de hoje tem uma reportagem sobre o calor e a falta de água. Simplesmente a incúria é tão estapafúrdia no Brasil que ano após ano farta água para a lavoura e farta água para a negadinha usar como bem lhe aprouver (lavar automóvel, beber, banhar-se chez elle ou no clube, e por aí vai). Mas se fosse apenas água, ainda poderíamos capturar hidrogênio e oxigênio do meio ambiente, submeter ambos a baixas temperaturas e gerar água, não é mesmo? Claro que não, pois também há carência de oferta de energia elétrica. Dois serviços de utilidade pública ou privatizados ou dirigidos por políticos detentores de cargos em comissão.
Literalmente, diz o jornal numa das chamadas da matéria:
"Culpa é do calor e do consumo, diz empresa"
"[...] Segundo a Corsan (Companhia Riograndense de Água e Saneamento), o desabastecimento ocorre devido às altas temperaturas e ao consumo excessivo de água."
Em outras palavras, a turma dos cargos em comissão está certa de que, caso não haja calor nem consumo, então não faltará água. Só bebendo!
O que falta mesmo é:
.a. vergonha na cara para os governantes e
.b. conhecimento de promover o racionamento (dentro de limites razoáveis, nunca como instrumento de aliviar a incompetência geneticamente implantada nos políticos, ano após ano, geração após geração) por meio do estabelecimento de uma tarifa adequada.
DdAB
P.S. entre os rendimentos retóricos e sarcásticos daquele negócio que se não contribuíres espontaneamente para a manutenção do museu, haverá cobrança de bilhete de ingresso, surgiu meu artigo sobre a obrigatoriedade do uso da gravata: devemos usá-la, a fim de impedir que seu uso seja obrigatório.
Imagem? Rei do Baião do YouTube, claro.
https://www.youtube.com/watch?v=cWiJL0_yj9c
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